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03 abril 2007

Livros: Índia, Alemanha e Afeganistão

Ao abrir um livro, adentramos num mundo desconhecido, no qual podemos nos identificar com personagens e situações, ou apenas fantasiar, aproveitando para fugir um pouco da realizadade. Enfim, isto é o que um bom livro promete...
Hoje resolvi dar uma de crítica literária fazendo breves observações sobre alguns livros que eu li recentemente, ambientados em locais bem distintos: Índia, Alemanha e Afeganistão.
O primeiro dos livros da lista chegou às minhas mãos por meios tortuosos: minha irmã o deu de presente de aniversário para minha mãe, e eu, sorrateiramente, o peguei para dar uma folheada e não consegui desgrudar até terminar (durou quatro dias)! O segundo, eu estava aguardando a tradução para o português para ler, pois já tinha ficado sabendo dos prêmios literários que recebeu no exterior. E o terceiro, peguei emprestado, após muita insistência e recomendações.
Paixão Índia (Javier Moro)
Editora Planeta
Anita, filha mais velha de uma humilde família de Málaga, Espanha, começou a trabalhar aos 14 anos como dançarina em um teatro boêmio. Até que um poderoso rajá indiano se apaixonou por sua graça e beleza e decidiu transformar a sua vida e a de sua família para sempre.
Este livro conta a história verídica de Anita Delgado, a mulher espanhola do último rajá de Kapurthala. O excelente trabalho de pesquisa do autor tornou essa romântica história ainda mais envolvente, acrescentando importantes dados biográficos dos personagens e da época em que se passam os acontecimentos, os últimos dias da esplendorosa e exótica índia dos rajás. Interessantíssimas as fotos acrescentadas nesta edição, pois nos mostram mais uma vez que nenhum detalhe do livro foi inventado, que seus personagens existiram de fato, com seus dramas, caprichos, decepções e momentos de felicidade. Além de muito bem traduzida, esta obra traz uma visão européia da índia do fim do século XIX e início do século XX e da influência do ocidente na vida e nos costumes orientais, culminando com sua independência e o desaparecimento dos fastos e excentricidades dos rajás. Uma leitura imperdível!


A menina que roubava livros (Markus Zusak)
Editora Intríseca/Edição 2007

A mais recente obra do jovem autor australiano que acaba de ser traduzida para o português. Este livro nos conta a história de Liesel, uma pequena órfã da Alemanha nazista adotada por uma família pobre às vésperas da eclosão da segunda guerra mundial. Para superar seus traumas de infância, Liesel conta com a compreensão e o carinho do pai adotivo, um pintor e acordeonista que não se filiou ao partido nazista, seu colega e vizinho Rudy e um inesperado amigo, Max, um misterioso judeu escondido num porão. E, claro, também há o papel desempenhado pelos livros e pelas palavras na vida de Liesel, fonte de conforto e poesia em todos os momentos de sua trajetória. Uma história humana e calorosa, contada com muita originalidade, a começar pela narradora, a prória Morte.


O caçador de pipas ( Khaled Hossein)
Editora Nova Fronteira

Este livro é a grande vedete das listas das publicações mais vendidas desde o ano passado, e fui conferir após inúmeras recomendações de amigos. Decepção. Como não gosto de largar um livro pela metade, terminei de ler a duras penas. No início, até que é interessante, mas logo cansa, pois os personagens principais são enfadonhos, covardes, desprovidos de caráter e carisma, totalmente sem interesse. O autor simplesmente não consegue dar vida aos personagens e traduzir seus sentimentos, não consegue construir um liame, uma identificação entre leitor e personagem. Ademais, há um outro defeito insuperável no livro: a falta de harmonia da narrativa. O livro começa lento, arrastado, sem muita ação, durante a infância e início da adolescência do narrador, e, de repente, flui com uma tremenda rapidez. Passam-se anos e anos em poucas linhas, em total desacordo com o tom inicial da narrativa. Outra coisa que engana é o título: não pense que por trás da inocente capa laranja-avermelhada se encontra uma história bucólica e água com açúcar. Decidamente não. Há cenas de violência sexual, tentativa de suicídio infantil e outros temas indigestos e mal explorados pelo autor. Agora, resta o mistério de sua relutante presença nas listas de best-sellers. Acho que está vendendo muito porque o Afeganistão está na moda, pelo menos em se tratando de literatura de varejo, pois encontramos atualmente os seguintes títulos com destque de vendas: O livreiro de Cabul, Eu sou o livreiro de Cabul, Mulheres de Cabul, As andorinhas de Cabul, Cabul no Inverno, além da insossa edição ilustrada do Caçador de Pipas (difícil acreditar que isto está vendendo bem. Livros adultos com ilustração? Uma tremenda furada!) Eu ainda continuo achando que a maioria dos best-sellers só marca presença nas listas dos livros mais vendidos devido à propaganda, e não necessariamente por sua qualidade.
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Para quem se animar, ficam aqui essas idéias.

Bela