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14 janeiro 2008

Escrivinhadeira

(Para entender - ou não - o texto que se segue, leia antes este poema do Paulo DAuria.)
Esta Aninha, tão pequenina, nem consegue escrivinhar mais...
Está cansada, tonta, ressacada, amassada, batida, moída, rouca, mas ao menos ainda respira.

Esta Aninha, tão pequenina, já não rabisca mais...
Está murcha, zonza, mole, acabada, acabando, atropelada, morrendo, matando, tentando sobreviver.

Não mete nem com um canivete!

O coração, um furacão preso entre dois pulmões, ileso não é.
Cicatrizes tomam tudo, como tatuagens que marcam para sempre a fronte que envelhece com o tempo.
E sua rala vida ainda persiste; sua saia, já não levita mais.

A alma entalhada, rasgada, cortada, parece um espantalho em forma de gente.
Traz um urubu como amigo num ombro, e no outro uma vara de pescar.
Pesca sonhos e tempestades, pesca cruzeiros no mar.
Não cansa nunca, essa Aninha!
Danada, safada, esperta a Aninha, fala o que a boca tem pra falar.
Fere e é ferida, sofre de morte morrida, noite sem estrelas e jardim enluarado.

Aninha é amiga, Aninha é demais.
Aninha, escrivinha mais?

Lá vai ela a rebolar, a soltar flechadas de verdade pelo ar.
Balas perdidas de caramelo e menta, pimenta malagueta pra temperar.
Não machucam, são de festim.
Festinha da Aninha, sempre a comemorar. Temporizar. Compreender.

Agora Aninha não quer nem mais escrivinhar.
Adeus, Aninha, vou desmaiar.

Aninha se cansou.
Aninha estafou.
Aninha mandou tudo pra puta que pariu.

À merda com essa Aninha.
Meu nome é Zé Pequeno, porra.

Ana.