(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
Um blog sobre uai, sô, véio, contos, causos, sentimentos, pão-de-queijo, crônicas, broa-de-fubá, cinema, literatura, fotografia, arte, poesia...
* Agora em novo endereço: www.mineirasuai.com *

31 dezembro 2007

Whatever it's gonna be, it's gotta be

portal para o mar

Há coisas que acontecem e a gente simplesmente não pode, não consegue evitar. Até tentamos, lutamos contra a maré, nadamos, nadamos, mas nem assim saímos do lugar. Queremos fugir, mas não conseguimos enxergar. Tateamos no escuro, procurando em quê se apoiar. Não há nada, só o abismo em que nos encontramos, o mesmo escuro de sempre, e caímos, caímos, por mais que tentemos pular. Uns chamam de destino, outros de fraquezas, há ainda quem fale em predestinação, safadeza, traição.

Mas como ir contra um sentimento tão forte? Uma atração maior que a força da gravidade? Uma sensação de impotência total, e sucumbência absoluta frente a tudo isso? E então deito de costas, e me ponho a boiar, deliciosamente fecho os olhos, e me permito sonhar. Conto carneirinhos, vejo desenhos em nuvens. Não olho para baixo, apenas sinto meu corpo cair, o vento soprando envolvendo meu corpo entregue ao simples ato de... cair.

E quando acordo deste sonho bom, sinto-me culpada por dormir tanto, sinto remorsos por boiar neste lago de águas doces e calmas durante horas, sinto dores, pois o chão é duro e a queda foi longa.

E todo dia é a mesma coisa. Tudo igual, tudo igual. A mesma tentativa de resistência, a briga interna, aí recebo um gostinho, ganho uma prova apenas, e é o bastante para a sucumbência. Para novamente pisar em falso e tropeçar em minha própria pedra no meio do caminho, se é que não era para ela estar ali, se é que o propósito do próprio caminhar não é justamente encontrar com tal pedra. Se é que esta pedra nada mais é que o retrato da minha imutabilidade, da minha incapacidade, da minha vida. Como um caroço no angu, ou uma pinta na pele alva, uma bolha no chocolate caseiro, ou ainda um retrato esquecido na parede.

Só sei que é impossível lutar contra. Continuarei sonhando, e caindo, e tropeçando. E lutarei a favor então. E viciada permanecerei neste círculo envolvente e impossível de administrar.
E seja lá o que Deus quiser. Ou o Diabo. Ou Buda. Ou Zeus. Ou whatever.

E bye-bye 2007. This is the end. O fim. “Zéfiní”.

E feliz 2008 pra nós!!!

Texto e foto: Ana.

29 dezembro 2007

BOCA

Rosa Colombiana


BOCA
LOUCA
BEIJA EU
SEM PARAR.
PÁRA
NÃO PÁRA
BEIJA EU
SEM PENSAR.
ASSIM:
ASSADO
QUENTE
MOLHADO!
TERRA NEGRA
NUVEM BRANCA
ÁGUA
ESPUMA
SAL.
ABRAÇA O CORPO
NO CORPO

COLADO
GEMIDO
SUADO
RUÍDO
MORDIDO
PEDIDO
PERDIDO.


Ana. (Texto e foto.)

28 dezembro 2007

João Lenjob: A Volta Por Cima

Melancólico? Saudosista? Realista? Idealista? É o que não falta em nosso poeta camarada de todas as 6ªs feiras... E hoje ele se despede do velho, e saúda o novo... E nos comove em reflexões e constatações...


PPJL


A Volta Por Cima


Temporadas finais de ano e chegando o princípio de um novo. Revela-se em cada pessoa uma forma diferente de ter esperança, de acreditar, elaborar métodos e objetivos. Para muitos, é uma época triste, com poucas vitórias neste período que se finaliza e, talvez, com pouca expectativa para o período que se aproxima. Mas mesmo assim, não há quem não torça, pelo menos um pouco, pelo dia de amanhã.

Enfim, que todos não só esperem, mas que lutem bravamente pela realização de todas as metas. A minha é que todos saibam votar em 2008, para as eleições de prefeitos e vereadores, com o pensamento coletivo e não no retorno individual e pessoal, tendo sensatez e consciência de um cidadão educado e participativo. Também quero que todos saibam lutar pelos direitos que não são empregados, mas que não deixem de cumprir os inúmeros deveres profissionais e éticos da sociedade e também para ela.

Que em 2008, cada um valorize com mais veemência a arte de todos que trabalham por ela, não só lendo ou ouvindo todos os tipos de músicas, mas abrindo os olhos com relevância e creditando àquele artista que vive perto de você, na rua ou em proximidades, trabalhando pelo seu sorriso.

Quero muito que todos saibam valorizar também todos os atletas que farão com todo brio, gana e suor, o melhor por uma medalha olímpica, em Pequim. Que não esteja na mídia e na procura de todos somente futebol e volei, esportes de ponta, mas que a gente jogue, lute, reme, nade, salte, veleje, competindo junto a eles, torcendo de igual pra igual.

Importante ressaltar que todos devem estudar mais, ler mais, ter mais conhecimento de tudo o que se passa, de todos os assuntos gerais, se inteirando de tudo o que acontece ao nosso redor. É importante que todos estejam cientes do que se passa pelo mundo com o meio-ambiente e seus problemas que estão cada vez mais delicados e acentuados, com o aumento de infecções causadas pelos mosquitos da dengue, com os impostos que deixam de existir, mas que voltam com outro nome, exames “anti-dopping” que estão rolando por aí, humilhando a nossa capacidade de ser inteligente, inclusive se precavendo sempre do vírus do HIV.

Por isso, não tem como não falar de amor e para explicar bem este nobre quesito, gostaria muito que todos amassem com sabedoria. Fazer amor com cautela e com cuidado é bom, muito bom. Mas é bom saber amar a família, apoiando nas dificuldades, ensinando e sabendo aprender com os tantos erros, tendo paciência nos momentos tristes e dividindo todas as conseqüências, boas ou não. Amar os amigos, ligando quando eles não ligarem, orientando e se deixando orientar, torcendo pelo sucesso alheio, ajudando a levantar nos tombos da vida ou não deixar que caiam. Amar o desconhecido atendendo aos pedidos ou acatando, sendo indiferentes, com serenidade e respeito, sendo educado, sendo gentil, mostrando ali seu berço. Claro! Amar o companheiro, com amizade, carinho, plena atenção, sinceridade, verdade, lealdade.

Fica muito fácil começar um ano difícil e como pôde se observar, não é tão difícil ter um ano mais fácil. Trabalhar os atos com sabedoria e respeito é muito simples. É saber amar e ser amado, sempre dando a volta por cima.

Quem procura acha. É bom então saber o que procurar. Um 2008 muito alegre pra todo mundo!

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br


* João é escritor, é alegre e vibrante, pinta e borda por aqui toda 6ª feira, e... Ano que vem tem mais!

24 dezembro 2007

Mineiras, Uai: Um Presente de Natal

O texto abaixo vou escrito a 6 mãos. Como? Oras, eu, Bela e Lu unimos nossas forças e cada uma escreveu um pedacinho deste pequeno conto natalino, saído diretamente de nossas cacholas para o dia 24/12/2006... E nada mais justo que homenagear vocês, caríssimos leitores, e minhas ex-colegas de blog com um texto tão lindo e tão surpreendente!

Gari, Bebela e Lúlis, amo vocês! Um Natal de luz, harmonia e amor para todas! E que 2008 seja surpreendente, mágico e repleto de sonhos se tornando realidade...


Ana.
Um Presente de Natal

Desde que se entendia por gente, Antonino morava na casa de pau a pique construída por seu avô em uma terrinha no meio do sertão. Minúscula gleba de terra que foi passando de pai para filho e da qual saía o sustento de toda a família. Foi com muito orgulho que o pai de Antonino lhe legou a casinha e o pequeno terreno que a cercava no dia de seu casamento com Jacinta, dizendo que com seu trabalho ele seria capaz de cuidar de sua mulher e filhos.

Assim, passaram-se alguns anos de trabalho duro, malgrado a seca que teimava em roubar os preciosos litros de água que nutriam os míseros legumes da horta de Jacinta e cavava profundas entalhas onde Rosinha, a vaca ancuda e magricela deveria ter o seu pasto.

Mesmo trabalhando duro sob o sol inclemente do sertão, Antonino não reclamava da dificuldade da vida e do suor que impregnava o seu corpo no final do dia, pois à noite ele recebia um beijo de Jacinta e um abraço apertado do filho Francisco.

Mas esse ano tinha sido diferente: a seca deu uma trégua a Antonino, o que lhe permitiu conseguir trabalho em uma propriedade nas redondezas e amainar a miséria que reinava na casa de pau a pique. E por isso, com algumas notas no bolso, Antonino resolveu que este ano a família comemoraria o Natal, não apenas com orações à meia noite como sua mãe havia lhe ensinado, mas também com presentes. Suspeitava de que Francisco sequer saberia o que significava o Natal, mas ele iria proporcionar ao filho uma surpresa especial.

Chegou em casa pensando no tecido florido que viu na vendinha da cidade mais próxima, e com o qual Jacinta poderia fazer um belo vestido. Sorriu ao imaginar a felicidade da mulher. Pôs-se, então, a pensar no filho. O que poderia agradar Francisco?

Francisco estava sentado na porta da casa, a camiseta suja de terra e os joelhos ralados, como qualquer garoto de sua idade. Correu para o pai quando o viu se aproximar e o abraçou, pulando em seus braços.

Isso encorajou Antonino a perguntar:
-Filho, o que você quer ganhar de presente de Natal?

Francisco o olhou com um inconfundível brilho de alegria nos olhinhos e disse entusiasmadamente:
- Pai, eu sei o que eu quero. Eu quero NEVE!!!

Assustou-se Antonino com tal resposta, e em seguida questionou ao filho de onde viera ousado pedido. A resposta foi rápida:
- Ouvi a professora Matilde dizer que na Europa as crianças brincam na neve no Natal. Então eu quero brincar com neve também!

Matilde era uma das poucas professoras da “Escola Felicidade” que se preocupava com o futuro das crianças, sem perder a esperança de que dias melhores estavam por vir. Assim, numa de suas aulas de contos, a professora Matilde leu aos alunos histórias sobre o Natal na Europa, e Francisco ficou curioso e encantando com a tal “neve”.

No entanto, este seria um presente quase impossível de Antonino dar a seu filho querido. O dinheiro que havia ganhado mal dava para comprar presentes e fazer uma cesta de comidas. Pensou que a solução seria viajar com o filho, mas para onde? Como?

Com sua pouca escolaridade, Antonino mal sabia qual era a cidade mais próxima que nevava. Havia viajado poucas vezes de barco e nunca de avião, como realizaria o sonho do filho?

Antonino informou-se com as pessoas mais ricas do sertão e descobriu que pouco abaixo da divisa do Brasil, a caminho do Uruguai, estava a primeira cidade que nevava. Mas sair do sertão e chegar até lá, como seria, quanto tempo demandaria... Teria que deixar de construir um Natal feliz para toda a família e apenas realizar o sonho de Francisco.

O coração de Antonino apertou. Jacinta, com seu amor incondicional, acalmou Antonino e disse para rezarem à Divina Providência, que com certeza uma solução apareceria.

Até que na véspera do dia de Natal um anjo tocou em Antonino, e o levou para bem longe da vida. A família inteira ficou alvoroçada, desnorteada, até esqueceu que era o dia do nascimento do menino Jesus. Esqueceu também de Papai Noel, esqueceu seus sonhos e planos. Francisco, da noite para o dia deixou de ser criança, e sentiu o peso do mundo em suas costas infantis, o peso que antes o pai carregava.

Dez anos se passaram e as coisas mudaram muito. Pouco tempo depois da morte de Antonino, Jacinta se juntou a ele, e Francisco se viu sozinho. Agora já era adulto, e cuidava de si com determinação. Casou-se com uma moça da cidade grande, Maria Lúcia, uma menina linda e sonhadora. Logo juntaram dinheiro para poder viajar, e foram tentar ganhar a vida nos Estados Unidos. A América era um sonho, uma chance de ganhar um dinheiro mais valorizado.

Chegaram a Nova York em Março, não estava nem quente nem frio. Chiquinho agora era “Frrranciscow”, como os americanos o chamavam. Fazia de tudo: pintava paredes, lavava pratos, latrinas e andava com os cachorros dos gringos. Impressionante como aqueles animais eram cheios de luxos que ele mesmo nunca tivera, nem sonhara existir.

Maria Lúcia cuidava da casinha que conseguiram alugar, bem longe do centro, e também trabalhava em casa de famílias abastadas, cuidando de crianças e fazendo de tudo um pouco. A vida não era nada fácil, aprender uma língua diferente e aparentemente difícil. As pessoas eram frias, distantes, mas achavam graça do jeito diferente dos brasileiros, do modo como falavam, e das coisas que comiam. Sentiam-se estranhos àquele local, meio excluídos, discriminados, mas levavam a vida assim mesmo.

O Natal ia se aproximando, Chiquinho e Marilú (como ele a chamava carinhosamente) não faziam idéia do frio que viria pela frente. Pela primeira vez viram que realmente uma pessoa poderia morrer de frio, pois até então, só tinham medo da fome e da sede que matava tantas crianças no sertão de onde vieram. Muita chuva e um vento cortante e gelado, e o dia parecia nunca chegar, pois a noite caiu sobre a agitada cidade daquele país estranho, e parecia que nunca mais iria terminar. A vida ficou cinza e sem graça.

Desde que seu pai morreu Francisco não se lembrava do que era o Natal. A Escola Felicidade ficara para trás há muito tempo, assim como a professora Matilde, e as lembranças daqueles poucos anos que vivera na roça em companhia de seus pais, Antonino e Jacinta. Há muito tempo não pensava neles, embora sentisse que sempre tinha uma mão por perto o amparando, nos momentos mais difíceis. Na verdade, Francisco não tinha tempo para pensar nessas coisas. Sua rotina era trabalhar, trabalhar, trabalhar. Muitas vezes dormia menos de 4 horas por noite, pois sua jornada de trabalho era longa penosa.

Não nevou nenhum dia desde que estava na América, de fato, o inverno estava atípico, bem mais ameno, diziam os "new yorkers". Francisco nem se importou, afinal seus sonhos de criança já tinham se perdido, e nem mesmo do pedido de neve de presente que fizera ao pai anos atrás, ele se recordava. Até que na véspera de Natal, o que todos os americanos entendem como bom presságio para a noite do nascimento de Cristo, e para o ano que se aproxima, aconteceu... da forma mais inesperada e estranha que todos os habitantes do planeta já tiveram notícias...

Naquela mesma noite, Francisco e Marilú estavam de folga no alpendre de casa, e juntos bebiam “Cidra Cereser” que compraram numa venda de brasileiros num bairro próximo. De olhos fechados e de mãos dadas, Francisco sentiu um toque leve e gelado em seu nariz. Assustou-se com aquela nova sensação, e abriu os olhos. Os mais belos flocos de neve desciam do céu, e ele ficou cego de lembranças, de emoções, e de tudo aquilo que ficou tão bem guardado em seu coração há tantos anos. Lembrou-se de quando era uma criança, e de tudo o que já vivera: do pedido de Natal, de seu terno pai e da carinhosa mãe.
Por um momento, poderia jurar tê-los visto no céu lá do hemisfério norte, sorrindo e lançando confeitos de gelo. Imediatamente percebeu, como que por mágica, que em nenhuma outra casa da Big Apple caía um só floco de neve! Era como se Antonino finalmente realizasse o sonho do curioso menino, o presente de Natal de conhecer de perto da brancura e a leveza do gelo que caía do céu, e ao mesmo tempo acordasse o adulto Francisco da rotina e da dura vida que levava, para ser feliz com as pequenas coisas e sensações.

Naquela hora, Maria Lúcia anunciou que esperava um filho de Francisco, e a alegria tomou conta daqueles seres embevecidos pela beleza e pelo frescor do presente enviado dos céus.

Cantaram, gargalharam, dançaram, como nunca haviam feito antes.

A partir de então, Francisco entendeu o verdadeiro sentido do Natal: o que a neve trouxe foi a certeza de que seriam felizes, pois a felicidade estava nas menores coisas, e onde quer que ele fosse, nunca mais se esqueceria do amor por seus pais, por Maria Lúcia e o filho que iriam ter, e acima de tudo, do amor que o fazia seguir em frente, apaixonado pela vida, pelos sonhos, e pela magia do Natal.

22 dezembro 2007

Balões de Gás


Flutuo sobre meus saltos, altos, finos e leves. Caminho sobre nuvens, em passos largos e saltitantes, com cuidado para não furar os flocos de algodão-doce sob meus pés de bailarina. Calejados pés, que sentem e sofrem, hoje e sempre, mas que me mantêm firme no chão, sonhando acordada e voando, como um balão.

Lá embaixo vejo cores: vermelho, amarelo, rosa, verde... Vejo fumaça e som, silêncio e música, carinho e sensações. Amigos, pais, flores e cerejas, chocolate e velinhas faiscantes. O vento me inebria, e a noite me envolve, molhada de chuva, suor, lágrima, cerveja, riso, fantasia e pirulitos. Passam luzes, passam carros, gritos e flashes. Pensamentos passam, e lembranças também. E o aperto de saudades do meu tamborim enche meu peito de batuque, cavaquinho e atabaque.

E a tradição vai se manter: eu sambo pra viver, e vivo pra sambar. E a chuva a cair, e o vento a soprar. O mundo gira, não pára nunca, e eu vou andando, caminhando lépida e sempre, correndo em direção ao arco-íris. Fujo do infinito, do céu e do outono, sonho com a Lua, e um perfume de gardênia vem me inspirar a noite, e um céu azul desanuviado amanhece na primavera de cheiro de terra molhada e plumas flutuantes. Estas sim, de vida curta, são como eu, dependem do vento pra assoprar. Já não disse o poeta, o grande maestro, que felicidade tem fim, como o carnaval?

Logo em frente, tem um palco. Subo as escadas e vejo tudo do alto. Luzes me cegam, e o barulho se agita em cortinas de metal e jasmim. E olhos a me procurar. Olhos a me fitar. Olhares que fogem, se encontram, e depois furtam mais alguns minutos de minha existência. Uma mecha escorre pela testa, por causa do vapor do ventilador. Estranheza, coração, surpresa, emoção.

Uma mensagem, duas, três. Guardo logo tudo de uma vez. Canto o parabéns, dou um rodopio, giro num pé só, pulo amarelinha, caracol e giramundo. Pensamento imundo de um insano trapalhão. Mundo tosco de uma noite de verão.

E viva eu, viva tudo, viva o mico narigudo! Viva nós, viva a chuva, viva o cheiro e o olhar, viva o presente e o que virá, viva o céu, viva a roda, o sorvete, o creme de leite e a lanchonete, o submarino, o submerso, o submundo, e o subversivo, o tropicalismo, o tropicaliente, o leite quente, e o invisível, viva o não-dito, viva o pensamento, viva a vida, VIVA!

Ana.
(Texto e foto.)

21 dezembro 2007

João Lenjob: O Melhor dos Piores

A crônica de hoje nos traz um poeta lúcido, e pronto para comprar uma boa briga... Este assunto é de interesse comum, nos abre os olhos, nos faz refletir... Pelo menos a mim foi assim, quando o li. Espero que gostem. Ana.

PPJL

O Melhor dos Piores

É muito interessante o exercício de uma profissão, muito ideal quando ela vem de uma vocação genética ou até mesmo construída. Muito melhor quando o ser trabalhador pode se aventurar em várias funções em que ele pode dar certo e descobrir a sua, claro.

Para viver estas diversas funções não há a necessidade de trabalhar nela. A decepção no entanto, pode vir no reconhecimento. Nem sempre o tamanho talento pessoal, individual é valorizado e não pelo rendimento e sim pelas características da profissão. A precisão de jogadores de futebol pode ser inferior a de um médico e os valores incluídos em tal referência são exorbitantes. Sobretudo, a dificuldade na formação de um clínico é infinitamente superior e as noites sem dormir são muito mais freqüentes. Pergunte ao Tostão ou Sócrates.

Enfim, qualquer profissão requer um profundo treinamento, disciplina mesmo. Atletas dormem cedo para trabalhar (treinar) durante o dia, e músicos, escritores já preferem trabalhar durante a noite, silenciosa e requintada por álcool e tabaco, para sustentar o prazer, facilitar a inspiração.

Todos necessitam de prazer. Esta é a palavra ideal. Em obras de construção civil, pode se observar o excessivo número de artesãos que deixaria Aleijadinho satisfeito e impressionado e pessoas assim são chamadas de serventes e carpinteiros e pedreiros. Dentistas pincelam bocas com a delicadeza de um pintor. Um garçom tem a habilidade malabarista de conservar sobre mãos bandejas completamente lotadas de vidros e utensílios, melhor até que um jogador de basquete. Quanta habilidade! Por isso é óbvio que prazer é fundamental.

Poucos têm conhecimento do valor de um músico de orquestra, que numa apresentação, um único erro pode levar ao desastre o ouvido dos presentes e bagunçar todo o evento. Músicos de uma banda de rock, indiferente a posição na mídia, erram e nunca ninguém repara. Músicos de uma orquestra vip são eventualmente assalariados e uma banda vip de rock acumula um valor financeiro, um faturamento que não tem teto e nem conhecimento. Vale a pena? Sim, todos fazem por prazer. Um professor de matemática tem que ter a frieza de lecionar e resolver problemas e equações violentas, sem nunca ter tido conhecimento deles. E o número considerável de pessoas empresárias que tem visões, sobre o futuro, precisas, para que o negócio seja bem sucedido. São profetas? Não, trabalham por e com prazer. Advogados decidem vidas, respondem por elas. São deuses? Não. São talentosos quando gostam do que fazem.

Existem maus profissionais? Sim, mas são profissionais que não se orientaram sobre o que escolher. Não pagaram um mapa a caminho de casa ou da casa onde ir. É relevante ter coerência e certeza do que fazer e fazer sempre o que gosta, para nunca roubar o lugar de um profissional que sabe e gosta do que faz e importante: jamais se preocupar com a renda. Pensar com o coração e não monetariamente.

A grande verdade de uma profissão é a definição que o certo é ser o pior dos melhores e não o melhor dos piores. Este é o resultado final. Assim, tendo a quem tentar se superar. No esporte isso é claro. Massa é melhor que Barrichello. Esta é a classe dele ou poderíamos chamá-lo, de melhor dos piores, querendo galgar a classe de cima. Assim é na música, na literatura, na medicina, no direito, jornalismo, construção civil, comércio e tudo mais.

O local dos melhores só entra quem faz com prazer. Se não, melhor ser nas maiores hipóteses, o melhor dos piores.

João Lenjob *
www.lenjob.blogspot.com
joaolenjob@yahoo.com.br

* João é meu primo e poeta, cronista nas horas vagas, todas as sextas feiras neste blog, fazendo o que mais gosta, e com prazer: escrever!

20 dezembro 2007

Perguntinhas Básicas

Recebi este questionário em forma de "meme", que me foi passado pelo Queiroz, que, por sua vez, recebeu da Luma...

Querem saber o que eu respondi? Leiam abaixo, please:

1. Volume total de músicas no meu computador
R: Quase 6 Gb, o que representa mais de 3.000 músicas...

2. Último cd que comprou:
R: Na verdade foram 2 ao mesmo tempo: "Johnny Cash & Willie Nelson - VH1 Storytellers", e "LOBÃO - Acústico MTV".

3. Música que está tocando nesse momento:
R: A que está grudada na minha cabeça: "Nem sempre se vê! Lágrimas... No escuro!" (Lobão).

4. Cinco músicas que você mais ouve ou significam muito para você:
- One - U2 - A música de amor mais linda do mundo... (ouço muito e sempre significa alguma coisa);
- Faroeste Caboclo - Legião Urbana - Simplesmente a música dos meus tempos de colégio (ouvia muito, sei cantar de cor, e me lembra dos velhos tempos);
- Wish you were here - Pink Floyd - Porque diz tudo (e lembra muuuuuuita coisa!);
- Baby - Mutantes - Porque eu amo mutantes, e amo esta música (ouço todos os dias);
- I am the walrus - The Beatles - Porque eu amo rock n' roll (ouço todos os dias)!

E eu não passo pra frente! Quem quiser responder, use a caixa de comentários, ou publique em seus blogs!

Ana.

19 dezembro 2007

Então...

Tudo bem que o Natal é a festa cristã em comemoração ao nascimento de Jesus. E tudo bem que todo mundo se esquece disso, e vira esta loucura consumista que todos falam, e blábláblá.

Mas eu ainda sou daquelas pessoas que gostam de Natal. Não só pelo o que eu já falei aí em cima, mas também por ser perto do meu aniversário e do fim do ano, por eu amar dar presentes - e ganhar também, é óbvio - pelas comidas deliciosas, frutas secas, por reencontrar minhas primas e primos, ver meus avós felizes juntando a grande família por mais um ano, a carinha dos meus priminhos mais novos quando encontram presentes embaixo da árvore de Natal na manhã do dia 25, etc, etc, etc.

Mas tem coisas no Natal que irritam até a mim, sabiam? Por exemplo: festinhas de amigo oculto, ter que desejar Feliz Natal pra todo mundo, decorações breguetésimas em tudo quanto é lugar, engarrafamento de gente nos shoppings, lojas e centro da cidade, automóveis aos montes enlouquecidos andando pelas ruas, e o pior: músicas natalinas!!!

Aaaarrrrgh! Não tem coisa mais chata, mais insuportável, que música natalina tocando sem parar no seu ouvido. Sério, se eu trabalhasse em shopping ou supermercado nesta época do ano, juro que eu surtava. Jingle Bells, Silent Night, White Christmas, We Wish You a Merry Christmas e por aí vai, simplesmente me dão nos nervos, com suas variações cada vez mais barangas em bandolins, violinos chorosos, pianos trinados, ou vozes desconhecidas.

Quem foi o "espertinho" que simplesmente decidiu que, só porque estamos próximos do Natal, todas as pessoas do universo querem ouvir músicas natalinas? E estas não ficam adstritas somente aos shoppings e supermercados... Se você for ao centro da cidade, ou até mesmo em alguma botique fina de bairro nobre, será obrigado a ouvir tais "hits" em suas versões mais irritantes, ou (pior ainda) com arranjos modernosos estilo lounge, como se isso fosse capaz de torná-las mais agradáveis...

Outra coisa que não me entra na cabeça: a decoração das casas nesta época. É um desperdício absurdo de eletricidade, e um exercício fenomenal de mau gosto! Imaginem a entrada de uma casa com quatrocentos-mil bonecos de "Papai Noel" de borracha, em forma de bóia ou balão? Pois tem uma assim aqui no bairro, acreditem se quiser. Passo em frente e me dá vontade de estourar Papai Noel por Papai Noel com uma agulha, só pra não me doer tanto mais as vistas.

E tem aquela, cujo dono é tão podre de rico que instalou uma "máquina de fazer neve" em frente ao portão, justo na estação mais quente do ano no BRASIL (que só se forçar muuuuuuito, tem uma nevezinha mixuruca, e, ainda assim, apenas na região sul, um dia ou dois por ano), com o verão prometendo ser o mais insuportavelmente calorento de todos os tempos, e, como se isso não bastasse, ainda suja de espuma (ops, "neve") todo o jardim e calçada defronte!

E aquela outra, com lâmpadas coloridas de todas as cores cobrindo TODA a fachada da casa, piscando freneticamente, tocando adivinha o quê??? Musiquinhas de Natal... Ou seja, se você mora em frente a esta casa, imaginará estar passando suas merecidas noites de sono e descanso em frente a uma boate de péssimo gosto. Eu dava um tiro.

Bem, deixando o meu mau humor de lado, termino este texto, e vocês já devem estar dando graças a Deus por isto! A verdade é que preciso ir ao supermercado fazer compras, que fica dentro de um shopping insuportavelmente cheio, com decoração baranga e tocando Jingle Bells sem parar.

É, já sei o que vou pedir de presente de Natal, para acrescentar à listinha anteriormente feita: PACIÊNCIA DE JÓ!

Ana.

Charge retirada deste site.

17 dezembro 2007

É de madrugada, é de manhã



Sinto cheiro de mar, e quero logo me afogar em tua imensidão, teus mistérios, deixá-lo me invadir, me preencher por inteira, me possuir, me dominar. Espuma clara, ondas negras, braços abertos e o vento a soprar. Vem cá...

Acho que sou flor, água marinha e amor, criancice, juventude, ansiedade. Deita aqui, vem descansar. Passeio em tuas costas, largas, vejo o teu rosto, calmo. Ataque de beijos, de mãos, pernas, cheiro de roupa lavada, camisa molhada e cabelo pintado, aço escovado, espelho no teto e ponho-me a cantar.

Pergunta-me quem sou. Quem é você?, devolvo em retórica. História que começou, livro que se acabou, desejo que se iniciou, beijo que se apegou, coisa que não quero parar, pessoa que não quero lembrar, sol, sorriso e brincadeira, me dá minha mamadeira, deixa eu brincar de ser seu bebê.

Teto iluminado, som desligado. Barulho de gente, duas pessoas já é demais. Mergulho em teu sorriso, e esqueço que é melhor nem lembrar do perigo que é amar. Não quero saber, agora eu quero você. Não dou, não empresto, não vendo, não divido. Nem adianta argumentar. Se não é assim, então prefiro parar.

Era o meu medo que não me deixava escutar a sua voz no meu ouvido, a chamar. Não, prefiro negar. É mais fácil, mais ético, mais seguro.

Dane-se tudo, já entrei no mar. Se a onda bater, vou me afogar. Virarei um peixe, uma serpente do mar. Sereia a flutuar, com algas marinhas, golfinhos e estrelas do mar. Conchas para enfeitar o jardim de um polvo instalado em corais, com pérolas e marfim, peixes ornamentais, caranguejos e um castelo de vitrais.

É de manhã, e você não está aqui. Sinto meu corpo cansado, minhas coxas doloridas, e certamente não foi de te beijar. Melhor bocejar, soltar um espirro matutino, acordar. Se foi sonho, mania de grandeza, adeus, preciso trabalhar.

Ana.

Photo by: La Mariposa.

*** Update ***
Então... A Mônika Mayer, leitora de blogs, indicou o "Mineiras Uai!" para este prêmio "Blog de Elite, assim, ó:

" porque todo mundo já percebeu que eu tenho verdadeira paixão pelo povo mineiro. Lá descobri o mundo das crônicas de João Lenjob e vira-e-mexe ando por lá tirando suas lições..."




Fiquei muito feliz com a indicação, e o João também, pela menção às suas crônicas. Mais ainda, por conhecermos mais esta leitora de blogs, no caso, do meu.

Inté!

Ana.

14 dezembro 2007

João Lenjob: Como Esquecer um Amor

Hoje nosso poeta está romântico... Nos presenteou com esta belíssima crônica, publicada originariamente em 2005 no seu blog. Deliciem-se!

PPJL

Como Esquecer um Amor
Como esquecer um amor? Fácil, se ele não for carinhoso ou chegar, permanecer ou sair sem beijo, não der atenção ou não enviar carta perfumada. Vou esquecer um amor, se ele não tiver toques, demonstrando ter a pele como uma pétala macia e gostosa. Se não aparentar ter lembranças e nem me telefonar na hora mais estranha do mundo.

Como esquecer um grande amor? Talvez não imaginando em se deitar com ele no limiar noturno em busca de um lugarzinho para ver a lua sorrindo. Ou achar que dá até para tocá-la, assim, anestesiados pela paixão repentina, pela noite também estrelada ou pelos abraços sinceros que completam o romântico ambiente.
Não esquecer um amor é fazer indiferentes as grandes diferenças. É distrair do universo e se reparar pensando em estar dançando no parque, onde a única música é o assobio de um singelo e atencioso passarinho, que só está ali para testemunhar o que para muitos seria um casal de bobos dando saltos, comemorando o nada, ou como se tivessem acabado de ganhar na loteria.

Está certo, vou esquecer um grande amor já tentando deixar de escrever esta, ou tentar dormir sem travesseiro, porque o amor seria um grande conforto que lembraria do pescoço, o amigo. Também não mais irei sorrir para não recordar do sorriso, e vou fechar os olhos para não lembrar do olhar. Impossível! Se fecho os olhos a primeira coisa que poderia me aparecer seria aquele par de olhos me fitando, olhando, chamando, clamando, suplicando, torcendo para que eu fique de olhos abertos; melhor permanecer de olhos abertos.

Não esquecer um amor é contar os minutos para receber uma notícia ou até a presença desta pessoa amada e lembrada sempre. É achar os seus defeitos uma bobagem e suas qualidades as mais relevantes até então vistas ou conhecidas. É consertar um equívoco ou controvérsia com uma simples troca de palavras.

Não esquecer um amor é ver nele todo personagem cinematográfico ou achar que toda música foi feita para ele. É olhar para todos os lados e achar tudo maravilhoso. É reparar na beleza da vida e eventualmente até se esquecer dos problemas. É ficar um tempo extasiado, não reparar a conversa alheia, gostar de vento frio ou querer tomar banho na chuva, duvidar que seja verdade, excitar-se só de pensar no grande amor. Sorrir quando se deve chorar ou estar em prantos quando era para estar alegre.

Não esquecer um grande amor é bater palma para todo mundo ou se preocupar se a pessoa amada está bem ou se pelo menos ela sabe que tem alguém se preocupando com ela. É querer ser médico, dar colo, ser o ombro, ser o ouvido, tudo o que ela precisa em qualquer momento do dia e da noite. É querer ser acima de tudo companheiro. É trabalhar para chegar ao cargo máximo de companheiro, a maior promoção da vida do grande amor.

Não esquecer um amor é fazer da felicidade dele a grande responsável pela sua. Não esquecer um grande amor é difícil desde que seja fácil esquecer que ele pode ter vindo velho, novo, pobre, rico, doente, sadio, preto, branco amarelo e até verde, maduro ou não.

Eu desisto, não tem como esquecer um grande amor. Mesmo que fique a eternidade sem vê-lo ou, francamente, não ter de que esquecê-lo. Para esquecer um grande amor, o melhor mesmo seria nem pensar em arrumar um.

João Lenjob *
www.lenjob.blogspot.com
joaolenjob@yahoo.com.br

* João é poeta, mineiro, nunca esqueceu um grande amor, já arrumou outros grandes amores, outros menores também...

12 dezembro 2007

Sweet December

Dezembro pra mim é um mês feliz. Tem cheiro de chuva, de sol, de verão, de ficar com a pele douradinha de sol, cheiro de flor (pelo resquício da primavera), cheiro de festa, de bolo de chocolate, de comida gostosa, cheiro de casa de vó, de perfume novo, de mudança de vida, de fim de ano, de planos mil (a começar onde será passada a noite do dia 24 pro dia 25, onde se festejará a passagem de ano, tirarei férias ou não, quais as metas para o ano que vem...), cheiro de pipoca e de cinema, cheiro de shopping, de roupa nova, de dama-da-noite e laranja lima...

Claro que tem a chatice do excesso de trabalho do final do ano... Parece que o mundo inteiro se esquece dos outros meses e deixa tudo para o último furo, o último instante, a última hora, o último suspiro. Quem manda pode, obedece quem se fode. E vamo que vamo!

Este ainda é o mês da engorda, pois com tanta festa por aí, haja malhação no dia seguinte... É ainda o mês da falência, pois sempre tem que dar uma lembrancinha pra fulano, outra pra ciclano... E aí, de grão em grão, o seu bolso fica vazio. E haja consumismo nesta época do ano... Espírito natalino uma ova!

É o mês dos "amigos ocultos" (ou "amigos secretos", como preferirem). Me diz uma coisa: há algo mais constrangedor e chato que amigo oculto? Pelo menos em festa de final de ano, não há não. Claro que não sou anti-social ao ponto de não participar, quando o povo todo do trabalho está dentro, mas que é chato, isso é. Melhor estar dentro que ficar só assistindo. (Leiam mais chatices sobre o amigo oculto no blog do Nando.)

É ainda o mês das datas mais importantes do ano (juntamente com o final de Novembro, é claro), quando aniversariam as pessoas mais legais da face da Terra: OS SAGITARIANOS!!! Vejam aí se uma criatura assim não é mesmo a mais jóia de todas?
"[...] Sendo tão versáteis e possuindo tantos talentos, os sagitarianos seguem uma grande variedade de ocupações em sua busca da verdade e autoconhecimento. Mesmo quando a astrologia tenta diminuir suas tendências profissionais mais prevalecentes e preferidas, a lista é longa. [...]
Não obstante, Sagitário é um daqueles signos paradoxais de dualidade, de modo que sempre existe algo de contraditório em sua natureza. [...] Alguns Arqueiros são joviais e brincalhões, outros são sérios e estudiosos. Uns são quietos e reflexivos, quase tão graves quanto os capricornianos. Em sua maioria, contudo, os sagitarianos são criaturas despreocupadas, que adoram brincadeiras fortes, não demonstrando receios ou preocupações, e para quem a vida é um grande jogo ou uma droga. [...]
Consiste em pesquisar uma verdade em primeiro lugar, depois reconhecê-la e, por fim, ser compelido a expressá-la sem temor, o que é válido tanto para os Arqueiros saltitantes como para os introvertidos e quietos, extremamente raros. É como querer alcançar a argola de latão e cair do cavalo no processo, formular um desejo a uma estrela cadente e cruzar os dedos das mãos e dos pés para dar sorte. Todo sagitariano é idealista e jogador ao mesmo tempo, em doses iguais. Eles gostam de cantar, desenhar e dançar, de jogar e arriscar-se. Também gostam de ler, estudar, observar, aprender, ensinar e viajar. Quando dois deles estão envolvidos em todas estas coisas (ou menos parte delas), a vida nunca é enfadonha. Pode ser exaustiva, mas de modo algum enfadonha. [...]
O perdão é uma virtude que os sagitarianos partilham [...]. Contudo, perdoar é uma coisa, pedir desculpas é outra. Dois arqueiros não terão facilidade para desculpar-se um com o outro, inclusive com outras pessoas. No entanto, eles sentem o arrependimento um do outro e, em vez de forçarem o assunto, simplesmente ficam dizendo coisas amáveis a torto e a direito, para indicar que não houve ressentimentos. Os Arqueiros jamais guardam ressentimentos. Eles admitem francamente que estiveram errados (quando acreditam nisso de verdade), porém o fazem com mais freqüência através de atos e não em muitas palavras, ou tornando a sorrir jovialmente, desta forma convidando a outra pessoa a esquecer o desentendimento, para que voltem a ser amigos. Sagitário encontra maneiras de expressar um "sinto muito", sem que palavras reais sejam ditas. Isto evita que se humilhem, mantém seu orgulho intacto e permite que as pazes, após uma briga, sejam mais ou menos indolores."
Tá bom, beleza. Muitos vão dizer que astrologia é uma merda. Mas na boa, quem me conhece, ou é sagitariano, arrepia quando lê essas coisas, pois parece que a autora me conheceu pessoalmente para escrever este livro...
Hoje é aniversário de BH, 110 aninhos. Da Marília Alvarenga também, e ainda da Fê, uma amiga de infância da época de colégio (não falarei as idades pois não quero criar controvérsias aqui, honestidade é uma coisa, sacanagem é outra!). Agora invertam a ordem dos números e encontrarão o dia do meu aniversário, que, obviamente, tinha que ser o dia do solstício do verão, o início da estação mais quente do ano... :-)

Ana.
Ps.: O nome do livro é "Os Astros Comandam o Amor", da Linda Goodman, Ed. Best Seller. Tem só 1064 páginas, que eu já li de trás pra frente e de frente pra trás...

10 dezembro 2007

Carta ao Papai Noel

Prezado Senhor Noel,

Em primeiro lugar, nunca sei como chamar o senhor: Santa Claus, Nicolau, Papai Noel, só Noel, Bom Velhinho, Pai Natal, etc. Poderia me esclarecer esta questão, para começarmos melhor nossa conversa?

Em segundo lugar, gostaria de dizer que fui uma boa menina (mulher, garota, jovem, adulta?!) durante este ano. Trabalhei demais, estudei (de menos), namorei (um pouco), briguei menos, chorei (demais), vivi (demais), sofri (um bocado), viajei (bastante, porém menos que queria), malhei (não o suficiente), gastei (mais que deveria), poupei (menos que gostaria), fiz amigos (muitos), reencontrei pessoas queridas, reatei amizades, escrevi bastante, conheci pessoas novas de todo canto do Brasil e do mundo, brinquei, dancei, gritei, esperneei, beijei, amei, decepcionei, presenteei... enfim, vivi com plenitude!

Sendo assim, aí vai minha lista (merecida, diga-se de passagem) de presentes. Sinta-se livre para me dar o que quiser (ou puder):

- Um notebook;
- Um carro;
- Um namorido;
- Um apartamento.

Ok, ok, brincadeirinhas à parte. Na realidade, o que eu gostaria de ganhar, mesmo, é o seguinte:

- O sentimento da minha mãe;
- A inteligência do meu pai;
- O carinho do Léo;
- A garra do Ângelo;
- A sabedoria do meu chefe;
- A determinação da Gil;
- A minuciosidade da Renata;
- A folga do Fábio;
- A cara-de-pau da Elaine;
- A determinação da Adélia;
- A graça da Donária;
- A cultura da Bela;
- A simplicidade da Lú;
- O profissionalismo do Daniel;
- A paixão da Marília;
- A sagacidade do Nando;
- A capacidade do André;
- A vivência do Renato;
- A graça da Gabi;
- A transparência do João;
- A barriga sarada da menina da academia que corre 2 horas todos os dias na esteira;
- O talento de um grande escritor;
- Uma pele de pêssego;
- A ingenuidade de uma criança;
- A alegria de uma escola de samba;
- A música de um piano;
- A voz de uma soprano;
- A agilidade de uma borboleta;
- A liberdade de um passarinho;
- A beleza de uma flor;
- Arte, muita arte!

Ah é, quase me esqueci: o fim da fome no mundo!

Será que estou pedindo demais? ;-)

Ana.


(Imagem retirada da internet.)

07 dezembro 2007

João Lenjob: Conversa Fiada

Excepcionalmente hoje, as atividades extra-curriculares da administradora deste espaço durante o restante da semana não permitiram que a crônica "Lenjobesca" fosse postada pela manhã, como é de praxe... Mas 'anfan', chega de papo pra boi dormir. Aí vai ela!

PPJL

Conversa Fiada

Ao pé da letra, conversa fiada seria um papo para um pós-pagamento. Entretanto, no vocabulário popular, conversa fiada é a formosa conversa jogada fora. De gente que não tem o que fazer? Nem sempre. Geralmente é de gente que tem o que conversar. Vai muito além do limite individual convencional. Muitas vezes o assunto é ligeiro, médio ou totalmente pilhérico e outras vezes o assunto é até muito sério, mas que pos suas eventualidades do momento ou do local, chegam a destino sem a contribuição do verídico e acaba se tornando um absurdo.

Este nosso famoso papo furado pode viajar por diversos lugares e datas... Pode ser tema carnavalesco ou notícias do cotidiano como esporte, religião, economia e cultura, mas tem papel relevante e deixa de ser furado ou fiado quando a sua fonte é política. Seria um disparate, um papo furado ou conversa fiada sobre a política brasileira? Não! É a realidade mesmo. É a única divergência desta nossa crônica.

Sobretudo, a conversa fiada torna-se muitas vezes dúvida ao receptor de uma mensagem, indiferente a coerência dela. Se o indivíduo perdeu no xadrez tendo de frente a rainha e duas torres. Ou se perde no jogo de cartas "Buraco", com mais de mil de frente e quase no final. Ou o sobrevivente daquele acidente de carro cujo resultado, é um carro plenamente destruído. Pode-se acreditar em disco voador? Milagres e seres folclóricos e super-heróis de mentira. E o de verdade?

Observa-se também a tonalidade variante conforme o emissor. Tem indivíduo que pode se exaltar, tentar, querer, aumentar ou até extrapolar. De nada adianta. Não existe um ser capaz de acreditar que aquele foi o emitente do despautério, por se tratar de uma pessoa íntegra, séria. Por outro lado, um contador de causos, experiente no quesito “lábia”, pode de todos os possíveis meios, tentar contar algo verdadeiro, real, sincero e até necessitar de crédito caso o assunto em pauta seja urgente, mas este, coitado, não será respeitado por seus ouvintes.

Lugar onde se tem com grande freqüência a conversa fiada é o típico e famoso velório. Ao chegar a um, a primeira tolice é observada logo na porta, onde um sujeito indaga com o outro o motivo do falecimento do defunto. Comenta-se anorexia e o rebate é contaminação pelo vírus do HIV, mas na realidade foi uma pneumonia crônica.

No primeiro corredor do ambiente fúnebre também há uma senhora, dizendo a outra que a vítima estava falida e a outra senhora dizendo que não, que o pai havia combinado de quitar todas as dívidas, só que a moça acabou indo desta para melhor, mas sempre teve suas contas em dia, deixou de herança para os entes queridos duas casas, dois carros e uma série de bens.

Por fim, apareceu um camarada fazendo o maior discurso da cidade, dizendo que cicrana era uma mulher de caráter, integridade, nobreza, fineza, que era exemplar, boa filha, excelente mãe, irmã prestativa, amiga zelosa, moça prendada, trabalhadeira e tantas outras qualidades que fica até difícil de acreditar que cabe tanto numa pessoa só, mas o impertinente rapaz não conhecia a moça que falecera... Não se sabe se o camarada estava lá contratado ou se dava início ali a um grande futuro político!

Tem também o dia bom para cometer tal gafe. É só recordar do tal primeiro de abril. Neste dia, quem se esquece que ele representa o dia da mentira, acaba caindo inúmeras vezes e sempre que diz que vai pegar alguém, acaba esquecendo.

Muitos podem acreditar que esta crônica foi com verdadeiro teor, cunho relevante e sério. Mas não, foi uma tamanha conversa fiada.
João Lenjob *
* João é poeta e mineiro, e escreve neste blog toda 6ª feira. Nos outros dias da semana, adora uma conversa fiada puxada numa mesa de bar, porque este sim, João, lugar melhor não há!

05 dezembro 2007

Realismo Impossível

Sabem quando você não tem nada a dizer? E acaba falando demais por não ter nada a dizer? Ou então não fala nada, e aí a situação piora? Pois é.
Sabem quando você precisa falar algo, e a pessoa precisa ouvir, mas você não tem nem sequer vontade de falar ou ligar ou escrever contando? Sabem quando fica entalado? Sabem quando a respiração engasga e a garganta aperta, e a sua vontade é de gritar ou bater ou xingar ou chorar? Pois é.
E quando você se sente vazia e gelada, após engolir um balde d'água gelada, queimando tudo por dentro, sabem? E quando a gente descobre que acreditou demais, deu muita corda e ninguém deu a mínima, sabem também? Pois é.
Então aposto que sabem quando, alguns minutos depois de um rompante de ódio e raiva você se sente mais leve, mais livre... Ou quando a gente solta um pássaro de uma gaiola e o vê voando livremente, a priori levando uns golpes do vento, meio cambaleante, mas depois flutuando no ar, planando, voando alto, para cima, sentindo a liberdade... Ou quando dá um primeiro beijo, ou quando tem um encontro interessante, ou quando se sente solteiro, mas não sozinho, já que tem a si próprio... Pois é.
Eu, passional, no sentir, no viver, no gostar, no gozar, no me jogar completamente, sofro demais. Amo demais. Mas ao menos, vivo demais. Talvez eu precise mudar. Ou não.
Pelo menos eu não bebo (muito), e estou vivendo (bem, obrigada). Tem gente que não bebe (pouco) e não está morrendo: já morreu.

(Stricto et lato sensu.)

Seja realista... Exija o impossível.

(Seja realista... Exija o impossível.)

Texto e foto: Ana.

02 dezembro 2007

Meu tio é o cara!

Então...

Só meu Tio Jaques mesmo. Diretamente de Palmeirópolis, no Tocantins, saudoso do restante da família que vive espalhada pelo Brasil, vive a fazer graça, mandando os videozinhos mais hilários pro Youtube... E não é que ele descobriu um novo "talento"?

Com vocês... MAICOW NITE! O mais recente hit 'youtubesco'!

Ana.

Ps.: Este vídeo já foi copiado no youtube por mais 02 pessoas, confiram:

* Update: Acreditem se quiser, o vídeo do "Maicow Nite" (versão legendada) está no portal UAI!

30 novembro 2007

João Lenjob: O Planeta Doente

Nesta sexta-feira, nosso cronista convidado deste blog nos fala de um assunto incômodo e indigesto... Afinal de contas, é tão difícil pensar no futuro com tanto consumismo, não é mesmo?

PPJL

O Planeta Doente

O mundo pede por socorro de forma desesperada. Seria por acaso, conseqüência do destino, relacionada à velha idade do planeta e será que ele já está assim idoso? Estaria o planeta sofrendo de infecção generalizada ou outra doença qualquer ou o ser humano está realmente assassinando o seu nobre e único lar? Há algum tempo ouviu-se por aí dos raios ultra-violeta e camada de ozônio, mais câncer de pele e até punição divina. O que acontece é que os grandes governos são os maiores responsáveis por este desaforo e falta de respeito com a natureza, fauna, flora e companhia limitada, pelas inúmeras empresas sem controle de poluentes químicos e em muitas vezes, localizadas em países pobres, como o Brasil.

Outra causa é a falta de esclarecimento das pessoas referentes aos acontecimentos que vêm acontecendo com enorme freqüência e com a prevenção das graves feridas que o nosso chão vem sofrendo. O ser humano, animal mais racional dentre todos os seres vivos, ainda não se inteirou de que a Terra é a nossa casa. Não existe a consciência de que cuidar dela é zelar pelo patrimônio pelo qual se foi arrendado todo e qualquer tipo de vida. Que se a natureza teve afeto infinito da perfeição, da beleza majestosa e expressiva e do cuidado intenso e preciso para com as pessoas que neste chão pisam, deveríamos agir de forma igual ou superior com esta preciosidade. No entanto, notamos cada dia mais espécies diferentes de animais em extinção.

Estamos desmatando todos os cantos, poluímos ar e água e chegou o momento infeliz do grito de dor do meio ambiente. Com tamanho descontrole, a camada de ozônio, nossa cobertura contra os fortes raios solares, começou a ceder, aumentando significativamente a temperatura do planeta, fazendo com que os blocos de gelo polar, num prazo curto, se liquefizessem, ameaçando a inundação de estruturas urbanas, como também de áreas onde a natureza mais aplicou sua criatividade, como a Mata Atlântica, ou outros locais fantásticos em todo o mundo.

Fenômeno semelhante aconteceu na Indonésia há alguns anos – país mais conhecido como “paraíso”, e visitado por turistas e esportistas de todo o mundo – quando foi cruelmente atingido por uma revolta natural provocada pelo descontrole ambiental. Um gigantesco maremoto invadiu, de surpresa, as mais belas praias, assassinando milhares de pessoas, residentes ou não. Ambientes não propícios à incoerências ambientais como esta têm recebido os mesmos tratamentos: furacões, terremotos, tornados... E têm feito do olhar humano um acúmulo de medo e, enfim, a idéia de cuidado.

Infelizmente este afeto humano pela natureza, a ponto até de gerar consenso entre fronteiras que nunca foram “amistosas”, ainda não foi capaz de focalizar a Terra como doente em fase terminal. Lutar para e por ela e, principalmente, pesquisar, coletar dados importantes, informar, orientar e ensinar todas as classes sociais, punir e dar as mãos quando necessário, a fim de salvar este maravilhoso planeta.

Houve um tempo em que a tuberculose matava o homem infectando os pulmões. Problema sanado. A ciência não vai demorar, para descobrir a cura do câncer, que é criado em células do próprio organismo, e até o HIV, que é vertente de relações entre os seres, já pode ser seguramente estabilizado. E a Terra? Está com os pulmões infectados, suas próprias células, o seres humanos, a destroem, e as relações entre seus seres, fauna, flora e humanos não andam bem. Isso tem cura?

João Lenjob *



* João é poeta e mineiro, e escreve neste blog toda 6ª feira. Nos outros dias da semana, procura por um lugar menos poluído pra se viver, e ainda não encontrou...

28 novembro 2007

Fragmentos

Arranca-me da tua cabeça e faz-me rir. Olha-me com teus olhos nus e sorri.
- Estás rindo de mim?
- Não, para você.

Me olho no espelho, e falta uma parte da face. Deixei ali, jogada pelo travesseiro, junto com o secador de cabelos. Estava molhada, não prestava. Preciso usar minha máscara de mulher forte, engraçada e sabichona.

Você levanta e diz que quer dançar, tomar um refresco, um pouco de ar. Diz que a vida não presta, e que é tudo mesmo assim. Vira pro canto e não liga pra mim.

Me embriago de vida, de histórias, de vento. Me encho de Lua, de terços e santos, me sento. Rezo. Rezo tanto!

Levanto a blusa de cetim, suja do meu corpo. Cansada e trouxa, fico nua no beiral.
- Será que ele me viu assim?

Paro e lembro da noite anterior. Perfume de xaxim, lirismo de jardim, um pouco de sangue no álcool pra ver se vai dar pé.

Como contar uma história se ela não tem fim? Se não é feliz, e se nem triste é. Não me faz chorar, nem me emociona. Não solto gargalhadas sem fim, não sinto saudades, não.

Pra quê contar, então? Não contarei.

Calo minha boca. Dormirei assim, sorrindo, nua no beiral, junto ao vento, no sereno e ao relento, suja do corpo, da trouxa, do riso, do gozo, do mofo, do moço, que um dia sorriu pra mim. Sou fragmentos de mim.

Texto e foto: Ana.

26 novembro 2007

Paulicéia Delirante

Sempre que vou a São Paulo é assim. Sensação de que tenho que voltar lá mais 1.000 vezes pra ver e fazer tudo o que quero, absorver tudo o que tem para absorver, encher os olhos e a alma de tanta cultura e coisas bonitas. Sempre o tempo é curto, pois, de fato, naquela cidade ele passa mais rápido, o dia é menor, e as horas não são 24, e nem têm 60 minutos. As coisas são mais distantes, e maiores. Sou uma formiga na multidão de concreto.

O bom disso tudo é saber que lá todos são formigas, habitantes do mesmo espaço, comunidades diversas que se fundem e habitam o mesmo louco planeta São Paulo, em busca do mesmo delírio de vida. Influências americanas são inegáveis em tudo por lá, mas não há mesmo como não comparar Sampa a New York, em sua grandeza, diversidade, cultura. Ao mesmo tempo, tudo é muito brasileiro, muito tupi-guarani, muito italiano, muito libanês, muito árabe, muito japonês, muito português, tudo é muito... São Paulo!

Interessante reparar nos sotaques e costumes de cada bairro, com suas influências de diversos locais do mundo, e na paulicéia delirante, que vive num pulsar frenético movido a fuligem, dinheiro, café, cerveja, pão, metrô, cinema, teatro, cultura, diversão e arte. Comida para quem precisa. E reparar em como tudo lá é tão diferentemente escancarado e notório e especializado. Putas são putas. Doidos são doidos. Ricos são ricos. Pobres são pobres. Tudo é ao mesmo tempo, e nada é perto. Não há meios termos.

Ao contrário do que muita gente pensa, paulistas são simpáticos e prestativos. Atendem bem, acolhem, gostam do povo mineiro (ou seria das mineiras, uai?), seja ele japonês, clandestino, ou ilegal; e têm pressa, de tudo. Parece que têm pressa de viver. Falam muito, bebem muito, trabalham muito, dormem muito (nos fins de semana) e muito tarde (todos os dias), curtem muito. Mas também, numa cidade que nunca dorme e que tem vida própria, parece que cada esquina e cada muro e cada pedaço de chão têm uma história pra contar, e lá a pressa é amiga da perfeição.

Profissionalismo, pontualidade, delicadeza, sensibilidade. É como vejo tais criaturas, habitantes da maior metrópole do Brasil. E é com muito orgulho, convicção, e carinho que os chamo de MEUS AMIGOS.

Para: Bela (amiga e companheira de viagem), Nando e Alex (queridíssimos anfitriões), Márcio (nobilíssimo prefeito, o único que me recebeu com uma tulipa de cerveja derramada, foi a emoção, a emoção - rs), Clayton (aquele que tem a profissão carimbada na testa), Marco Vergotti (o CDF caxião mais fofo de todos) e Flávia (florzinha mega carinhosa), Karlinha (a luz em pessoa), Paulo DAuria (ele fala com os olhos, é impressionante), Caio (mesmo na ausência e no stress)...

Ana.

23 novembro 2007

João Lenjob: As Cinco Quadras

Na sua crônica de hoje, o poeta João Lenjob conta de maneira curiosa uma experiência extra-sensorial na cidade do horizonte belo... Bora lê um cadim?



PPJL



As Cinco Quadras




Ainda bem cedo, nota-se um largo mundo novo com serra sinuosa que desperta o finito do horizonte que dá nome à cidade. Pessoas que vivem e fazem a “silhueta formigueiro”. Ninguém é de ninguém. O mundo é de todos. Pelo menos nesta citação, é um conjunto de mundos para cada ser ali, passageiro.

De início a exibição de um perfil mais preservado. Pessoas andam rápidas, outras muito vagarosas e ainda hoje, no século vinte e um, há quem cumprimente, na forma mais literal da palavra, sem conhecer. Com generosidade e nostalgia. Por aí passam ambulantes, mágicos, doentes, muitos doentes, e até artistas e poucas pessoas atenciosas a todos estes gêneros. Assim é o desfile cotidiano da das cinco quadras iniciais da Avenida Afonso Pena, capital mineira.

Fiz questão de sair de meu mundo e arriscar e vasculhar impetuosamente cada mundo ali presente, numa aventura que é muito bom recordar. Perdi-me meio às diversas pessoas de idades diferentes e vi prantos, sorrisos e sonhos. Conversas moles, fiadas e até quem acredite num futuro plausível para o país, estado e cidade.

Os aposentados sempre foram ali os mais elegantes. Quando não se unem a grupos de colegas, para assuntos extras, esbanjam saúde e grande sanidade ao vencer os mais jovens nos xadrez, dama, dominó ou cartas. São lugares interessantes que cabem também comerciantes, banqueiros, bancários, desempregados e consumidores. Acha-se de tudo e, sobretudo, o sotaque local com variadas formas do “trem”. O único lugar que uma lotação que passa por ali é “trem” e também carros, motos, bicicletas ou a rápida visualização de um helicóptero ou barulho de um avião. Também é muito comum o universo de palavras reduzidas, sintetizadas, que é identificável muito facilmente, apesar do desconfiômetro e da timidez de caráter mineiros. Logo se ouve “comé qui ce tá?” Ou “nooooooó!!!!”.

Dentre outros milhares. Cruzando o pirulito da Praça Sete, nota-se várias tabacarias que pode-se degustar o mais famoso “cafezim” brasileiro e o mais nobre e inesquecível “pãozim de queij”. Pessoas sempre comentam e discutem do futebol do fim de semana, com mais freqüência sobre Atlético e Cruzeiro, e mais pênaltis, faltas, roubos e enfim, gols. E assuntos políticos, mais comíssios e bandeiras, bandeirolas de todos os partidos e também a circulação de policiais com suas fardas, coturnos e rádios e, algumas vezes, cavalgando por sobre cavalos quase que reais.

Curiosamente, a correria de gente não acaba, e o cruzamento de mundos também não. Mas ao fim do itinerário, o volume de pessoas é menor e também é diferente o perfil. Aparecem mais vestimentas brancas, lembráveis da proximidade com a área hospitalar da cidade e em alguns horários do dia tudo neste trecho lembra um desfile de estilistas. Não é um desfile de modelos. É de estilistas mesmo. Vertência dos eventos artísticos do Palácio das Artes, que fazem de alguns expectadores os “concorrentes do brega”. Vê-se novamente de tudo, só que com requinte e enfeite. A grande maioria longe do convencional.

Somados por metro quadrado, torna-se fácil elaborar uma estatística e perceber que qualquer cidade tem estes mundos, variando proporcionalmente à população, mas o “cafezim” e o “pãozim de queij”... é só em Minas mesmo.

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br






* João escreve neste blog toda sexta-feira. No resto da semana ele discute sobre Atlético e Cruzeiro e caminha pelas 05 quadras da Av. Afonso Pena, apreciando este belo horizonte...

21 novembro 2007

Menininha

Eram apenas alguns poucos quarteirões, mas suas perninhas curtas e grossas, da herança familiar, davam passos tão miúdos que faziam-na cansar, e o tempo se multiplicava, e 15 minutos pareciam 3 horas. O asfalto cinza contrastava com o colorido de sombrinhas, roupas e pessoas. Carros subiam e desciam a avenida, com pressa de chegar a algum lugar.

O mundo lá fora era barulhento. Não tinha vozes de crianças, não se jogava amarelinha, nem se brincava de rouba-bandeira. Ruídos eram os das máquinas de quatro-rodas, das conversas adultas e dos morcegos que rondavam a região.

Engraçado como as árvores frondosas e centenárias, tão ornamentais e úteis para a cidade, no seu papel de refresco e retenção das águas das chuvas, poderiam abrigar seres tão medonhos e horrendos. Morria de medo quando tinha que fazer o percurso a pé, dos tais poucos quarteirões que a levavam da escola à casa, naquele horário de lusco-fusco, começo da noite.

Final de ano era chuva na certa. E às 18h, quando batia o sinal do Colégio e os coleguinhas entravam nos carros dos motoristas dos pais abastados, era sua hora de bater perna morros acima. Coraçãozinho disparado, mochila pesada, não podia correr. Havia uma casa... mal-assombrada. Nunca vira movimento algum lá dentro. Dizem que era habitada por fantasmas, e pelas sombras que rondavam por ali, habitantes das trevas e da enorme árvore, torta e cheia de sulcos e reentrâncias. O tronco negro, só podia ser oco, a casa dos seres das trevas, as raízes expostas eram como braços, querendo abraçá-la e levá-la lá pra dentro.

Passava sempre quase correndo , evitando olhar, com medo do que poderia ver. Jurava ouvir gritos de horror, ranger de dentes, e aquele cheiro de terra molhada de chuva e de musgo, que para ela, àquela hora da noite e naquele local assustador, parecia cheiro de mofo, de gente velha descuidada, de morte.

Mas era só o dia clarear, a luz do sol penetrar por entre as frestas das folhas, traduzindo num translúcido verde, cristalino e cintilante, para sentir o perfume de alecrim e lavanda que habitava os jardins das casas. E as sombras não mais ali estavam, dormiam naquele horário. E o sinal da escola já batia, e ela corria, para não se atrasar. E recreio, e morrinho, e terra, e suor, e bola.

E ela não poderia imaginar que um certo tempo depois, faria parte do mundo preto e branco e cinza dos adultos que circulavam por ali quando era menininha, com suas pastas e sombrinhas sem graça, sem sentir cheiros, sem ver as sombras e nem os morcegos - que se cansaram mudaram pra outro lugar.
E a árvore frondosa da infância da sua vida fora cortada pela nova moradora da casa mal-assombrada, deu até no jornal, virou notícia. E o muro ganhou pintura nova e portão de metal, guarita e interfone. Deve ser pra proteger dos fantasmas, os antigos moradores, expulsos de lá pelo adulto que tomou conta de seu peito, sem saber que a menina de pernas curtas e grossas, ainda estava lá, latente, assustada mas feliz, correndo, correndo, correndo...

Texto e foto: Ana.

19 novembro 2007

Vagalumes e conta-gotas

A quem poderia ser grande, dou o meu anão de jardim.
Àqueles que riram do meu cabelo, dou-lhes um cacho - de bananas - para guardarem de lembrança.
A você que me nunca me viu chorar, dou uma mini-garrafa com água do mar.

Se você nunca passou por aqui, dou-lhe um pedaço de papel para que anote aí:
O oposto de uma grande verdade é outra grande verdade...
E o oposto de uma grande mentira, o que é o que é?
É ladrão de mulher.

E ao palhaço que um dia sorriu pra mim, dou uma lágrima e uma caixa de clear-skin.
E à moça que espera na janela, dou um aceno de mão e uma rosca de canela, rosa alaranjada, cravínea na lapela, dentes brancos e um tapa na pantera.
À banda que me viu passar, dou um chicote e um serrote, fagote, pandeiro e caixote. Microfone sem fio, batuque na cozinha, capoeiristas e um violoncelo, que é pra rimar com amarelo.

Você que nunca me amou, dou um mamão e um espetinho de coração - de galinha - com farofa e milho verde, vinagrete e molho bechamel. Pinga com mel.


Canto uma cantiga antiga e dou uma paleta de cores pra pintar. Te pinto um sorriso na cara, e te encanto numa careta. Vai um café au chocolate? A-dô-lê-tá.

Puxo o rabo de cavalo da menina ao lado. Dou uma meia usada prum pé dum muleque. Vou na gangorra, brinco de masmorra, rio, torturo, faço amor com um sonho. Na pracinha escureceu.
Vagalume de estrelas e perfume de morfeu.
Me deu um beijo e morreu.


"... que sonhos traz o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos
toda a meada mortal: isso nos põe suspensos..."

(W. Shakespeare - "To be or not to be")

Texto e foto: Ana.

16 novembro 2007

João Lenjob: Sabe-Não Sabe

Hoje nosso poeta publicou aqui uma prosa bem interessante... Você sabe do que eu estou falando? Pode até saber, ou não, quer dizer, você é quem sabe. Não sabe?

PPJL

Sabe-Não Sabe

Estamos no tempo do “sabe-não sabe”. No momento triste que não sabemos se ou quando podemos acreditar em quem oferece pifiamente seu interesse puro e inocente de governar, de representar. Chegamos num merecido ponto de não correspondência. O declínio chegou ao limite. Até então faltava ser vítima de esquerdistas.

Há pouco tempo atrás, nossos atuais políticos eram aqueles que fortaleciam e protegiam o lado popular, creditavam nossas esperanças e orientavam nossas cegueiras. Descobriram o buraco celeste brasileiro e omitiram os mensalões dos oposicionistas. Não sabemos ainda por quê, mas hoje temos certeza que houve sobretudo benefício com isso. Ao mudar de plano, literalmente de lado, foram-se as pessoas, nossos políticos, deixando só os seus postos, assim como seus ideais, mentiras, corrupções e promessas. No final, ninguém sabia de nada.

Estes representantes que julgam o caixa dois de empresas pequenas foram os mesmos que o usaram em favores pessoais. Um crime legítimo que, segundo eles mesmos, dá cadeia. É verdade, acontece com pessoas não favorecidas e não protegidas pelas leis que quem domina e faz delas o que quer são os próprios governantes.

Ainda vivemos sob a falta de qualidade de vida. O país passa por um momento delicado, quando o povo começa a desacreditar nas promessas e em tudo o que acontece hoje e está exibido em jornais ou revistas, só de corrupções generalizadas. Nas estradas onde não se é aplicado a necessária estrutura que deveria sair dos pagamentos dos impostos. Na saúde onde não se tem medicamentos e em muitos lugares não tem nem atendimento. Novamente, cadê o dinheiro dos impostos? No saneamento básico medíocre. Nas altas taxas de juros que é uma violência contra o contribuinte, e até no esporte.

Governantes negaram a cassação da oligarquia esportiva brasileira. É vergonha que não cabe mais e ninguém sabia de nada. Hoje talvez, possamos gastar menos tempo numa viagem de ônibus do que de avião, e só por causa de benefícios específicos e trabalhos mal feitos. Isso não acontece só em virtude do tempo parado em sala de espera ou nas filas de “chek-in”. A nossa estrutura aérea inteira é um desastre, o Brasil está um desastre. Isso porque eles não precisam disso. Todos têm aviões especiais, helicópteros, jatos e viajam por nada, por todos os cantos do mundo, com sorrisos estampados que envergonham muito mais seus eleitores, esbanjando uma situação propícia ao fracasso.

O que passamos hoje não começou de pouco tempo pra cá. Estas pessoas negativas estão na frente do país desde o império, aproveitando-se da inocência do povo para garantir de forma esperta seus benefícios. Uma crueldade, imoralidade, com finalidade de “ganhar dinheiro”.

O voto que parecia ser tão precioso, hoje está fardado ao nada. Normal não querer votar, eleger um deputado, presidente. Sabemos em quem estamos votando?
Não, não sabemos de nada.

João Lenjob *
www.lenjob.blogspot.com
joaolenjob@yahoo.com.br
* João escreve neste blog toda sexta-feira, e esta já é a 4ª crônica dele por aqui. Nos outros dias da semana ele filosofa um tiquim sobre a politicagem no país, se irrita com isso, vai ao Mineirão xingar ao juíz, e depois escreve poemas no seu blog pra descarregar...

14 novembro 2007

A Amiga

Falava sempre aos amigos, de uma tal Donária. Nunca ninguém a viu, mas parecia ser uma amiga engraçada, sempre com os casos mais esdrúxulos a contar. Todos perguntavam, em coro:
- Dô-o-quê?
- Do-ná-ria!
- Que nome diferente!
- Pois é...

Donária era sua companhia para as aventuras mais hilárias. Jogar pedra no rio, catar coquinho, fazer guerrinha de mamona, pular o muro de casa, roubar manga do vizinho, beber até cair, dançar no balcão do bar... e por aí vai.
- Mas que doida esta Donária, heim?

Atiçava a curiosidade de todos. Donária já fora loira, já tivera os cabelos lisos, já fizera permanente nos cachos e usara lentes violeta. Donária já fora para a Europa, já lera todas as obras de Graciliano Ramos, já tivera a coleção inteira do Iron Maiden, já fora num show dos Beatles e já beijara o Jim Morrison. Donária era amiga da filha do Cartola!
- Essa Donária é danadinha mesmo, heim?

Aprendera a nadar com a Donária. A sorrir, a brincar, a dançar e a chorar com a Donária. Era ela que lhe ensinava as maldade dos homens, e lhe contava das maravilhas mundo afora. Era ela que falava inglês com sotaque britânico perfeito, e que inventava os apelidos mais engraçados para os outros.
- E que dia vamos conhecer esta Donária?

Certo dia, ligou para a mãe, dizendo que estava no Shopping com a Donária, na loja tal. Mas sua mãe era esperta, pegou o carro e foi pra lá. E qual não foi a sua surpresa quando a mãe ali chegou, perguntando por Donária?

Donária era sua amiga... Imaginária!


Texto e foto: Ana.

Ps.: Este texto é para a Donária, que não é amiga imaginária!

12 novembro 2007

Ao medo

Paraliza, refrigera, condena.

Achei que nem estava ali. Do meu lado não, tenho certeza. E mais um passo meu à frente e você surge, imponente, turrão, a própria Grande Muralha da China, instransponível e monumental. Me empurra de volta, guilhotina de sonhos, catapulta de horrores.

Por que faz isso comigo? Gosta de me irritar?
Não faz a mínima questão, não é mesmo? Brinca com meu brinco, me olha, me joga, me pinta, me acusa. Me chama de querer bem, ignora, me esfrega na cara sua covardia, teimosia.

Diz uma coisa: é chato ser chato? Pois eu penso que até se diverte com isso. Zomba com a cara dos outros. Protege seus erros, recua... Justifica que assim tenta poupar os outros do próprio mal. Balela.

Você se esconde. Vive no crepúsculo, nas metáforas, no chove-não-molha, não chora, sem jogo, sem dor. E não vê que é assim que joga mais... Receio da chuva? Um gole d'água no peito faz até bem. Bebe e aceita um lampejo de cristal nos olhos faiscantes, e um girassol brota em seu ouvido, e sussura sobre moças de vestido de cetim azul e bigodes de gatos e flocos de neve e... A luz se apaga, o cinza te consome... Mais uma vez.

Menino assustado, você não passa disso. Sobressaltos com a própria sombra, vive à margem da grande imagem do que pode vir a se tornar. E assim, não alcança, nunca, a tela do cinema do filme da tua vida.

Eu sei, você sofre com isso. Inventa diversões e casos engraçados, histórias que nunca viverá, foge do assunto, finge que nem é com você. E ainda assim, sofre.

Mas eu sei que você queria ser livre pra atravessar o céu num suspiro, abraçar o mundo com um dedo, e carregar o suor das flores no cheiro da chuva. E você me inveja por isso.

Pois eu sei,
eu faço,
eu sinto,
eu choro,
eu brinco,
eu coro.

Eu sou mais eu. Amora e tangerina, baunilha com orquídeas em flor. Mais um passo e caio do edifício, na difícil tentativa de viver.

Prefiro o salto (alto).


Texto e foto: Ana.

09 novembro 2007

João Lenjob: Sonhar Acordado

Na crônica de hoje, nosso correspondente especial dá uma de expert em sonhos. E num é que o resultado ficou bacana? Ó só:

PPJL

Sonhar Acordado
Um dia aprendi a sonhar e que podia sonhar. Daí, eu percebi que sonhar acordado era muito melhor do que dormir e deixar simplesmente o momento levar ou conduzir os sonhos conforme sua natureza. Prefiro sonhar acordado a escolher o que sonhar. Sentir-me feliz com esperanças criadas, emanadas de cotidianos que a vida produz. Com realidades que talvez jamais sacie, mas que me delicio ao esperá-las, imaginá-las, acreditar nelas e criar então tamanhas e inúmeras expectativas. Projetar, organizar e até oferecer.
O mais interessante é que sonhamos até para os outros, numa generosa forma de crer que isso facilitará a construção, elaboração e conclusão deste foco, e quase sempre por pensamentos de zelo e afeto, acordados. Claro! Quando visamos algo, temos a alegre esperança de que haverá a realização deste e, conseqüentemente, a luta é mera vertência de um sonho. Visamos, sobretudo, algo para o amanhã sempre que concluímos um dia. Interessamos por algo que não aconteceu e sempre existe a tentativa óbvia de querer o melhor, mesmo que a situação esteja de fato “preta”; mesmo que estejamos passando por momentos negativos e mesmo quando somos pessimistas. Nestes momentos somos positivos, sonhamos acordados.

A realidade dificulta expressivamente muitos sonhos, mas sempre sobra espaço para fugir dela. Pensamos em conquistar coisas e alternativas incomuns. Sermos personagens de tevê ou cinema, talvez até conquistá-los, e mais “misses” e “misters”, atletas, modelos, políticos, carros, imóveis, loterias, trabalhos, vestibulares, vitórias, alegrias, curas e enfim, um dia amanhã que seja melhor que o de hoje, de ontem ou sempre de um passado bem próximo.

O sonho acordado é tão bom e tão divertido que nele não há tristeza, não há pranto, não há melancolia e muito menos solidão. Somente o objetivo, a vontade e a torcida que o resultado venha interessante, mesmo quando ele é de fato assim tão complicado e difícil de acontecer. Sonhar acordado não é resultado de pesquisas diversas, e sim o perfil adequado de onde nos espelhamos. Por isso é tão importante ter estes momentos de esperança. O sonho acordado é o maior de ser e fazer feliz. Meio de acreditar e deixar-se lutar. Sonhar acordado é muito bom, muito melhor do que dormindo. É o crer na gente e também na vida.

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br


* João escreve neste blog toda sexta-feira, e eu tô adorando isso! :-)

05 novembro 2007

CONGADO

CONGADO
(Para meu primo Haroldo.)

Vem tum-tum
Tum-tum chegou
Passa tum-tum
Que eu tô aqui

Ilê tum-tum
Tum-tum lá vem
Bate tum-tum
Que eu bato também

Tum-tum é rei
Rainha também
Tum-tum é de pedra
De sal e de água
Tum-tum vem da terra
Princesa de África
Tum-tum vem do solo
De mãe, de pai

Tum-tum é de ouro
Minério de ferro
Bate tum-tum
Que eu bato também.


Texto, foto e vídeo: Ana

02 novembro 2007

João Lenjob: Gerundismo

Hoje é sexta-feira, e quem "vai estar falando pra vocês" é nosso colunista semanal...

PPJL

Gerundismo
Tanto se fala hoje deste tal de Gerundismo. Muitos ainda nem conhecem tal termo, mas o importante é que ele está em super alta por diversos meios de comunicação. A expressão, ainda criança na lingüística portuguesa, nasceu nas entrelinhas usadas por operadores de Telemarketing e curiosamente se alastrou. Pensa-se até em mudar as normas da língua, pois perante elas, a expressão é aceitável. Ou seja, não erraria quem usasse o Gerundismo. Mas o que é?
Gerundismo é um tremendo excesso de verbos, cujo último o gerúndio está no presente, para uma ação de cunho futuro, descartando o tão estudado, nos níveis fundamental e médio, “futuro do pretérito”.
- Alô! Por gentileza, qual o preço do produto “xis”?
- Um momento senhor, que eu vou estar olhando.
Assim é a resposta de um atendente, usuário deste incrível molde de utilizar três verbos juntos para um único sujeito, numa única ação. É um desperdício de verbos, concordam? Se usada duplamente, a resposta seria:
- Um momento senhor que vou olhar.
E de maneira mais útil, o mesmo usuário poderia proporcionar ao receptor da mensagem a resposta, em tom simples:
- Um momento senhor que olharei.
Quem conversa neste tão citado método atual do gerundismo tem que ir, depois estar e no final agir, ou melhor, estar agindo. Incrível como foi nascer tão errônea composição! Avaliando o caso de forma técnica, seria extremamente complicada a sua criação. Importante recordar que o gerúndio simples é normal, correto, bem aceito e pertence às normas e regras da ortografia de nossa língua.
- Onde está Fulano?
- Jogando bola.
Existem ainda casos elementares:
- É dando que se recebe.
As frases não poderiam ser outras... Portanto, existe sim um abuso, que não deixa de ser um engasgável estilo de conversar. No dia-a-dia da vida, pode-se relacionar o uso do gerundismo com o uso do cigarro. Um vício. É errado? Sim. É prejudicial? Pode ser. É proibido? Não.
Este termo absurdo virou polêmica depois de ter sido proibido por alguns governos. Seria o mesmo que proibir o uso do cigarro. A causa, entretanto foi que o gerundismo deixou margem à conclusões de algumas solicitações. Ou a pessoa faz, ou estará fazendo. O “estará fazendo” tornou-se inaceitável para os ouvintes. O uso está aí, virou costume e triste, está virando hábito.
E a proibição? Será se esta moda também pega?
João Lenjob *
* João escreve neste blog toda sexta-feira, o nos outros dias da semana se diverte e se estressa tentando ensinar o correto uso do gerúndio para operadores de telemarketing...

29 outubro 2007

Em Movimento

Olho em frente e montanhas se movem, de verde, de rocha, de ferro. Parece um cenário montado, um palco pronto preu estrelar no precipício da vida.

Ao lado, um mar, ondas de azul, musgo, esmeralda, pra lá, pra cá. Oceano pronto prum mergulho, navegação, pescaria de sonhos, cometas, quem sabe fisgar uma estrela, e fazer dela meu abajur?

A chuva refresca minhas secas retinas geladas, ar preso no peito que aperta e cresce e dói, e se verte em berros mudos de água e sal. Vapor d’água que sobe e acaricia meus pés, brota do chão e faz cócegas nas pernas, brinca em meu corpo cansado, entregue ao calor. O mesmo corpo jogado de lado, esgotado após o encontro com o seu. O mesmo corpo bóia no céu de brigadeiro de colher, e mergulha em busca de faíscas de ouro granulado, pequenas pérolas que você larga no caminho.

Ensaio não é hora, e nem lugar. Merda pra mim, e que se acendam as luzes e se abram as cortinas. Subi no palco e vou dançar. Olhei através do vidro, vou me jogar. Quero o mar todinho pra mim, todas as montanhas, o ar, as estrelas e o infinito é meu também. Me passa um pôr do sol? Me empresta aquela curva e o laranja pra brotar? Uma nuvem pra apagar, e a chuva a descolorir... Ao lado um riacho e uma casinha branca, com árvores e cancela, porta, janela, e caminhozinho de pedras. Vou correndo na frente, com um cesto de flores na mão, e já estou lá, acenando, a te esperar.

Cansei de catar coquinho. Melhor é respirar.

Ana (texto e foto).