Festa de família, reuniãozinha de amigos na mesa do bar, batizado de criança, enterro de cachorro, fila de cinema, e até encontros casuais no meio da rua, lá estão eles, disfarçados de bons samaritanos. Ou não.
Esclareço que esta não é uma obra de ficção: qualquer semelhança com a realidade é mais do que uma simples coincidência. Nomes não serão citados para evitar possíveis constrangimentos. As técnicas de repressão citadas foram testadas com grande índice de êxito, mas a autora se coloca aberta a novas sugestões.
O pedante
Descrição: Inicia todas suas frases com “no curso de francês medieval que eu fiz...” ou “na minha última viagem a Londres eu...”. Não deixa passar a oportunidade de comentar detalhadamente o último filme do Almodóvar (mesmo que seu interlocutor não tenha visto a película) e simula espasmos de incredulidade quando descobre que uma pessoa não leu a obra completa de Bukowski. Tem opinião formada para todos os temas e assuntos, exceto futebol e a nova temporada do Big Brother, e sempre que pode critica o Paulo Coelho e o Código Da Vinci.
Como reconhecer: Anda sempre com um livro na mão, de preferência com um título complicado e autor de nome impronunciável. O tipo qualificado anda com um livro em língua estrangeira. Costuma usar óculos de aros pretos, e ostenta orgulhosamente aquele tom branco-escritório de quem não vê um solzinho há séculos.
Como se proteger dele: Apresente-se para ele como “Fulano/fulana, PhD”. Isso já será um balde de água fria para o ânimo do Pedante. Quando ele iniciar algum assunto que você ignora, diga que se recusa a discutir o tema desde a publicação do artigo de Hijstch (pode ser qualquer nome com muitas consoantes e poucas vogais que lhe vier à mente). No mínimo, isso vai calá-lo até a próxima vez que vocês se encontrarem.
O Experiente
Descrição: Sempre tem uma história para contar, um episódio super interessante que aconteceu com ele. Desde viagens incríveis a experiências amorosas complicadas, tudo, absolutamente tudo já foi vivenciado por este agraciado cidadão. Por isso ele não poupa relatos exclusivos de suas experiências sensacionais e sempre tem um "ótimo" conselho para dar.
Como reconhecer: Costuma se disfarçar bem em festas de família e mesas de bar. Denuncia-se quando pergunta “Quer um conselho?” e se entrega quando o conselho seguido não surte os efeitos desejados.
Como se proteger dele: Treine em casa o relato detalhado de uma operação de mudança de sexo, recheando o seu discurso com descrições de imagens, sem esquecer das metáforas e outros estilos de linguagem. Ou pergunte-lhe quando será lançada sua autobiografia.
O monopolizador hipocondríaco
Descrição: Esse tipo simplesmente desconhece o real sentido da palavra “diálogo”. Se você, inadvertidamente sacar um singelo “tudo bem?”, mesmo que a entonação interrogativa no final seja leve, o monopolizador hipocondríaco aproveitará a oportunidade para contar minuciosamente como sofre com suas dores nas costas, como ocorreu cada consulta médica sobre isso, além de relatar os constrangedores efeitos colaterais dos remédios receitados. E se por um infeliz acaso você tiver tentado iniciar esse diálogo na casa dele, ainda será obrigado a assistir o vídeo da operação na coluna do dito-cujo. Haja estômago.
Como reconhecer: Esta anomalia da comunicação se manifesta principalmente nos indivíduos na faixa dos 60 (sessenta) anos ou mais.
Como se proteger dele: Simplesmente desista do gentil e quase automático “tudo bem?”.