(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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30 outubro 2006

Os donos da conversa

Pegando uma carona no último texto da Ana, já perceberam como em qualquer reunião de mais de três pessoas sempre estará presente um ou mais dos tipos abaixo descritos?
Festa de família, reuniãozinha de amigos na mesa do bar, batizado de criança, enterro de cachorro, fila de cinema, e até encontros casuais no meio da rua, lá estão eles, disfarçados de bons samaritanos. Ou não.
Esclareço que esta não é uma obra de ficção: qualquer semelhança com a realidade é mais do que uma simples coincidência. Nomes não serão citados para evitar possíveis constrangimentos. As técnicas de repressão citadas foram testadas com grande índice de êxito, mas a autora se coloca aberta a novas sugestões.

O pedante

Descrição: Inicia todas suas frases com “no curso de francês medieval que eu fiz...” ou “na minha última viagem a Londres eu...”. Não deixa passar a oportunidade de comentar detalhadamente o último filme do Almodóvar (mesmo que seu interlocutor não tenha visto a película) e simula espasmos de incredulidade quando descobre que uma pessoa não leu a obra completa de Bukowski. Tem opinião formada para todos os temas e assuntos, exceto futebol e a nova temporada do Big Brother, e sempre que pode critica o Paulo Coelho e o Código Da Vinci.
Como reconhecer: Anda sempre com um livro na mão, de preferência com um título complicado e autor de nome impronunciável. O tipo qualificado anda com um livro em língua estrangeira. Costuma usar óculos de aros pretos, e ostenta orgulhosamente aquele tom branco-escritório de quem não vê um solzinho há séculos.
Como se proteger dele: Apresente-se para ele como “Fulano/fulana, PhD”. Isso já será um balde de água fria para o ânimo do Pedante. Quando ele iniciar algum assunto que você ignora, diga que se recusa a discutir o tema desde a publicação do artigo de Hijstch (pode ser qualquer nome com muitas consoantes e poucas vogais que lhe vier à mente). No mínimo, isso vai calá-lo até a próxima vez que vocês se encontrarem.

O Experiente

Descrição: Sempre tem uma história para contar, um episódio super interessante que aconteceu com ele. Desde viagens incríveis a experiências amorosas complicadas, tudo, absolutamente tudo já foi vivenciado por este agraciado cidadão. Por isso ele não poupa relatos exclusivos de suas experiências sensacionais e sempre tem um "ótimo" conselho para dar.
Como reconhecer: Costuma se disfarçar bem em festas de família e mesas de bar. Denuncia-se quando pergunta “Quer um conselho?” e se entrega quando o conselho seguido não surte os efeitos desejados.
Como se proteger dele: Treine em casa o relato detalhado de uma operação de mudança de sexo, recheando o seu discurso com descrições de imagens, sem esquecer das metáforas e outros estilos de linguagem. Ou pergunte-lhe quando será lançada sua autobiografia.


O monopolizador hipocondríaco

Descrição: Esse tipo simplesmente desconhece o real sentido da palavra “diálogo”. Se você, inadvertidamente sacar um singelo “tudo bem?, mesmo que a entonação interrogativa no final seja leve, o monopolizador hipocondríaco aproveitará a oportunidade para contar minuciosamente como sofre com suas dores nas costas, como ocorreu cada consulta médica sobre isso, além de relatar os constrangedores efeitos colaterais dos remédios receitados. E se por um infeliz acaso você tiver tentado iniciar esse diálogo na casa dele, ainda será obrigado a assistir o vídeo da operação na coluna do dito-cujo. Haja estômago.
Como reconhecer: Esta anomalia da comunicação se manifesta principalmente nos indivíduos na faixa dos 60 (sessenta) anos ou mais.
Como se proteger dele: Simplesmente desista do gentil e quase automático “tudo bem?”.
... E uma boa dose de sorte para escapar deles.
Bela

26 outubro 2006

Os Donos da Situação

Já reparou como sempre existiram aquelas pessoas que se sentem os donos da situação? Em qualquer lugar, é impressionante...
Claro que você pode ser o dono da situação num bom sentido, e isso é muito muito, obviamente.
Quando falo dos “donos da situação” para dar título a este texto, poderia ter dito: “gostosão da bala Chita”, “poderoso chefão”, “todo poderoso”, etc, etc... Enfim, vocês entenderam.

Vejamos então:

O folgado

Este aí não está nem azul se você está com pressa e quer passar no corredor. Ele simplesmente pára bem no meio para bater papo com o seu coleguinha, e de forma que, ou você aguarda mais 5 minutos, ou pede licença educadamente – e o folgado finge não te escutar – e aí você espera os 5 minutos da mesma forma, ou você passa encostando no sujeito, o cara ainda te olha de lado e você derruba seus papéis no chão – já que precisou fazer contorcionismo pra poder se espremer no minúsculo espaço que te sobrou.

(Atenção! O sujeito acima descrito também está solto por aí no trânsito!!!)

O poderoso chefão

Vogon

Claro que ele não é chefe de nada, trata-se de um aspone ou mero burocrata de plantão, que se acha O Deus, ou melhor, se acha não, TEM CERTEZA!!! Tudo com eles é mais difícil, dá mais trabalho, sem contar no arzinho de superioridade que exala deles e que você percebe no ato!

(Atenção! O sujeito acima descrito não está adstrito só à Terra... Lembram-se dos “Vogons”?)

O Bonitão da Bala Chita

Tarzan & Chita

Não adianta o cara ser feio. Ele simplesmente não se olha no espelho! E o pior: ele se acha! Como uma metralhadora, ele dispara seu “charme” para todos os lados, e não se toca que, quando você é gentil, está apenas sendo gente boa, e não dando bola! Pra completar, o “bonitão da bala Chita” (para os leigos, a bala Chita traz na embalagem uma foto da CHITA, a macaca do TARZAN) se acha um ser superior (só se for em feiúra, mas ele não sabe!), e por isso, acha que não precisa ser educado, comprimentar, tratar bem as pessoas, etc, etc.

(Atenção! O sujeito acima identificado pode ser encontrado em qualquer camada social, no trabalho, na escola, na faculdade, no clube, etc...)

O dono da rua

Além de ter aquele que se acha o dono da rua e estaciona em frente a garagem do seu prédio, pára em fila dupla ou até tripla, conversa no meio da rua com outro motorista com o carro parado e uma fila de outros automóveis atrás sem dar a mínima, o tipo “qualificado” de dono da rua que me irrita todos os dias é outro: simplesmente, ele se acha o dono de todas as vagas do quarteirão. Para isso, pega as chaves de alguns motoristas (“donos da rua” também) e estaciona os carros de tal forma que ninguém mais pode estacionar, a não ser os “mensalistas” dele...

Haja!

Ana.

Ps.: Que os machos leitores deste blog não me levem a mal! Todos os “tipos” acima vêm em 3 padrões: Barbie, Ken ou Bonequicha!

20 outubro 2006

Se é pra resumir...

Eu bem sei que os afazeres triviais do dia a dia acabam por consumir quase todo o tempo livre do qual dispomos para nos distrair. E eu, assim como muitos dos que vêem nos visitar aqui no blog, costumo passar grande parte do meu tempo livre lendo!

Apesar de passar quase o dia inteiro lendo petições, artigos, leis, notícias, etc., sempre termino um dia com um livro na mão. É um costume antigo, um ritual quase mágico que já virou rotina: não importa a hora em que eu me deite, é sagrado ler algumas páginas de um livro antes de dormir. Teimo em dizer que sem essa leitura diária eu nem conseguiria cair no sono, mas a bem da verdade, às vezes acordo de madrugada com a luz acesa e o livro na cara.

Então, voltando ao que eu estava dizendo no início do texto, às vezes nos falta tempo para nos distrair, e, para quem gosta de ler, simplesmente falta tempo para ler! Pois, para se deleitar com este singelo afazer é necessária uma certa preparação: é preciso conjugar silêncio, conforto, e, claro um exemplar de uma excelente obra literária, porque, sem esse último, o que era para ser um prazer acaba se tornando uma grande perda de tempo... Realmente, não há nada pior do que um livro ruim, mas, em compensação, também é difícil descrever as delícias que apenas um bom livro pode nos proporcionar!

O que me entristece é que existem tantos bons livros no mundo, muito mais do que eu poderei ler nessa vida, e é um grande desperdício de oportunidade eu não conseguir ler todos os livros que eu tenho vontade! Como seria bom se houvesse como resumir aqueles imensos volumes... Pensando nisso, imaginei como seria difícil a tarefa de resumir alguns dos grandes clássicos da literatura:

Guerra e Paz – Leon Tolstoi – 1340 páginas
Um rapaz não quer ir à guerra porque está apaixonado. Napoleão invade a Rússia. A mocinha casa-se com outro.

Os sofrimentos do jovem Wether – Goethe – 212 páginas
Rapaz sofre por um amor não correspondido. Não agüenta ver a sua amada noiva de outro e suicida-se.

Madame Bovary – Gustave Flaubert – 431 páginas
Um médico do interior se casa com um moça bem educada e bonita, criada num convento. Um dia eles vão a um baile da aristocracia. De volta à sua vida comum, ela entra em depressão, se endivida e arruma alguns amantes, até tudo perder a graça e ela se envenenar com arsênico.

Romeu e Julieta – Shakespeare – 223 folhas
Dois adolescentes se apaixonam, mas suas famílias são contra o romance. Um padre tem uma idéia idiota para tentar com que eles fiquem juntos, mas ambos não entendem o plano do padre e acabam se matando pensando que o outro tinha morrido.

Em busca do Tempo perdido - Marcel Proust - 1600 páginas
Um menino se entristesse profundamente por não receber um beijo da mãe antes de dormir. Quando adulto, ele come um bolinho molhado no chá e se lembra da sua infância. Ele frequenta muitas festas estranhas com gente esquisita e tudo termina num baile em que todos estão muito velhinhos.

Édipo Rei – Sófocles – 180 páginas
Rapaz mata o pai, casa com mãe e fura seus próprios olhos, tudo isso porquê ninguém prestou atenção numa profecia.

E o vento levou – Margareth Mitchell – 962 páginas
Uma garota rica e mimada apaixona-se por amigo de infância, mas não é correspondida. Ele se casa com outra. Todos ficam pobres, muitos parentes morrem. Ela se casa três vezes, e se descobre apaixonada pelo último marido quando ele não quer mais nada com ela.

***

Falem a verdade, perdeu toda a graça, não? Eu quero minhas 4.948 páginas de volta!

Bela

05 outubro 2006

UM BOM CONSELHO!

Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.
Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência.
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.
E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo." E ela responde: "Eu também não, meu filho". Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Que era ficção, mas hoje é realidade, na pessoa de Geraldo Bulhões, Denilma e Rosângela, sua concubina.
Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso.
Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.
Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!
Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.
Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios. O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta. Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso.
Autor Nizan Guanaes
Recebi esse texto de um amigo, Leandro Ribeiro, e combina perfeitamente com o momento que estou vivendo, a transição de empregos e a convivência com pessoas gananciosas que só pessam em dinheiro, querem cada dia mais e esquecem dos verdadeiros valores morais e da própria vida.
Resolvi compartilhar com vocês,
Beijos a todos,