(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
Um blog sobre uai, sô, véio, contos, causos, sentimentos, pão-de-queijo, crônicas, broa-de-fubá, cinema, literatura, fotografia, arte, poesia...
* Agora em novo endereço: www.mineirasuai.com *

30 janeiro 2008

Sinuca de Bico

Sinuca!

Se você pensa que é só brincadeira
Peraí meu irmão, que tu tá errado
Entrei numa sinuca de bico de bobeira
E acabei saindo todo atazanado

Pode crer colega, fui jogar com uns caras feras
Numa maré de azar - você pode acreditar
Apostei tudo que eu tinha na carteira:
O cachorro, a mulher, a empregada

O cabra veio com o taco diamante
Me esnobou, jogou tudo e mais um pouco
Perdi a fé... Perdi a mulher amada
E no fim paguei ainda a cachaça!

E tem mais coisa, tu nem vai acreditar
Embriagado - desesperado - desorientado
Apostei a gema preciosa que sobrara

Sem as calças sem a carteira e a cabeça furada
Aqui estou:
Sem vida
Sem filha
Sem nada.

Ana.
(foto e texto)

28 janeiro 2008

Estação, ferrovia, estação

Ouço um barulho muito alto soando longe, forte e vigoroso. Parecia um apito. E era: o trem iria partir. Corri pra estação, que eu cismava de chamar de "rodoviária". Ferroviária, Ana, ferroviária.
A máquina, toda antiga e lustrosa, uma panela de pressão gigantesca e antiga, bufava vapor com cheiro de óleo queimado. A criançada toda empoleirada, os ambulantes vendendo cocada e entregando papéis, alguns vestidos com roupas antigas, de época. Outros sorridentes, tentavam seduzir pelo carisma. "Vamos dar um passeio de van quando chegar lá, doutor! Senhorita bonita, você vem também, viu?" Não, obrigada. Eu nem me dava o trabalho de responder. Nada daquilo me era novidade, mas trazia à mente lembranças de dias não tão distantes. Memória olfativa, visual, de sensações de um tempo em que tudo parecia mais fácil e mais incerto, mais feliz e mais nebuloso, ao mesmo tempo de maior expectativa... E como poderia prever que lá estaria eu outra vez?
Vagões de madeira, bancos duros e estreitos. Será que o povo naquela época era mais magro? Ou será que era mais gordo, e que aquelas poltronas eram somente para uma pessoa? Pensei. O rapaz que marcava os bilhetes informou que as cadeiras almofadadas já tinham sido todas ocupadas, e me contentei com aquele retorno no tempo. Afinal de contas, trem não balança tanto assim.
Os olhos, tais como câmeras nervosas de paparazzi em ação, não perdiam um ângulo sequer. De um lado, do outro, a estrada - ferrovia, Ana, ferrovia - cortava caminhos e desvendava paisagens que somente guardo na mente e no coração. A serra nos acompanhando, os campos, as matas, os riachos, as pontes, as flores... E de repente, uma invasão de sementes de dente-de-leão voa pelo ar de dentro da cabine e o sol, que já se deitava meio de lado, iluminava as faíscas de vida que brincavam por ali, como fadinhas preguiçosas.
Um sorriso no meu cabelo, um girassol no meu vestido, a montanha azul da cor do seu sol, bordado de suor e dor. Vento de estrelas, sinos invadindo o espaço, e uma fada pousou em meu nariz. Assoprei, voou longe a danada, e foi dizer que eu estou chegando... Que um dia eu chego lá!
Na estação, Ana. Na estação.
Onde a vida se repete.
Ana.

25 janeiro 2008

Feira Moderna

Caríssimos,
 
Hoje, devido a problemas operacionais meus, não foi ao ar a crônica (já encaminhada) de nosso poeta/colunista João Lenjob. Não se aflijam, pois semana que vem haverá texto novo dele por aqui, ok?
 
Mudando de assunto: quem aí não conhece a banda Chapéu Panamá? Samba de raiz de qualidade, vindo das entranhas de Minas, banhado a minério de ferro e temperado com castanha-do-pará...
 
Pois então: o programa FEIRA MODERNA, que vai ao ar todos os domingos pela Rede Minas, trará neste dia 27/01, às 15:30h, o show de gravação do CD da banda, ocorrido em novembro/2007, no Teatro da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, no entorno da Praça da Liberdade.
 
Quem foi, foi. Quem não foi, perdeu, mas tem a oportunidade de curtir o som agora, com repertório composto por 17 canções, sendo 12 autorais, inclusive com participações especialíssimas, como a do cantor Mauro Ramos - vocalista do tradicional grupo de samba Copo Lagoinha - entre outras, igualmente imperdíveis!
 
Inté...
 
Ana.

23 janeiro 2008

ERRATA

O mundo lá fora

– Calma, aí. Quem foi que disse que eu quero te namorar, te prender, te amarrar? Tem que me conhecer primeiro, curtir, ver se gosta de verdade. Namoro pra mim é coisa séria, não é pra passar o tempo, por comodismo, só pra estar com alguém. E nada impede que sejamos amigos como sempre fomos, que saiamos juntos. Nada impede que a gente fique junto de vez em quando, que você me beije como sempre fez, que me olhe como sempre olhou. Sem este medo no olhar. Sem achar que eu sou uma vampira que quer te caçar e te levar pra sempre do mundo dos mortais. As coisas não são assim. Eu não sou assim. Visto a máscara de mulher fatal, mas não passo de uma chapeuzinho-vermelho assustada, com medo do lobo-mau. Com medo do bosque escuro, do caminho tortuoso e dos barulhos do além.

– Calma aí. Quem foi que disse que eu fujo de você? Não fujo nunca. Ouviu bem? Nunca. Mas você tem que me entender, por favor, me compreenda. Tenho que pensar ainda. Mas eu gosto de você. Gosto muito. E confio em você, demais da conta. Eu sei que não é vampira, sei bem o que pode fazer e que pode me fazer feliz. É rara, é iluminada, é especial. Sinto-me lisonjeado só de te conhecer, só por ser minha amiga, entre outras coisas, claro. Mas não sei ainda como agir, o que fazer, como fazer.

– É, não sabe mesmo. E eu só sei que está fazendo tudo errado.
(E então ela virou as costas, fechou a porta e saiu pro mundo, para nunca mais voltar.)

Ana.
(Texto e foto.)

21 janeiro 2008

Coisas boas de fazer quando se está de férias:

Coisas boas...

1) Ir ao cinema;
2) Assistir televisão debaixo do edredon o dia inteiro;
3) Conversar no telefone por horas a fio;
4) Vadiar pela net;
5) Encontrar com os amigos e amigas num boteco;
6) Ir à praia;
7) Visitar os avós;
8) Namorar;
9) Sair à noite de 2ª a 2ª;
10) Exibir o bronzeado na rua;
11) Ir ao clube tomar sol;
12) Acampar;
13) Ir à cachoeira;
14) Não ir à academia;
15) Comer brigadeiro de colher;
16) Comer pipoca;
17) Fazer churrasco todo final de semana;
18) Tomar cerveja gelada na hora que der na telha;
19) Não trabalhar;
20) Viajar durante 15 dias;
21) Ler um bom livro;
22) Dormir tarde e acordar tarde... dormir muito!

Dos 22 itens listados acima, não fiz nenhum ainda. Afinal de contas...


EU NÃO ESTOU DE FÉRIAS!
Aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
(E que venha o carnaval...)
Ana.
(Texto e foto.)

18 janeiro 2008

João Lenjob: Ganância Celestial

Nosso poeta-cronista, após breve período de descanso na semana passada, retorna com este texto pra lá de panfletário... já que sua indignação faz aniversário.

PPJL

Ganância Celestial

Como avaliar o emprego de dinheiro do governo? O dinheiro que o povo passa para nossos titulares políticos é voltado para o povo? Interessante colocar em pauta a falta de ética destes para com as pessoas, deixando as portas abertas somente para todos aqueles que têm condições de bancar as iniciativas privadas, como hospitais, escolas, estradas, dentre outros.

Matematicamente é impossível que todos os impostos sejam responsáveis únicos por todos os direitos estatais do brasileiro. Exemplo claro vem do sistema rodoviário. Se o cidadão que viaja de carro próprio tem que pagar altíssimos pedágios para ter uma viagem segura e agradável. Seria ideal que o combustível neste trajeto fosse mais barato, vertente de isenções dos comerciantes locais, devido à não incidência dos impostos neste espaço. Mas isso infelizmente não acontece e costuma o preço ser bem superior. Este respeito ao povo não vai acontecer nunca, porque se acontecer, logo benefício nenhum vai para o sistema viário nacional.

Estranho também é o governo não apresentar precisamente os valores totais recebidos dos impostos que a população paga pela saúde e nem uma planilha de custos exibindo se foi total e plenamente voltado para a saúde ou não. Daí, quem pode, paga planos de saúde particulares e quem não pode, aguarda em filas grotescas e enormes, que em muitas das vezes não resultam num fim plausível, ou seja: falta de atendimento.

Médicos, enfermeiros, funcionários de hospitais, de clínicas, centros de atendimento e postos de saúde. Na maioria dos locais citados acima ainda há a falta de medicamento, material e aparelhos novos ou com manutenção preventiva ou com datas coerentes. Um absurdo! Na educação a situação não é diferente. Os professores da rede pública caem de nível e rendimento rapidamente e este declínio está chegando às faculdades vinculadas ao governo. Até o que em tempos atrás eram prestígio e mérito de prefeitos, governadores e presidentes, hoje é vergonha do tamanho das impunidades realizadas por nossos queridos políticos. Estas verbas citadas previamente chegam ao governo sim, mas tomam outros destinos, que não os legais.

Enquanto muitos moram em locais sem saneamento básico, que não têm escola, que não conseguem se medicar, nossos deputados, senadores, vereadores e afins são atendidos em centros “vips”, vezes de helicóptero ou ambulâncias mais equipadas que alguns hospitais públicos, ganham salários altíssimos, viajam pra baixo e pra cima, gozam de meses de férias e muitas vezes trabalham quando querem. Estes ainda não pagam por alimentação, transporte, residência e etc. Quem paga é o cidadão. Não escapa ninguém. Todo mundo paga. O dinheiro destas regalias vem de impostos que o povo honesto não pode sonegar, mas que nossos representantes sonegam.

Fator ainda muito importante é que quem mais sofre com toda esta falta de estrutura é o aposentado, que custou para ficar 30 anos trabalhando horas e horas por um salário mínimo, enquanto os políticos brasileiros se aposentam com pouco tempo de exercício da função e salários altíssimos.

Indivíduos que sem passar por dificuldades, são dotados de uma ganância celestial. Pois vem ser imunes até não ir para o céu, pode? Mesmo depois de tantas propinas, peculatos, sonegações e furtos. Eles chegam em belos sorrisos cínicos, são eleitos e logo desaparecem, outros só somem quando descobertos pela CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – assim, quando chega época de eleição, todos retornam com o mesmo sorriso. E esta alegria é a gozação sobre o povo. Os pegos pela comissão nunca foram presos, mesmo depois de tanta fraude. O pobre rouba Um Real, vai pra cadeia e divide o lugar abarrotado de gente. Em alguns casos até tiveram o benefício de dividir com uma mulher e até adolescente. Pode? É assim.

Será se é necessário o Brasil nascer de novo? Talvez Brasília, ou o Senado, a Câmara. Não se sabe. O interessante talvez seria imunizá-los, mas será se todos conseguem? Legal lembrar que o país não tem furacões, terremotos, maremotos e tem tantas beleza e riquezas naturais. Mas com esta turma aí em cima? Será se Deus é brasileiro?

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
Comunidade no orkut.

* João é primo, poeta, escritor... E aparece por aqui às sextas-feiras com uma crônica para vocês.

May

A May, do "Quase Diário", deu de presente este selo pro Mineiras... Obrigada May!

Ela descobriu o blog por acaso, no Google, procurando receita de broa de fubá... Acreditem ou não, aqui até disso se encontra!

(Tá bom, tá bom. Aí vai o link. Só não babem no teclado fazfavô.)

Aproveito para indicar alguns cantos por onde tenho andado ultimamente...

- Versos de Falópio
- Mulheres sob Descontrole
- Ponto de Fuga
- Namastê
- Café com Creme
- Lá no mundo de Lá
- Conto Graccista
- Bico de Pena

Boa leitura!

Ana.

16 janeiro 2008

OVO

Sampoo pra hidratar
Gema pra dourar
Casca pra endurecer
Clara pra nevar
Ovo pra fritar
Omelete pra nutrir
Mexido pra rechear
Inteiro pra assar
Batido pra beber
Decorado pra enfeitar
Chocolate pra engordar
Chocado pra nascer
Neve pra afofar
Rabanada pra saborear
Bolo pra fazer crescer
Maduro pra fecundar
Codorna pra resolver
Assado pra suspirar
Cabeça pra aniversariar
Fazer pensar
Crescer
Nascer
Endurecer
Sofrer
Realizar
Quebrar
Exorcizar.

Ana.

Imagem retirada da internet, deste site.

14 janeiro 2008

Escrivinhadeira

(Para entender - ou não - o texto que se segue, leia antes este poema do Paulo DAuria.)
Esta Aninha, tão pequenina, nem consegue escrivinhar mais...
Está cansada, tonta, ressacada, amassada, batida, moída, rouca, mas ao menos ainda respira.

Esta Aninha, tão pequenina, já não rabisca mais...
Está murcha, zonza, mole, acabada, acabando, atropelada, morrendo, matando, tentando sobreviver.

Não mete nem com um canivete!

O coração, um furacão preso entre dois pulmões, ileso não é.
Cicatrizes tomam tudo, como tatuagens que marcam para sempre a fronte que envelhece com o tempo.
E sua rala vida ainda persiste; sua saia, já não levita mais.

A alma entalhada, rasgada, cortada, parece um espantalho em forma de gente.
Traz um urubu como amigo num ombro, e no outro uma vara de pescar.
Pesca sonhos e tempestades, pesca cruzeiros no mar.
Não cansa nunca, essa Aninha!
Danada, safada, esperta a Aninha, fala o que a boca tem pra falar.
Fere e é ferida, sofre de morte morrida, noite sem estrelas e jardim enluarado.

Aninha é amiga, Aninha é demais.
Aninha, escrivinha mais?

Lá vai ela a rebolar, a soltar flechadas de verdade pelo ar.
Balas perdidas de caramelo e menta, pimenta malagueta pra temperar.
Não machucam, são de festim.
Festinha da Aninha, sempre a comemorar. Temporizar. Compreender.

Agora Aninha não quer nem mais escrivinhar.
Adeus, Aninha, vou desmaiar.

Aninha se cansou.
Aninha estafou.
Aninha mandou tudo pra puta que pariu.

À merda com essa Aninha.
Meu nome é Zé Pequeno, porra.

Ana.

09 janeiro 2008

Vai ver é assim mesmo...

Abismo e céu

"Quero te encontrar mas não sei onde estou.
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo,
longe desta confusão e desta gente que não se respeita. Tenho quase certeza que eu não sou daqui." *

Não posso ser daqui, pois não me encontro, não sei onde estou, e aí não te encontro também. Te chamo mas você não vem. Não há lugares calmos, aqui dentro tem um maremoto de ansiedade e insônia. Os ventos vêm e vão, sempre fortes e destruidores. Levam embora toda a cor, trazem a dor e a alegria de ser quem eu sou.

Todos falam ao mesmo tempo, ninguém se respeita. Não ouço minha própria voz, e nem a sua, perdida no meio deste chororô que não tem fim. Pare de gritar e de chorar de uma vez por todas, veja que o sol ainda brilha, e se olhe no espelho enquanto olha para mim, e veja a pérola no olhar, o sol a iluminar seu sorriso de canto de boca, o mesmo que deixa transparecer o furo mais profundo na bochecha.

E quando decido de uma vez por todas seguir o meu próprio furacão em forma de coração, e quando todo o universo parece conspirar para que tudo dê certo, e quando te avisto lá no fim do caminho de braços abertos a me esperar, e sei que estou chegando perto, cada vez mais... É que tropeço num riacho cheio de pedrinhas, caio de bunda, faço cara feia, enxergo peixinhos nadando no aquário ao seu redor, vejo capetinhas e anjinhos, e tem montes deles do sexo feminino também. E é neste exato momento de loucura e ansiedade total que você toca na água corrente com delicadeza, e de uma só vez faz espirrar um jato dela bem na minha cara, e me acorda de meus devaneios.

Então sigo em frente, tateando por lugares escuros, muitos sem paredes e corrimões. Desço alguns degraus e subo outros tantos. Não sei para onde vou. Onde estás?

"Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. Está ficando complicado e ao mesmo tempo diferente. Estou cansado de bater e ninguém abrir.
Você me deixou sentindo tanto frio! Não sei mais o que dizer!" *

Texto e foto: Ana.
* (Letra da música: Meninos & Meninas - Legião Urbana.)

05 janeiro 2008

Este sorriso...

Este sorriso...
meu sorriso procura
outro sorriso
procurado
amado
mordido
largado

meu sorriso é o teu sorriso
tua aura
tua alma
e a minha, toda pura
e só minha a festejar

meu sorriso procura
um ombro a se encostar
doído
macio
armado pra me aconchegar

meu sorriso é só meu
é só teu
sou eu
sentimento a transbordar.

Ana.

(Foto: Dália Negra)

04 janeiro 2008

João Lenjob: Cem Anos em Preto e Branco

Em sua primeira crônica de 2008, nosso colunista fala de uma de suas grandes paixões, que é um senhor de 99 anos: completará 100 anos no dia 25 de março!

PPJL

Cem Anos em Preto e Branco

O que seria do mundo sem o Atlético? Ou para os ilustríssimos representantes da mais fiel torcida do mundo, pergunta-se: - o que seria da vida sem o Atlético?

Sabe-se que tantos não estavam presentes no nascimento e outros nem durante as tantas conquistas, mas hoje, muitos presenciam estes nobres Cem Anos, e é como se todos tivessem vivido a história, a gloriosa trajetória secular e que de fato, todos viveram sim.

A paixão religiosa pelo Galo faz com que a história do clube seja também a história de todos, e a gratidão, assim sendo, também é de todos. Daquele que está em campo e nas arquibancadas. Daquele que vibra, que torce e, principalmente, daquele que sente. Que sente aquela paixão listrada em “Preto e Branco” que faz acelerar o coração, que acomete desde o tecido epitelial até que este perca a razão e o conhecimento entre clima e emoção, e é emoção, pois quando se trata de Atlético o calor envolve até a alma e o pensamento se perde em prazer, em magia, em alegria. Quando, na derrota o atleticano entrega ao mundo o quanto ama seu time, e na vitória, nos títulos, o amor parece recebido, recíproco, correspondido.

Num casamento entre o Atlético e o Atleticano em nenhum momento houve qualquer desonra entre as partes. Os torcedores do Galo são os mais honrados que circulam por aí, por aqui ou por lá. Também pudera. O clube venceu sob o frio latente europeu uma epopéia que foi denominada como Título do Gelo. Ainda este, foi o primeiro Campeão Brasileiro, e ainda colocou em campo um dos maiores elencos da história do futebol brasileiro na virada da década de 70 para a década de 80. Ainda foi Campeão Sul-Americano, e o ciclo foi fechado com o Atlético sendo o dono de Beagá e de Minas Gerais, ao sagrar-se campeão das Copas Cinqüentenário e Centenário da Capital Mineira, e, com o enorme número de títulos, como o maior campeão brasileiro do século e do milênio passados.

O Galo elegeu reis, príncipes e até canhão. O time foi também pioneiro no futebol de salão em várias gerações, e é por isso e por muitas outras conquistas em diversos esportes e modalidades que, estes cem anos, também parecem a história de cada atleticano. É a história ilustre e invejada de cada um. Uma alegria em Preto e Branco.

Cem anos em Preto e Branco.

Galão!

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br


* João é escritor, poeta, mineiro e sonhador, proseando por aqui todas as sextas-feiras. Antes de tudo, ele é atleticano, como yo. Torce contra o vento, e canta com o Galo, para o Galo, o quanto for preciso.
Photo by: Ana.

02 janeiro 2008

Vou te contar:

Marionetes

E então me pega pela mão e me puxa. Vem cá, quero te contar. E me leva prum canto, e me beija e me diz o que eu queria ouvir. Mas não estávamos sozinhos, havia pessoas à espreita. Uma. Duas. Não não, três. Querem me dizer alguma coisa. Como assim, está louca? Não tem ninguém aqui! Tem sim, só você que não vê.
Ela desce as escadas, e me olha. Fala comigo, mas eu não escuto. Você tira a camisa, pega minhas mãos, que se põem a passear. Me beija, me puxa, me vira o rosto. Eu falo, falo com você, que ela já vem. Você grita comigo (está de costas, não pode ver): - Não tem mais ninguém aqui! Desliza pelas minhas costas, elogia minha pele, me envolve.
Ela chega. Você se assusta e olha pra mim. Mas o que é isso? Ela me acusa. Diz que infelizmente é isso mesmo, e blábláblá. Que era melhor eu cooperar. Eu choro. Você chora. Pega um papel e uma caneta e se põe a anotar. Telefones, nomes, números. Ela a falar. Eu tonta, só choro, só choro, por que eu? Não fiz nada, não sei de nada, quem sou eu? Logo eu? Sou vítima, e não carrasca.
Ela não me ouve. Me algema, me leva, me prende. Acusada, acuada, injustiçada. Durmo num canto, congelada. Você me liga. De alguma forma, você me liga. Não sei como, mas você me liga. Dia amanhece, e aí sou eu que dou um jeito, e ponho-me a fugir. E eu corro pra longe, longe dali.
E converso e entrevisto as pessoas. E corro atrás da minha verdade. E denuncio, e te abraço, e me abraças, e choramos juntos. Ela vem e me leva de novo. E eu conto tudo. E ela acredita. Mas apenas cumpre seu papel.
E no julgamento final, a verdade. Fico livre novamente.
E ela se despede. E pede desculpas. E tu me beijas. E mesmo assim eu não fico feliz.
E eu acordo. Melhor assim.
Texto e foto: Ana.

01 janeiro 2008

# 1


Primeiro post de 2008.
Primeiro dia de 2008.
Um ano novo que se inicia, vida nova, sonhos novos, promessas novas...

Peraí. Volta o disco.

Qual o sentido de tanto se festejar? De usar calcinha ou cueca amarela (ou vermelha), de comer uva e jogar as sementes pra trás, fazer orações aos reis magos, guardar semente de romã na carteira, pular 7 ondinhas, jogar flores no mar, soltar fogos de artifícil, estourar champagnes, beber até cair e comer até dizer chega???

Calma minha gente, nada mudou. Eu continuo a mesma (com um quilinho a mais por causa dos excessos, é claro), o mundo continua o mesmo, a roda ainda gira, e o relógio não parou. O que ocorreu foi que ontem o sol se pôs e hoje ele nasceu novamente. Igual a todos os dias. A mesma coisa.

E se o reveillon não existisse?
E se o ano, ao invés de 365 dias, tivesse 480? Ou então 200?
E se falassem que o dia tem 30 horas, e cada mês 65 dias?
Qual a diferença faria?
É claro que a vida seria diferente, mas é claro que seríamos acostumados a tal, e isto sim seria o nosso normal.

Só sei que faz bem renovar os sonhos, as metas, as promessas. É bom ter o sentido de recomeço, de mais uma chance, de um ano a mais de vida, pra consertar os erros cometidos, ou pra aprender mais um pouquinho e aí não errar mais, sei que é bom usar roupa nova e inventar receitas de ano novo, como "chá miraculoso de 7 ervas pra tirar mau olhado e chamar bons fluidos", acreditar que a calcinha amarela trará dinheiro, e que a cor vermelha na roupa chamará o amor, comer lentilhas, uvas, romãs, ver os fogos, beber champagne, molhar os pés na água gelada da praia, abraçar os queridos, lembrar dos ausentes ou dos que se foram, desejar coisas boas.

É isso. A vida deveria ser assim sempre. Todos os dias deveriam ser comemorados e as esperanças serem realimentadas a cada nascer do sol. E só deveríamos desejar coisas boas aos outros, e lembrar dos amigos sempre, e encontrar com a família, e abraçar quem a gente gosta quando bem quiséssmos, sem esperar nada em troca, sem ter nenhuma data especial, nada.

Ter serenidade para fazer escolhas, maturidade para aceitar os erros, receber críticas, criticar sem desconstruir, ter a criatividade infantil e a sabedoria de um idoso, lutar pelos sonhos, fazê-los acontecer. Viver um dia de cada vez, com calma e temperança. Planejar, conversar, amenizar, pagar dívidas (não fazer outras), gastar menos, abraçar mais, falar mais vezes eu te amo, e ouvir mais vezes também.

Taí. Estas são minhas promessas de ano novo.

Ana.
(Foto retirada deste site.)