(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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02 janeiro 2008

Vou te contar:

Marionetes

E então me pega pela mão e me puxa. Vem cá, quero te contar. E me leva prum canto, e me beija e me diz o que eu queria ouvir. Mas não estávamos sozinhos, havia pessoas à espreita. Uma. Duas. Não não, três. Querem me dizer alguma coisa. Como assim, está louca? Não tem ninguém aqui! Tem sim, só você que não vê.
Ela desce as escadas, e me olha. Fala comigo, mas eu não escuto. Você tira a camisa, pega minhas mãos, que se põem a passear. Me beija, me puxa, me vira o rosto. Eu falo, falo com você, que ela já vem. Você grita comigo (está de costas, não pode ver): - Não tem mais ninguém aqui! Desliza pelas minhas costas, elogia minha pele, me envolve.
Ela chega. Você se assusta e olha pra mim. Mas o que é isso? Ela me acusa. Diz que infelizmente é isso mesmo, e blábláblá. Que era melhor eu cooperar. Eu choro. Você chora. Pega um papel e uma caneta e se põe a anotar. Telefones, nomes, números. Ela a falar. Eu tonta, só choro, só choro, por que eu? Não fiz nada, não sei de nada, quem sou eu? Logo eu? Sou vítima, e não carrasca.
Ela não me ouve. Me algema, me leva, me prende. Acusada, acuada, injustiçada. Durmo num canto, congelada. Você me liga. De alguma forma, você me liga. Não sei como, mas você me liga. Dia amanhece, e aí sou eu que dou um jeito, e ponho-me a fugir. E eu corro pra longe, longe dali.
E converso e entrevisto as pessoas. E corro atrás da minha verdade. E denuncio, e te abraço, e me abraças, e choramos juntos. Ela vem e me leva de novo. E eu conto tudo. E ela acredita. Mas apenas cumpre seu papel.
E no julgamento final, a verdade. Fico livre novamente.
E ela se despede. E pede desculpas. E tu me beijas. E mesmo assim eu não fico feliz.
E eu acordo. Melhor assim.
Texto e foto: Ana.