(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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29 agosto 2004

Só prá não perder o costume...


Banca de frutas do Mercado Central, Basílica de Lourdes, Centro Cultural (antigo museu de Mineralogia), Museu Histórico Abílio Barreto e Parque Municipal.

E por falar em costume bem mineiro, que tal um passeio pelo Mercado Central? Para quem não conhece BH, vou resumir aqui o que é o nosso MC: imaginem um imenso galpão (que ocupa uma quadra todinha), com gente de todo tipo, e lojinhas que vendem de tudo. Imaginaram? Não, eu acho que vocês não entenderam: quando eu digo “de tudo”, é TêÚDêÓ meeeeessssmoooo! De filhotes de animais a pedras semi-preciosas, de temperos e ervas de todo canto do mundo a rolo de fumo, de cafeterias a “butiquins”, de comida para peixe a chocolates e especiarias, rolhas e garrafas, vidros e latarias, colher pau e pau de canela.... Ah! Agora sim deu pra sacar, né? Mais ou menos? (Não vou continuar, senão encho a página inteira.)
Mas eu ia dizendo sobre o passeio ao Mercado Central. Hoje eu fui lá com meus pais, que vão todos os domingos comprar temperos e fazer um “lanchinho”. Após comprarmos alguns vidrinhos de temperos e queijo canastra (huuummm delícia de Minas!), resolvemos comer um lombinho na chapa com jiló. (É jiló mesmo, viu? Daquele que você dá pra passarinho comer.) O botequim lá do MC é uma piada. Não tem mesas nem cadeiras, fica num corredor e todo mundo grita: do freguês que faz seu pedido ao atendente, que solicita ao outro atendente o pedido feito. Resumindo: são dois balcões, um do lado, outro do outro. O povo conversa alto, feliz pelo curioso atendimento, pela cerveja gelada, pela comidinha deliciosa, ou mesmo para se fazer escutar em meio a tanta gritaria. Detalhe: é tudo muito barato, mas super bem feito. Os pratos são preparados na sua frente, numa chapa devidamente engordurada e quente. É um local tradicional de encontro dos mineiros, bem como dos turistas que visitam a cidade.
Hoje, enquanto esperávamos nosso lombinho com jiló, um senhor que estava ao nosso lado puxou papo: uma “figuráça”, de chapéu de boiadero, porta óculos no cinto, um semblante muito sofrido de gente “da roça”. Ele disse que era da Bahia, do interior, que a gente podia se servir do prato dele (contrafilé acebolado com jiló) e que deveríamos pedir ao rapaz da chapa para fazer nosso lombo beeemmm passado.
Senhor: “É um périgo comer carne de porco mal passada! O dotô me disse notro día, quando fui fázê uma consulta, num sabe? Póde dá bicho!” (Tentem ler com sotaque bem nordestino).
A gente respondeu cordialmente, concordando com o senhor.
Ele: “Esse povo daqui du mercado num passa muitcho bem passadim não, a rente pede, mar eles num faz direitcho.”
Papai concordou, devolvendo o prato ao atendente e pedindo que fosse passado novamente na chapa. E pegou um pedaço de carne do prato do senhor bahiano. E ele continuou, dizendo que tinha 4 filhas que moravam aqui em BH, que ele gostava muito daqui, mas não de prédio de apartamento, pois se sentia muito preso. Perguntou se a gente era daqui mesmo, pois ele só conhecia uma pessoa que era “nascida e criada” aqui, que vinha a ser o seu genro. Se espantou quando dissemos que sim, éramos daqui sim. Achou o máximo! Quando chegou nosso prato já bem passado, serviu-se de nossa carne bem rapidamente, e comentou que “Agora sim, ta muitcho boa!”. É impressionante, cada figura que a gente vê naquele mercado!
E para que vocês não fiquem pensando o contrário: é muito bem freqüentado, viu? Artistas, jogadores de futebol, “gente da alta”, todo mundo vai ao mercado. Mas ainda assim, tudo é vendido com preços excelentes, muito barato!

Bem, fico por aqui com a minha dica de BH, só pra não perder o costume de contar um pouquinho mais dessa nossa cidade, que é uma verdadeira miscelânea de raças e culturas.
Ah! Querem mais dicas sobre BH? Tentem no Idas Brasil!
Espero que tenham gostado! Beijos!


Ana Letícia