(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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28 novembro 2007

Fragmentos

Arranca-me da tua cabeça e faz-me rir. Olha-me com teus olhos nus e sorri.
- Estás rindo de mim?
- Não, para você.

Me olho no espelho, e falta uma parte da face. Deixei ali, jogada pelo travesseiro, junto com o secador de cabelos. Estava molhada, não prestava. Preciso usar minha máscara de mulher forte, engraçada e sabichona.

Você levanta e diz que quer dançar, tomar um refresco, um pouco de ar. Diz que a vida não presta, e que é tudo mesmo assim. Vira pro canto e não liga pra mim.

Me embriago de vida, de histórias, de vento. Me encho de Lua, de terços e santos, me sento. Rezo. Rezo tanto!

Levanto a blusa de cetim, suja do meu corpo. Cansada e trouxa, fico nua no beiral.
- Será que ele me viu assim?

Paro e lembro da noite anterior. Perfume de xaxim, lirismo de jardim, um pouco de sangue no álcool pra ver se vai dar pé.

Como contar uma história se ela não tem fim? Se não é feliz, e se nem triste é. Não me faz chorar, nem me emociona. Não solto gargalhadas sem fim, não sinto saudades, não.

Pra quê contar, então? Não contarei.

Calo minha boca. Dormirei assim, sorrindo, nua no beiral, junto ao vento, no sereno e ao relento, suja do corpo, da trouxa, do riso, do gozo, do mofo, do moço, que um dia sorriu pra mim. Sou fragmentos de mim.

Texto e foto: Ana.