(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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19 novembro 2007

Vagalumes e conta-gotas

A quem poderia ser grande, dou o meu anão de jardim.
Àqueles que riram do meu cabelo, dou-lhes um cacho - de bananas - para guardarem de lembrança.
A você que me nunca me viu chorar, dou uma mini-garrafa com água do mar.

Se você nunca passou por aqui, dou-lhe um pedaço de papel para que anote aí:
O oposto de uma grande verdade é outra grande verdade...
E o oposto de uma grande mentira, o que é o que é?
É ladrão de mulher.

E ao palhaço que um dia sorriu pra mim, dou uma lágrima e uma caixa de clear-skin.
E à moça que espera na janela, dou um aceno de mão e uma rosca de canela, rosa alaranjada, cravínea na lapela, dentes brancos e um tapa na pantera.
À banda que me viu passar, dou um chicote e um serrote, fagote, pandeiro e caixote. Microfone sem fio, batuque na cozinha, capoeiristas e um violoncelo, que é pra rimar com amarelo.

Você que nunca me amou, dou um mamão e um espetinho de coração - de galinha - com farofa e milho verde, vinagrete e molho bechamel. Pinga com mel.


Canto uma cantiga antiga e dou uma paleta de cores pra pintar. Te pinto um sorriso na cara, e te encanto numa careta. Vai um café au chocolate? A-dô-lê-tá.

Puxo o rabo de cavalo da menina ao lado. Dou uma meia usada prum pé dum muleque. Vou na gangorra, brinco de masmorra, rio, torturo, faço amor com um sonho. Na pracinha escureceu.
Vagalume de estrelas e perfume de morfeu.
Me deu um beijo e morreu.


"... que sonhos traz o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos
toda a meada mortal: isso nos põe suspensos..."

(W. Shakespeare - "To be or not to be")

Texto e foto: Ana.