(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
Um blog sobre uai, sô, véio, contos, causos, sentimentos, pão-de-queijo, crônicas, broa-de-fubá, cinema, literatura, fotografia, arte, poesia...
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17 dezembro 2009

Melô do Fim de Ano

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Melô do Fim de Ano

Pois assim têm sido meus últimos dias do ano...

RODA VIVA
(Chico Buarque)

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá

Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente até não poder resistir
Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá

A roda da saia, a mulata, não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata, a roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa, viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a viola prá lá

O samba, a viola, a roseira, um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa, faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a saudade prá lá...

***

Até mais ler.
(Semana que vem.)

Ana.
(Foto: Ana Letícia. Letra: Chico Buarque de Hollanda.)

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17 novembro 2009

Caridade ou Maldade? Manifesto contra os falsos bazares e liquidações

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R. Mutt

Era plena 4ª feira, chuvinha ameaçando cair na capital dos mineiros. Mesmo traumatizada com o banho frio involuntário do dia anterior, que me pegou desprovida de sombrinha, resolvi conferir o bazar de uma grife famosa na sua loja do Bairro de Lourdes. Este foi o primeiro dia do bazar, que terminou no dia seguinte, tendo sido anunciado em blogs de moda e twitter da marca como “oportunidade incrível” de se comprar peças de coleções anteriores com 70% de desconto, e ainda beneficiar uma instituição de caridade.

Até aí, tudo muito bom, tudo muito bem. Almocei mais cedo que o normal e fui com mais duas amigas. Chegando lá, nenhuma placa na porta da loja, nenhum “boa tarde, sejam bem vindas”, apenas uma vendedora, que nos percebeu meio perdidas no meio da linda e colorida coleção primavera verão 2009/2010, e disse meio debochadamente que o bazar era no andar de cima, sem maiores explicações, direcionamento, simpatia, nada. E se estivéssemos lá pela coleção nova? Mas... Continuemos a história.

A construção onde fica a loja é belíssima – uma casa dos anos 50 toda reformada, clean, em tons de branco, bege, e madeira de cor clara, contrastando com vidro e um lindo jardim de inverno. Seguindo a indicação da vendedora, subimos a escadaria e nos deparamos com uma saleta pequena e escura com 3 araras abarrotadas, muita roupa embolada jogada no chão e clientes revirando tudo. Até aí, nada tão estranho para um bazar.

O anormal mesmo eram os preços NADA amigos, mesmo com o álibi de doar para a caridade e os 70% de desconto, que só eram dados após cálculos feitos na única calculadora, dividida entre quase 50 clientes. Casacos e macacões de cores horrendas e tecido idem (um linho que, em razão da cor escura e desbotada ao mesmo tempo, mais parecia um pano de chão sujo), tamanhos enormes e desproporcionais, amarrotados, da coleção de 1900 e lá vai pedrada, pela “bagatela” de 1700 reais. Menos 70% disso dá o quê? 510 reais! Não do meu bolso.

Falando nisso, a única bolsa a venda no bazar era de TECIDO, saindo por mais ou menos 500 reais (com o desconto) – preço de uma boa bolsa de COURO na Equipage ou Arezzo, por exemplo. Chapéu de feltro de 380 por 120 reais. Na Zara tem chapéus também lindos e estilosos por 70 reais, em média. Estola de PELÚCIA de 1600 por 480 reais!? Na Renner tem por 69,90! Nem comento os sapatos tamanho 42. Oi?

Pensam que é só isso? Para completar a situação, além de não ter provadores individuais, não era permitido utilizar os do andar de baixo, então num corredorzinho mais ou menos escondido as moças vestiam e desvestiam essas “maravilhas” do último século (literalmente). Uma de minhas amigas comentou que parecia que os preços tinham sido majorados a níveis absurdos nas etiquetas, tudo para você se impressionar com os tais 70% de desconto, e depois, é claro, tomar aquele susto com o preço real – que ainda continuava nada justo por aquela peça démodé. Para falar a verdade, os mesmos preços que seriam pagos na loja sem liquidação, com todo o conforto, por uma peça da estação.

A falta de acessibilidade para deficientes físicos também me chamou a atenção. Tem escada pra entrar na loja, degraus para distinguir níveis no primeiro andar, e escadaria até o segundo andar. Nada de elevador ou rampas de acesso. Durante o tempo em que estive lá, havia uma cliente de cadeira de rodas que teve de contar com a ajuda dos 2 seguranças da loja para poder entrar, subir até o bazar, descer pra ir embora, etc. No mínimo, constrangedor.

Juro que vi um vestido laranja de seda, da coleção de verão 2008/2009, que na liquidação da loja do Shopping no meio do ano (na qual sobre os preços normais é aplicado um desconto de 50%) estava mais barato que neste tal bazar beneficente. Bonito o vestido? Sim. Mas ainda assim, caro. E só tinha um vestido de resto, sem opção de cores e tamanhos. Preferível comprar na liquidação do Shopping, não?

Caridade de verdade é alguém ter a coragem de comprar roupas feias como as que vimos lá no bazar; caridade da cliente para com a grife, claro. Roupa antiga se compra em brechó – e bem mais barata, diga-se de passagem.

Ana.
Texto e foto: Ana Letícia.
Revisão e testemunha ocular: Izabela Baptista e Renata Viana.


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10 novembro 2009

Cimento cozido

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Solzinho

O silêncio cega, mutila minhas mãos.
Aleijada, sigo no pasto: comer, dormir, acordar, trabalhar.
O ritmo da cidade engole e cospe sangue e fezes
No mesmo prato
Digere ratos, tritura fracos.
Oprimida, sigo por entre os que oprimo
Odiada pelos que odeio
Destemida, despudorada.
No mundo que não é de marshmellow
O chão fofo cede lugar ao cimento duro e cozido
Não há nuvens suficientes
O calor derreteu
Não há ácido suficiente
A pele descamou, o cérebro dissolveu
E o menino atravessa a rua de mãos dadas com o acaso
Desnudo, desnutrido, desavisado.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

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26 outubro 2009

Reflexo

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Reflexo

Tenho medo do escuro
Do vazio de dentro e de fora
Tenho medo do barulho que ensurdece a mente e cega a canção
Prefiro a dor ao nada
Pois se nada é, não há escolha a fazer
Quem ama o nada, alguma coisa lhe parece.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

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18 outubro 2009

Warning

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Perigo, eu posso voar
Vou correr até me afogar
Perigo, eu posso sonhar
Vou comer até me acanhar
Perigo eu posso ser eu
Atracar os pés no chão e enxergar que é preciso sentir medo pra gente andar.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

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05 outubro 2009

Cegueira

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Éli-Pê

Um dia uma folha me assustou, num branco pálido cegou minha mente, calou meus ouvidos e secou pensamentos. Muito a sonhar, mais ainda a trabalhar, nada a criar, exceto vidas ao alcance das mãos, exceto páginas cheias de nãos.
No dia seguinte e nos outros então, caminhei errante por pedras rolantes, escadas íngremes que nada ajudavam a dura aventura de vomitar palavras, cantos e contos. Os pontos finais, coitados, serviam apenas a frases malucas, que só sentido têm a quem não tem alma, só juridiquês.
A cegueira da folha branca um dia passou. Como num estalo, um verso brotou fujão, quase me escapa o pensar, escorria pelo lado direito que nem fumaça de incenso, preguiçoso ele de se deixar escrever.
Sou adepta da escrita e do grito, mas sem a ajuda do grande irmão, doutor em senhas e códigos, nada sou, nada faço, não nado, não surfo, não vôo. Não falo, não vejo, não ouço. Será?
Comecemos então:
- Asdfg, maiúscula, vírgula, ponto, deixa estar.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

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25 agosto 2009

Desejos

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Faça um pedido, eu vou te mostrar.
Um desejo apenas, que vou te brindar.
Faça o que eu faço, vou te falar:
Uma moedinha vou atirar.
Jesus pequenino, me faça um favor,
Atenda o meu pedido, uma boneca e uma flor.
Uma bicicleta, pro menino ao lado.
E que tenha sempre comida no prato.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

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17 agosto 2009

Muito ou Pouco

BH_ 015

às vezes amar parece muito
e às vezes amar é pouco
é muito pouco
(ou é o suficiente?)
mas quando só amar é pouco
(muito pouco)
não existem mais palavras
tão indefiníveis
ou tão definidas
tentadas
usadas
sofridas
Amor.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

12 agosto 2009

I.M.P.E.R.D.í.V.E.L

Dica pra galera de Sampa, que não pode perder este lançamento de jeito nenhum!


EGA: O que nem Freud explica.
"Karla Jacobina é poetisa desde que se entende por gente e seu plano para o futuro é continuar sendo até morrer de velha. Bicho-do-mato-grosso domesticado por São Paulo. Bacharel em Direito, mas esse é um segredo que pretende não deixar para inventário, pois levará para o túmulo. Filha adotada de Iemanjá, Odo-Iyá! Morou a vida em apartamentos, razão de suas habituais infiltrações. Poderia ser claustrofóbica, mas aprendeu antes do medo a desenhar linhas de chegada. Caju mancha e mentira também. É míope, um e vinte e cinco de cada lado, mas enxergar através de lente de contato comprada lhe deixa cega. Dança é uma faísca que escapa dela. Poesia é outra."
www.karlajacobina.com

Ana.

29 julho 2009

Muffins

Cupcake

Ontem testei a receita do "Whole wheat banana nut muffin", que encontrei no "How to eat a cupcake". Vira e mexe entro naquele site e fico babando nas receitas todas, já que olhar não engorda né?

Tive que mudar um pouco, pois me deparei com algumas situações adversas: falta de nozes em casa, ovo muito pequeno, bananas meio pequenas e não muito maduras, e o desconhecimento do que viria a ser "cramberries" (provavelmente alguma frutinha maravilhosa que não existe aqui no hemisfério sul), tendo que usar a boa e velha uva-passa no lugar. Quem não tem cão, caça com gato!

No final das contas, ficou delicioso e fez muito sucesso por essas bandas de cá! Além do mais, é saudável, integral, feito com fruta e não compromete a dieta.

Mas, vamos ao que interessa: a receita!

Muffin Integral de Banana com Amêndoas e Passas
(Rendimento: de 10 a 12 muffins.)

- 1/3 xíc. leite
- 1/4 xíc. óleo
- 1 ovo
- 1 1/2 xíc. farinha de trigo integral
- 1 xíc. farinha de trigo branca
- 1/2 xíc. açúcar mascavo
- 2 colheres de chá de fermento em pó
- 1/2 colher de chá de sal
- 1 xíc. bananas amassadas (mais ou menos 2 médias)
- 1 colher de chá de essência de baunilha
- 1/3 xíc. de uvas-passas
- 1/3 xíc. amêndoas ou nozes levemente torradas e grosseiramente picadas
- Cobertura Streusel, opcional (receita abaixo)

1) Pre-aqueça o forno em 200°C.
2) Faça a receita da Cobertura Streusel, reserve.
3) Unte com margarina de 10 a 12 formas próprias para muffin, de metal ou cerâmica, polvilhando farinha de trigo branca para não agarrar. Reserve.
4) Numa tigela grande, bata leite, ovo, óleo e as bananas amassadas. Vá juntando as farinhas, o açúcar, o sal, a baunilha, e por último o fermento em pó. A massa vai ficar bem consistente. Incorpore as passas e as nozes (ou amêndoas) picadas, misture bem, mas sem bater. Divida a massa igualmente entre as forminhas de muffin. Por cima da massa, despeje 1 colher de sopa de Cobertura Streusel, se for usá-la, em cada forminha.
5) Asse durante 20 a 25 minutos, ou até ficarem marrom-dourados. (Este tempo varia muito de forno pra forno, portanto, não se esqueça de testar com um garfo no meio do muffin: se sair limpo, está assado!)
6) Após tirar do forno, espere uns 5 minutos para desenformar. Caso esteja usando forminhas de papel dentro das de metal (ou cerâmica), desenforme imediatamente.

Cobertura Streusel

- 1/4 xíc. farinha de trigo branca
- 1/4 xíc. açúcar mascavo
- 1/4 colher de chá de canela em pó
- 2 colheres de sopa de margarina

Numa tigela média, misture a farinha, o açúcar e a canela. Corte em cubinhos a margarina e usando um batedor vá misturando tudo até incorporar bem, virando uma espécie de farofa crocante.

Observações: Confesso que ao bater, achei a massa do muffin um pouco consistente demais, parecendo massa de pão. Isso pode ter relação com vários fatores: clima muito seco, leite desnatado (pois não tinha do integral em casa), a banana era "prata" e não estava muito madura, etc. Então tive que aumentar, no "olhômetro", um pouquinho a mais de leite (cerca de 2 colheres de sopa a mais) e de óleo (mais ou menos 1 colher de sopa a mais também). O açúcar mascavo daqui de casa estava meio compactado, então creio que coloquei 3/4 de xícara ao invés de apenas 1/2 xícara. Mas mesmo assim, depois que bati, a massa ainda ficou bem consistente. Depois de assado, o muffin ficou perfeito! Massa boa, macia, na saborosa, na consistência e umidade certas!

Espero que testem e gostem da receita! Eu recomendo.

Ana.

Para ver mais fotos, clique aqui.
Para ler a receita original, clique aqui (em inglês).
Para dúvidas, deixe um comentário ou mande e-mail para falecom.mineirasuai@gmail.com.

Prato visto de cima

20 julho 2009

Tinta Preta

Porto Seguro, Bahia 173

Tantas palavras corrrem e a tinta escorre no tubo que roça com a língua entre linhas espaçadas de um caderno só. Afinal, é apenas um caderno, é apenas uma vida, uma caneta em sobrevida, que nem marca se vê mais. Se bem que diferença alguma iria fazer, já que a língua japonesa ou oriental que seja, dos confins de onde se originou meu artefato de escriba, não é coisa com a qual eu tenha intimidade.

E no interior de um quarto semi-escuro, a mão quase treme e teima em tecer porcas e pobres e desconexas letras, num desafio ortográfico para grafologista nenhum por defeito... O ponto vira traço, um pingo vira letra ilegível, não sei mais se é acento ou rasura.

Rabisco uma vírgula que nem pausa é mais.
Vira um ponto num ponto qualquer de aterrissagem da ponta fina de onde mina minha tinta.
Preta.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

15 julho 2009

Menino, eu vi!

Muro

Eu vi o menino andando à minha frente. Lá longe, a mãe do menino, esperando.
Eu vi o homem barbudo vindo, olhando o menino e a mãe do menino.
Eu vi a casa na esquina, a rua, carros passando, o muro baixo da casa e o portão branco, enferrujado.
Eu vi o homem barbudo, lá longe, olhando a casa da esquina.
Eu vi o menino parando, a mãe do menino parando e falando ao menino.
Eu vi o menino pedidno e a mãe ascentindo com a cabeça.
E o homem barbudo vindo, olhando o menino.
Eu vi o menino mijando no muro baixo da casa da esquina com seu portão branco, enferrujado.
Eu vi a mãe virando de costas, o homem vindo andando, olhando a casa da esquina e o menino a mijar.
Eu vi o tempo passando e o muro baixo da casa da esquina molhando com um brilho amarelo.
Eu vi o homem barbudo perto do menino. O menino parando de mijar.
Eu vi o menino correndo, o homem barbudo entrando na casa de muro baixo da esquina, abrindo e fechando o portão enferrujado.
A mãe do menino a ralhar.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

12 julho 2009

Entre pés e costelas

Objetos :-)

(ou: Devaneios sobre ossos quebrados alheios)

Sempre torci o pé e para mim isso sempre foi uma coisa "normal" e corriqueira. Sou completamente viciada em esportes e na escola jogava queimada, ginástica olímpica, corrida, futebol, natação, ping-pong, basquete, handball, vôlei... Não parava quieta e minhas muitas atividades físicas sempre causaram dores musculares e algumas leves contusões, nada que me prejudicasse muito.

Só que essa "normalidade" toda, um dia se tornou estranha pra mim, depois de uma conversa com minha tia, que é psicóloga. Este papo ocorreu após o seguinte acontecimento: estava em minha casa, num dia de folga do treino, rodopiando como uma louca meus fouettés an tournant. Eis que escorrego, viro o pé e caio no chão, da mesmíssima forma que eu já caíra inúmeras vezes nos treinos na escola de ballet. A diferença foi que a torção no pé foi bem feia, inchou muito, e por pura sorte não rompi todos os ligamentos do tornozelo (assim disse o ortopedista durante a consulta)...

Nesta época, minha vida estava uma loucura e não sabia onde iria parar com tanta gandaia, não sabia o que queria da vida, entre outras coisitas que permeiam a mente e a vida de alguns adolescentes tardios (como eu). Segundo minha tia, esta torção no pé simbolizou minha falta de rumo e acabou que, obrigatoriamente, me forçou a parar e repensar sobre minha breve vida, durante as muitas sessões de fisioterapia a que tive que comparecer a fim de andar e dançar de forma normal novamente. E não é que deu certo?

Pensando por este lado, faria sentido, então, alguém quebrar a costela quando se está passando por dificuldades emocionais, sentimentais, quando se está insatisfeito com escolhas que se anda fazendo, "amorosamente" falando... Pensem bem, o esqueleto humano é composto por 206 ossos (segundo a wikipedia), e o ossinho localizado no tórax - a costela - foi o escolhido por Deus para confeccionar a mulher, aperfeiçoando (em termos) sua criação original - o homem...

Religiões e devaneios à parte, na dúvida na dúvida é melhor prestar mais atenção no chão em que pisamos - e não fazer fouettés an tournant em piso com sinteco!

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

05 julho 2009

Terapia do Papel

O menino aprendeu a usar as palavras.

A terapia do papel continua, uma saga que não terá fim, ao menos não enquanto me restar tinta e caderno, ainda que não disponha de uma "Montblanc" ou sequer de um "Moleskine" (ambos virtuosos iniciados em "mo"!?).

Ando cheia da unha que cresce, obrigando o esmalte a ser substituído precocemente.
Ando cheia do porteiro azul e da cobra com gestos de bebê chorão. A mim não enganam, não perderei a razão.
Ando cheia das consultas e do soar do telefone, do aparelho ortodônitico e da gordura localizada.
Quero cuidar de patas quebradas, do amor que resiste.
Quero descansar à base de água de côco, sol, sal e mar.

Mas... Ainda estou aqui;
Ciao, vou ao bar.

Ana.
(Texto: Ana Letícia)
Foto de uma página da seção FOCO da Revista Caras, 2008.

23 junho 2009

Arrebatador (*)

Sem cabeça
(*) Texto original publicado aos 14.06.2007.

Vou parar de fingir que não estou nem aí. Vou parar de fazer ironias e dizer coisas sem sentido, e nunca falar o que eu quero de verdade. Vou parar de fingir que estou tranquila no meu canto e que não penso em você a todo instante.

Vou parar de fingir que não quero falar com você todos os dias e parar de fazer o tipo “ocupada todo o tempo”. Não mais fingirei que não fico todos os dias te esperando dar um sinal de vida, tomar mais uma pílula que seja de sua atenção.

Não vou mais fingir que não me decepciono, que toda a minha agressividade, ironia e sarcasmo não são em decorrência de faltas e atitudes.

Não falarei mais com você sobre coisas não corriqueiras, mas sobre como foi o meu dia, perguntarei como foi o seu, admitirei que faço planos, sonho, penso e programo um monte de coisas, erro, grito, xingo, faço xixi e tremo choro quando estou com raiva.

Vou parar de fingir que não me lembro do seu toque, da sua voz. Vou parar de fingir que não me apaixonei por você.

Quero ouvir todas as suas letras, não só as entrelinhas. Quero parar de decifrar símbolos, palavras, reações. Quero simplesmente ouvir que me quer e nada mais. Simples assim.

Vou te falar uma só coisa: esta não é só mais uma historinha de amor, dessas que a gente menciona pros amigos, filhos e netos, um caso, uma aventura, algo que morreu por aí.

Vou parar de enrolar e dizer de uma só vez: eu quero que seja arrebatador.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

26 maio 2009

Andares

Esquadros

Falta algum tempo que eu não sei quanto é.
Angústia é não saber de mais nada quando já se sabe muito.
Sobram lágrimas sobre os pés pintados que eu não sei onde vão.
Felicidade é saber
Amor é querer
Cotidiano é sofrer
Viver é morrer.

Ana.

(Ana Letícia: foto e texto.)

24 maio 2009

A Casa Grande

Casa Grande & Senzala

Ontem, Thiago publicou uma crônica intitulada "Arquitetura da Casa Grande", que por algum motivo me fez lembrar da notória briga entre os Ministros do nosso Tribunal Supremo (STF), a tal discussão que caiu no gosto da mídia e foi campeã de audiência no 'iutubiu'.

Na fazenda do meu bisavô (foto acima), empregado não entrava dentro da "casa grande", nem sequer subia a escadaria da varanda, que dava na entrada da casa. A comida deles nem era ali servida, quando muito, colocavam-na em marmitas ou pratos de metal lá embaixo, no primeiro degrau, o mais perto do chão possível.

Minha mãe e tia não podiam sequer aparecer ou brincar na varanda, pois "os homens" poderiam vê-las. E as ditas empregadas domésticas, da cozinha pra dentro da casa, não podiam passar. Eram proibidas até mesmo de levar os comes e bebes à mesa, onde a família se sentava e aguardava o almoço. Arrumar os quartos, então, fora de cogitação! Se assim o fizessem, sei lá, deviam ser até penalizadas com chibatadas, como se escravas ainda fossem... (Quem arrumava a casa, limpava o chão, colocava à mesa? Minha mãe e sua irmã, minha tia, oras!)

Imaginem então o quão próximo de nós está esta realidade discriminatória... De uma certa forma, é até fácil entender como o pensamento "racial" e "preconceituoso" se desenvolveu e foi incutido nas cabeças de grande parte dos brasileiros... Afinal de contas, Casa Grande e Senzala fomos, e em alguns confins do Brasil, ainda somos até hoje, infelizmente! Os da "alta sociedade" atual, que são da idade de nossos pais ou mais velhos, vivenciaram essa realidade muito de perto, quando crianças ainda, e para eles esse comportamento sempre foi passado como algo certo, natural, normal...

Por isso penso que ser muito difícil mudar isso de cima pra baixo... Educação começa do berço! As crianças é que devem ser bem EDUCADAS, humanamente falando, não só nas escolas, mas em suas casas por suas famílias também... Princípios, moral, caráter, respeito, igualdade, humildade, fraternidade, e amor ao próximo.
Fica chato bater na mesma tecla...
Mas falta AMOR no mundo.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

20 maio 2009

Os dentes e os trapos

A terra é redonda

O dia passa lentamente, as horas escoam pelos cantos da mesa, já nem sei onde estou. Minhas palavras, que não são poucas, mal são ouvidas, balbuciadas por mim nas horas de torpor. Em meio a tanta gente, vejo você em seu olhar leonino, penetrando entranhas e sugando minha carne com a ferocidade de um gatinho assustado querendo se aconchegar.

Do outro lado da rua, um pomar de águas-vivas sobrevive à sequidão sentimental, que atualmente cisma em jogar dardos com seu parceiro noturno, animador de festas, passatempo de andarilhos e agente inebriante de algumas mentes que se esqueceram de um dia brilhar. E, ao cruzar contigo, me deixo invadir pela onda de seus fartos cabelos. Submersa em meias palavras, curo a ressaca do dia que se tornou noite, após longos caminhos de fumaça vermelha e vapor de poeira estelar. Ignoro o veneno que me queima a pele, causado por viva água, bela e suculenta, fingindo gostar de sofrer, de rolar em chão de espinhos gelatinosos.

Uma missão cumprida na sujeira azul de um planeta chamado Eu, varrendo pensamentos e espantando carniceiros. Roubam a vida das águas, lhes retiram o sal. Sem suor, sem lágrimas, corro a seu encalço, lhe prendo as vestes sob postes e luares e tasco um belo de um beijo que nunca se esquecerá.

O mundo some e o dia acaba, esquecemos de tudo e falamos de um nada tão distante que nem sabemos da dor que se fez riso. Do branco do seu dente cariado ou do redemoinho que restou de meus trapos.

Ana.
(Ana Letícia: texto e foto.)

13 maio 2009

Sobre a "dita cuja" (gripe) suína...

Em meio às árvores...

Na dúvida é não facilitar...
Na dúvida é amar ao próximo como ama a ti mesmo.
Prestem atenção: como ama a ti mesmo.
Há um tom de egoísmo na pregação de Inácio de Loyola (e na doutrina Jesuíta)?
Já ouvi muita gente falar muita besteira sobre isso. Sempre discordei veementemente.
Egoísmo é importar-se com o seu vizinho só porque ele é pobrezinho e não pode ficar doente, pra não transmitir doença pra você!
Mas amar a si próprio é fundamental para que possamos amar o outro. Só assim conseguimos olhar o que tem lá fora: quando a gente se volta para dentro e percebe o quão frágeis todos nós somos. E é aí que enxergamos a única certeza que podemos ter em vida - a morte! E assim, todos somos iguais, vulneráveis, egoístas, incapazes de dizer "eu te amo" com amor verdadeiro, na hora que dá vontade. Pensamos em ações e reações, pesamos riscos, fazemos seguro de vida, carro, imóvel...
E assim, fazemos mal.
E assim, faz mal aquele que despeja lixo nos rios, polui o ar, faz mal não respeitar o direito do próximo, faz mal não amar, não se colocar no lugar do outro.
Menos preconceito.
Mais amor
Sorrisos
Aplausos
Cores.
VIDA.


(Clique para ouvir)

Ana.

(Foto e texto: Ana Letícia.)

10 maio 2009

Preciso dizer mais alguma coisa?

Mamãe

"Mamãe,

Você é tan linda, mais tan linda, que parece uma tolipa vermelia no jardim!"

(Eu, quando tinha 6 anos.)


Ana Letícia.
Foto: Minha mãe, 2008.

03 maio 2009

Cruzadas

Lua Gigante

E eu que nunca fui santa, um dia aprendi
A subir no salto e não cair em falso
Pés que se cruzam numa rua torta chamada amor.

E eu que nunca fui besta, um dia freira tornei
Na sexta-feira me atrasei, beata virei, num reza e lava sem parar
Mãos que se cruzam em prece e tocam o coração de quem passar.

E nós que somos tudo e não somos nada
Que somos juntos e estamos surdos
Calados no meio do barulho do mundo
Gritamos na rua torta pra ninguém escutar
Cruzamos os dedos e caímos juntos
E tocamos os pés com o luar
As mãos sob lençóis pescam paisagens e anzóis

Amor de dois
Dor depois.

Ana.
(Foto e texto: Ana Letícia.)

25 abril 2009

Natureza viva (morta)
simples tom em si maior
me faz ser menos eu
me faz ser menos tua
me faz ouvir o que eu não quero
e dizer o que eu não sei
se eu não sou eu
e se nem ao menos sei quem sou
aonde vamos chegar com tanto quiprocó?
sem um sorriso, uma cova de estar
um laço na estrela
um nó no meio do mar
não chego
não falo
não sou perfume, vinho, pó.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

17 abril 2009

Sombrinha ou guarda-chuva?

Dia de chuva...

Dia comum, como outro qualquer, a começar pelo tempo doido que tem feito neste mês, calor excessivo, chuvas fora de hora, etc. O trabalho nunca é de menos, sobra dia no meu diminuto tempo. Comi a maçã cotidiana ("eat an apple a day and keep the doctors away") e fui bater perna pra casa. Pessoas ainda implicam com minha insistência em caminhar... Emagrece, é de graça, 'desestressa' e é melhor que pegar ônibus ou pagar estacionamento, oras!

Justificativas a postos, tênis também. E a roupa própria de caminhante, óbvio. O mochilão carrega tudo que não deveria carregar: carteira, celular, iPod, roupas de trabalho, scarpin de salto, bolsa de maquiagem, pen-drive... A garrafinha d'água vai também - mas isso é necessário, certo? A função shuffle do meu music player costuma me pregar peças: tocar Sinatra logo após o Fat Boy Slim, por exemplo, ou uma clássica de J. S. Bach logo após um rock n' roll da pesada. Mas de vez em quando ele funciona muito melhor que qualquer DJ dos bons, e engata sequências fantásticas e nunca dantes imaginadas, com músicas que têm tudo a ver entre si, mas que nunca foram gravadas juntas num CD só. Neste dia, peguei uma dessas, e enquanto meu passo avançava, meu bem-estar aumentava e o set musical se encaixava com pensamentos, paisagens, sons urbanos. O cheiro de chuva recente aumentava minha a confiança de que escolhera o melhor horário para ir embora: logo após a chuva, o chão molhado, o ar fresco, as plantas limpas, enxurrada zero. Maravilha!

Na esquina da Praça, a libertina chuva desabou sobre o "Curral Del Rey". Enquanto muitos corriam em desespero, carros buzinavam, gente se amontoava embaixo das marquises, puxei triunfante minha sombrinha de dentro do mochilão (como um guerreiro saca sua espada) - uma mulher prevenida vale mais que duas, quase pensei em voz alta. Segui caminhando com a valentia de quem estava já na metade do caminho, empunhando o leve guarda-chuva de alumínio, e que confiava demais na auto-previsão temporal, de que os chuviscos seriam apenas uma pancadinha de verão e logo logo iriam passar.

Só que a tal 'pancada' virou rios e lamaçais... Quase tombei várias vezes, fiquei ilhada noutras, e por pouco não fui engolida por algum bueiro. O celular tocou num dos trechos mais críticos (claro, pois ele nunca toca quando você pode atender), quando a cachoeira - enxurrada - me impossibilitava de andar pela calçada e tive que subir a rua na contra-mão desafiando o trânsito.

Neste momento, tinha que atravessar uma larga avenida. O senhor de camiseta branca que caminhava sem o guarda-chuva amarelou no canteiro central, em frente à pororoca do Rio Amazonas que tomou o asfalto, deu meia-volta e me recomendou que fizesse o mesmo. Vá por outro caminho, por aqui não dá. Segui em frente. Até eu fiquei abismada com a destreza com que driblava as ondas do "rio", não conhecia este meu lado pescadora do "Velho Chico"!

Consegui alcançar a outra margem. E aí?
E aí que chuva simplesmente PAROU no exato momento em que pus meus dois pés na calçada, do outro lado das cataratas do niágara, nenhuma gota a mais caiu do céu, as enxurradas secaram imediatamente, e o que antes era um rio, nem riacho ficou.

O resultado, em que pese a maquiagem intacta: cabelo desgrenhado, nenhum arranhão, alguns espirros na manhã do dia seguinte, muitas roupas e sapatos e tênis e mochila molhados, mas a certeza de que poderia ter morrido afogada numa enxurrada, como se já não bastasse ser chamada de pintora rodapé!

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

06 abril 2009

r.a.r.e.f.e.i.t.o.

Soberbo

a cegueira do silêncio da noite
te nega e custa a chegar

não quer o gosto do oposto, o jeito do não
abraça o chão
inflama o vermelho, queima, dói
faz cortar
e não me fale de flores quando as dores insistem em ter razão

joga os dedos ao vento e o espera
como um alento para a cara secar
pútrido e abatido, parado e sofrido, ele chega
sem nem assoviar
derrete em carne a pele - parafina e pó-de-arroz
estanca a cicatriz com estopa de algodão-
-doce ilusão
a casca se quebra
tinge rubros cabelos e lençóis
levanta poeira e o elo liquefeito
é raro efeito
desfazendo-se em tuas mãos

com licença, é preciso sorrir
na esquina compre pílulas de felicidade
torne a dormir.

Ana

(Texto e foto: Ana Letícia.)

24 março 2009

Impossibilidades Reais

Fitas

Eu nunca não tenho nada a dizer, mas sou bom ouvido.
Só que ouvir às vezes cansa.

Humor intalado, amor enlatado, às vezes é bom usar um abridor, girar a torneirinha e deixar fluir. Sai casca, sai sangue, sai lágrimas, sai dor...
E vai embora pelo ralo.

Escorre um beijo no canto da boca, molha o molho do tom maior, que cai na clave de sol fazendo chuá.
Toca o sino pra parar de chorar.
Dia de oração, é dia de respirar.

Homenagem aos dias que se foram, saudades dos que estão por vir.
Se chorei ou se sorri, tudo vale à pena, se a alma da pequena, inflada de poesia, flutua por aí numa nau de emoções vividas, caras partidas e braços torcidos.

E chego à conclusão: amar nunca é demais.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

16 março 2009

Nhac!

Pão torrado com queijo, alface, ovo, tomate e bacon. Um pouco de maionese para temperar. Voilá! O melhor sanduíche do mundo, bem ao alcance das mãos. Cai bem beber uma tulipa de chop bem gelado, ou um vinho tinto na temperatura certa, pra acompanhar esta perdição...

Duvidam?

Preguiçosos de plantão, madames de unha feita, saiam já da dieta e corram à cozinha. Vamos à receita:

Você vai precisar de:

- 2 fatias de pão (ciabatta, pão integral, caseiro, etc. Qualquer um serve, desde que possua massa firme e gostosa);
- 4 fatias grossas de tomate (prefira o tipo italiano, que é mais carnudo e tem pouca acidez. Mas se não tiver, qualquer um serve!)
- 2 fatias finas de bacon (compre daquele que já vem fatiado, daquela marca conhecida)
- 2 folhas de alface (crespo, roxo, normal, qualquer um serve.)
- 2 fatias Queijo (de preferência um que derreta bem - ou seja, ricota e derivados estão fora!)
- 1 ovo
- maionese

Primeiro torre as duas fatias o pão até ficarem douradas e crocantes. Derreta o queijo como preferir, no microondas ou numa frigideira no fogão. Despeje o queijo derretido em cima de 1 das fatias do pão. Reservve.

Na outra fatia, passe um pouquinho de maionese e cubra com as 4 fatias de tomate.
(A função da maionese é apenas para fixar o tomate, é bem pouca mesmo. Então, quem não gostar - como o
Allan - pode substituir por qualquer queijo cremoso capaz de exercer esta função.)

Frite o bacon.
(Importante: não use gordura para fritar o bacon, a não ser que queira ter um infarto já-já! Faça o seguinte: no microondas, cubra uma "pirex" de vidro com 2 folhas de papel toalha. Por cima, as fatias de bacon, e em cima delas, mais 2 folhas de papel toalha. Leve à potência máxima por uns 2 minutos e meio. Pronto! Fica crocante e saboroso, e a gordura sai no papel.)

O bacon vai por cima do tomate, e depois dele, a alface. Frite o ovo deixando a gema molinha. Deposite-o cuidadosamente sobre a alface. Por último vai a outra fatia de pão, que já está com o queijo derretido.

Para dar um toque de chef, parta o sanduíche ao meio e separe uns 2 cm uma metade da outra. Isso fará com que a gema estoure e escorra por todo o sanduíche. Acredite, é isso que o faz ficar TÃO bom.

COMA IMEDIATAMENTE!

Esta receita eu aprendi no filme "Spanglish". Já fiz inúmeras vezes e é SEMPRE um sucesso. O maior segredo é usar ingredientes frescos e de boa qualidade, e cuidar para que a apresentação do prato seja igualmente apetitosa.

Ana.

*** Update - 20.03.2008.

Gente, como já foi dito acima, conheci esta receita no filme SPANGLISH. Uma das personagens centrais é um chef de cozinha (Adam Sandler - fazendo um papel sério, diga-se de passagem), que num determinado momento, prepara sua versão do MELHOR SANDUÍCHE DO MUNDO - que é a receita publicada aqui.

A receita foi criada especialmente para o filme pelo chef Thomas Keller, que treinou Adam Sandler para o filme.

Óbvio que fiquei com água na boca e corri pra cozinha testar... Quem provou, gostou!

(Receita: Thomas Keller. Foto: internet)

09 março 2009

Ali

I am sailing

Me deixa dizer que não estou nem aí
Não estou nem aqui
Quanto menos ali
Me deixa esquecer o que senti
O que sei e o que não quero saber
Me deixa querer viver sem dormir
Não ouvir nada além de ir
E vir
Me deixe só
Sentidos
Arrepio nos ouvidos
Alegria boba
Um mergulho num mar de olhar
Saltarei piscando
Quem sabe voar?
E correndo vou
Até aí.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

02 março 2009

O Começo do Fim

Give me the light

E se a vida começa agora, o passado foi um ensaio.
Marionetes esquecidas num palco de dor e cor. Vimos brilhos e luzes, vestidos, pétalas de cor. Mas não estávamos vivos: manequins de vitrines sem coração... Não conta.

E se o ano começa agora... um, dois e... já!
(Aguardo acontecer.)

Tudo permanece igual, intocado. Ciscos de poeira pairam sob os raios da lâmpada halógena, acima de nossas cabeças. Nem um pio. Nenhuma alma. Apenas um cachorro molhado me encara, com ar de abandono. Cheira a beirada do vidro, e o focinho molhado encontra só cimento frio. Eu, impassível. O canino faz um muxoxo, franze as orelhas e crocita desesperado. Nada. Olha em torno, olhos de gato rompem o silêncio. E lá vai ele, se distrair com novas aventuras.

Sinto um cheiro doce inebriante. Será este o cheiro do mel? Algo coça meu nariz... Atchim! Pimenta, só pode ser. Um movimento em falso, dispara o alarme. Manequins também querem viver! Não apenas brincamos de faz-de-conta-que-é-assim.

Temperamos o foundue de nossas roupas com a mistura de sonhos e pulsos vibrantes. E a luz que cega a noite tromba em outros pés e outros cheiros. Tropeço por várias vezes, desacostumada a caminhar.

Será que viver é assim?
Cair, levantar?
Ensaiamos o futuro, vivemos no passado.
E o presente, sempre ausente, cai como um raio.
Relâmpago chega e já foi.
E se a vida começa agora...

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

17 fevereiro 2009

Dois

Flor de espinhos

Excito linhas

Enxugo rugas

Endureço mamilos
Pistilos em flor

A boca que umedece
Me aquece

Transpira o que é do bom

Cavalga com deuses
Desce ao inferno
Riso, choro, poesia, música

Silêncio.

Dois. Pois, sejamos.
Sois.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

03 fevereiro 2009

Memorial

Mosaico, quebra-cabeça, ou jogo da memória?

Temo pela memória dos faróis, entes frios e empostados, vendo tudo quanto há, até o homem a pastar pães amassados, até mães desmanteladas. São asas quebradas de pássaros sós.

Temo pelo som que nunca ouvi, tremo pelas melodias dos vitrais empilhadas nos lençóis da sua cama de bilhar, manchada pelo fungo, pelo fundo do meu poço que empoçou em sua mente, e não te saiu da cabeça. E não pôde dormir mais.

Pilhei uma quimera da horta do rei. Gravei um escudo em cada ponta dos dedos. Impressões digitais padronizadas em polegares estranhos... Escadaria em paredes? Não, notas e gestos particulares, como processos mnemônicos para não esquecer o que ainda está por vir -- explico, ainda atônita, já que pleonasmo demais causa excesso às vistas.

Vísceras encharcadas relembram DNA derramado em mesa de estar, noite anterior, calafrios e caipirinhas. E o virol do esquecimento cobre, impiedoso, quem não sabe nada e de tudo se despede, sem saber se já foi ou se ficou. Mais ou menos como postes e faróis, inanimados, empertigados, empoeirados seres invisíveis, imóveis, hiatos.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

28 janeiro 2009

Butecando

Uvas?

A boca queima o que está dentro do estômago. E o garçon? Congelado em cima do bar, onde os pães-de-alho não têm alhos, mas sim tomate seco. Peço dois, traço três. Gentileza da casa de pimenta no cacho.

Estrupício decide, então, o reino pelo gabola, e os sem-noção apagam as luzes que alumiam apenas asas de mariposas rodopiantes. Sozinhas no escuro, cantam melodias de comédia em pó. E haja ouvido para quem quiser escutar.

Só não se sente ao lado, ali, naquela mesa do bar.

Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)

***

Extra! Extra!

Darío Velasco expõe no dia 30/01, em BH na 4ª Edição do Quadrinho Nacional!

(Acesse também o Na Capa e leia a matéria sobre ele na Trapiches.)

20 janeiro 2009

Se A, então B

Filosofia de banheiro

Sonhei com números, acordei dividida.
Multipliquei dúvidas por aliterações
Dividi o sonho entre dor e paz.
O que me restou?
Paixão e sentimento exponencial
Amor: número primo, indivisível.
A raiz quadrada do sonho se desfaz
Sobra sexo, sono, som, fumo
Atos cotidianos que tendem ao infinito
Acordar, urinar, continuar
E sonhar acordada com cifras e milhares de milhões
Acasos formam efemérides e me dão noites sem dormir
De cor
Decoro
O coro
Decifro números, incógnitas e palavras
Frases lógicas brotam
Intrínsecas ao ser ou não ser
Senão, nada mais irracional que
Não estar
Não ser
Não te ter.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

15 janeiro 2009

Artesão

BH_ 099

Suspira. Olha para longe - ignora minha presença. Acaricia o bigode e alguns fios apenas de sua barba, meticulosamente toca em cada um, arrumando-os, reposicionando o que já não é muito organizado. Ajeita na frente de si o caderno, em posição exatamente perpendicular à borda da mesa. Ao lado, uma xícara de café frio repousa, a colher suja pende para um dos lados. Mais à frente, cinzeiro, isqueiro e maço de cigarros espreitam, pacientemente - como eu.

Alisa a folha escrita. Acaricia as palavras ali deixadas, amantes guardadas como um tesouro. No plural. São centenas de folhas e dezenas de cadernos, menores ou iguais a este.

Um brilho no fundo do olhar faísca ideias, que rastreia sobre o papel com a caneta que ganhou de brinde promocional. Gentileza para uns, salvação para outros, dependentes das letras e dos escritos - uma caneta, dez, vinte, nunca é o bastante.

E assim, vez por outra produz maravilhas - outras, nem tanto - em vocábulos fonéticos, frases e orações. Por horas a fio, sob a luz do abajour, sem sair do lugar, viaja pelos séculos, vai e volta a terras longínquas e... continua aqui.

Artesão de palavras. Escritor. Segue seu caminho de pautas, margens e pingos nos is.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

02 janeiro 2009

Em pílulas

Miudeza

Eu não tenho um ângulo bonito
Não tenho paz
Não tenho pás
Nem sei como se faz
Ou se é atrás.
E se você não tem lóbulos
Dê-me logo meus glóbulos
De açúcar para remediar
Minha falta de ângulo
Minha falta de dor
De cor
De amor teu.
Quero gotas maiúsculas
E coisas minúsculas
Para guardar por entre minhas curvas
Dentro de meus retângulos circunflexos
De sentimentos convexos
Ósculos e amplexos
Que um dia você me deu.

Ana.