(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
Um blog sobre uai, sô, véio, contos, causos, sentimentos, pão-de-queijo, crônicas, broa-de-fubá, cinema, literatura, fotografia, arte, poesia...
* Agora em novo endereço: www.mineirasuai.com *

30 novembro 2007

João Lenjob: O Planeta Doente

Nesta sexta-feira, nosso cronista convidado deste blog nos fala de um assunto incômodo e indigesto... Afinal de contas, é tão difícil pensar no futuro com tanto consumismo, não é mesmo?

PPJL

O Planeta Doente

O mundo pede por socorro de forma desesperada. Seria por acaso, conseqüência do destino, relacionada à velha idade do planeta e será que ele já está assim idoso? Estaria o planeta sofrendo de infecção generalizada ou outra doença qualquer ou o ser humano está realmente assassinando o seu nobre e único lar? Há algum tempo ouviu-se por aí dos raios ultra-violeta e camada de ozônio, mais câncer de pele e até punição divina. O que acontece é que os grandes governos são os maiores responsáveis por este desaforo e falta de respeito com a natureza, fauna, flora e companhia limitada, pelas inúmeras empresas sem controle de poluentes químicos e em muitas vezes, localizadas em países pobres, como o Brasil.

Outra causa é a falta de esclarecimento das pessoas referentes aos acontecimentos que vêm acontecendo com enorme freqüência e com a prevenção das graves feridas que o nosso chão vem sofrendo. O ser humano, animal mais racional dentre todos os seres vivos, ainda não se inteirou de que a Terra é a nossa casa. Não existe a consciência de que cuidar dela é zelar pelo patrimônio pelo qual se foi arrendado todo e qualquer tipo de vida. Que se a natureza teve afeto infinito da perfeição, da beleza majestosa e expressiva e do cuidado intenso e preciso para com as pessoas que neste chão pisam, deveríamos agir de forma igual ou superior com esta preciosidade. No entanto, notamos cada dia mais espécies diferentes de animais em extinção.

Estamos desmatando todos os cantos, poluímos ar e água e chegou o momento infeliz do grito de dor do meio ambiente. Com tamanho descontrole, a camada de ozônio, nossa cobertura contra os fortes raios solares, começou a ceder, aumentando significativamente a temperatura do planeta, fazendo com que os blocos de gelo polar, num prazo curto, se liquefizessem, ameaçando a inundação de estruturas urbanas, como também de áreas onde a natureza mais aplicou sua criatividade, como a Mata Atlântica, ou outros locais fantásticos em todo o mundo.

Fenômeno semelhante aconteceu na Indonésia há alguns anos – país mais conhecido como “paraíso”, e visitado por turistas e esportistas de todo o mundo – quando foi cruelmente atingido por uma revolta natural provocada pelo descontrole ambiental. Um gigantesco maremoto invadiu, de surpresa, as mais belas praias, assassinando milhares de pessoas, residentes ou não. Ambientes não propícios à incoerências ambientais como esta têm recebido os mesmos tratamentos: furacões, terremotos, tornados... E têm feito do olhar humano um acúmulo de medo e, enfim, a idéia de cuidado.

Infelizmente este afeto humano pela natureza, a ponto até de gerar consenso entre fronteiras que nunca foram “amistosas”, ainda não foi capaz de focalizar a Terra como doente em fase terminal. Lutar para e por ela e, principalmente, pesquisar, coletar dados importantes, informar, orientar e ensinar todas as classes sociais, punir e dar as mãos quando necessário, a fim de salvar este maravilhoso planeta.

Houve um tempo em que a tuberculose matava o homem infectando os pulmões. Problema sanado. A ciência não vai demorar, para descobrir a cura do câncer, que é criado em células do próprio organismo, e até o HIV, que é vertente de relações entre os seres, já pode ser seguramente estabilizado. E a Terra? Está com os pulmões infectados, suas próprias células, o seres humanos, a destroem, e as relações entre seus seres, fauna, flora e humanos não andam bem. Isso tem cura?

João Lenjob *



* João é poeta e mineiro, e escreve neste blog toda 6ª feira. Nos outros dias da semana, procura por um lugar menos poluído pra se viver, e ainda não encontrou...

28 novembro 2007

Fragmentos

Arranca-me da tua cabeça e faz-me rir. Olha-me com teus olhos nus e sorri.
- Estás rindo de mim?
- Não, para você.

Me olho no espelho, e falta uma parte da face. Deixei ali, jogada pelo travesseiro, junto com o secador de cabelos. Estava molhada, não prestava. Preciso usar minha máscara de mulher forte, engraçada e sabichona.

Você levanta e diz que quer dançar, tomar um refresco, um pouco de ar. Diz que a vida não presta, e que é tudo mesmo assim. Vira pro canto e não liga pra mim.

Me embriago de vida, de histórias, de vento. Me encho de Lua, de terços e santos, me sento. Rezo. Rezo tanto!

Levanto a blusa de cetim, suja do meu corpo. Cansada e trouxa, fico nua no beiral.
- Será que ele me viu assim?

Paro e lembro da noite anterior. Perfume de xaxim, lirismo de jardim, um pouco de sangue no álcool pra ver se vai dar pé.

Como contar uma história se ela não tem fim? Se não é feliz, e se nem triste é. Não me faz chorar, nem me emociona. Não solto gargalhadas sem fim, não sinto saudades, não.

Pra quê contar, então? Não contarei.

Calo minha boca. Dormirei assim, sorrindo, nua no beiral, junto ao vento, no sereno e ao relento, suja do corpo, da trouxa, do riso, do gozo, do mofo, do moço, que um dia sorriu pra mim. Sou fragmentos de mim.

Texto e foto: Ana.

26 novembro 2007

Paulicéia Delirante

Sempre que vou a São Paulo é assim. Sensação de que tenho que voltar lá mais 1.000 vezes pra ver e fazer tudo o que quero, absorver tudo o que tem para absorver, encher os olhos e a alma de tanta cultura e coisas bonitas. Sempre o tempo é curto, pois, de fato, naquela cidade ele passa mais rápido, o dia é menor, e as horas não são 24, e nem têm 60 minutos. As coisas são mais distantes, e maiores. Sou uma formiga na multidão de concreto.

O bom disso tudo é saber que lá todos são formigas, habitantes do mesmo espaço, comunidades diversas que se fundem e habitam o mesmo louco planeta São Paulo, em busca do mesmo delírio de vida. Influências americanas são inegáveis em tudo por lá, mas não há mesmo como não comparar Sampa a New York, em sua grandeza, diversidade, cultura. Ao mesmo tempo, tudo é muito brasileiro, muito tupi-guarani, muito italiano, muito libanês, muito árabe, muito japonês, muito português, tudo é muito... São Paulo!

Interessante reparar nos sotaques e costumes de cada bairro, com suas influências de diversos locais do mundo, e na paulicéia delirante, que vive num pulsar frenético movido a fuligem, dinheiro, café, cerveja, pão, metrô, cinema, teatro, cultura, diversão e arte. Comida para quem precisa. E reparar em como tudo lá é tão diferentemente escancarado e notório e especializado. Putas são putas. Doidos são doidos. Ricos são ricos. Pobres são pobres. Tudo é ao mesmo tempo, e nada é perto. Não há meios termos.

Ao contrário do que muita gente pensa, paulistas são simpáticos e prestativos. Atendem bem, acolhem, gostam do povo mineiro (ou seria das mineiras, uai?), seja ele japonês, clandestino, ou ilegal; e têm pressa, de tudo. Parece que têm pressa de viver. Falam muito, bebem muito, trabalham muito, dormem muito (nos fins de semana) e muito tarde (todos os dias), curtem muito. Mas também, numa cidade que nunca dorme e que tem vida própria, parece que cada esquina e cada muro e cada pedaço de chão têm uma história pra contar, e lá a pressa é amiga da perfeição.

Profissionalismo, pontualidade, delicadeza, sensibilidade. É como vejo tais criaturas, habitantes da maior metrópole do Brasil. E é com muito orgulho, convicção, e carinho que os chamo de MEUS AMIGOS.

Para: Bela (amiga e companheira de viagem), Nando e Alex (queridíssimos anfitriões), Márcio (nobilíssimo prefeito, o único que me recebeu com uma tulipa de cerveja derramada, foi a emoção, a emoção - rs), Clayton (aquele que tem a profissão carimbada na testa), Marco Vergotti (o CDF caxião mais fofo de todos) e Flávia (florzinha mega carinhosa), Karlinha (a luz em pessoa), Paulo DAuria (ele fala com os olhos, é impressionante), Caio (mesmo na ausência e no stress)...

Ana.

23 novembro 2007

João Lenjob: As Cinco Quadras

Na sua crônica de hoje, o poeta João Lenjob conta de maneira curiosa uma experiência extra-sensorial na cidade do horizonte belo... Bora lê um cadim?



PPJL



As Cinco Quadras




Ainda bem cedo, nota-se um largo mundo novo com serra sinuosa que desperta o finito do horizonte que dá nome à cidade. Pessoas que vivem e fazem a “silhueta formigueiro”. Ninguém é de ninguém. O mundo é de todos. Pelo menos nesta citação, é um conjunto de mundos para cada ser ali, passageiro.

De início a exibição de um perfil mais preservado. Pessoas andam rápidas, outras muito vagarosas e ainda hoje, no século vinte e um, há quem cumprimente, na forma mais literal da palavra, sem conhecer. Com generosidade e nostalgia. Por aí passam ambulantes, mágicos, doentes, muitos doentes, e até artistas e poucas pessoas atenciosas a todos estes gêneros. Assim é o desfile cotidiano da das cinco quadras iniciais da Avenida Afonso Pena, capital mineira.

Fiz questão de sair de meu mundo e arriscar e vasculhar impetuosamente cada mundo ali presente, numa aventura que é muito bom recordar. Perdi-me meio às diversas pessoas de idades diferentes e vi prantos, sorrisos e sonhos. Conversas moles, fiadas e até quem acredite num futuro plausível para o país, estado e cidade.

Os aposentados sempre foram ali os mais elegantes. Quando não se unem a grupos de colegas, para assuntos extras, esbanjam saúde e grande sanidade ao vencer os mais jovens nos xadrez, dama, dominó ou cartas. São lugares interessantes que cabem também comerciantes, banqueiros, bancários, desempregados e consumidores. Acha-se de tudo e, sobretudo, o sotaque local com variadas formas do “trem”. O único lugar que uma lotação que passa por ali é “trem” e também carros, motos, bicicletas ou a rápida visualização de um helicóptero ou barulho de um avião. Também é muito comum o universo de palavras reduzidas, sintetizadas, que é identificável muito facilmente, apesar do desconfiômetro e da timidez de caráter mineiros. Logo se ouve “comé qui ce tá?” Ou “nooooooó!!!!”.

Dentre outros milhares. Cruzando o pirulito da Praça Sete, nota-se várias tabacarias que pode-se degustar o mais famoso “cafezim” brasileiro e o mais nobre e inesquecível “pãozim de queij”. Pessoas sempre comentam e discutem do futebol do fim de semana, com mais freqüência sobre Atlético e Cruzeiro, e mais pênaltis, faltas, roubos e enfim, gols. E assuntos políticos, mais comíssios e bandeiras, bandeirolas de todos os partidos e também a circulação de policiais com suas fardas, coturnos e rádios e, algumas vezes, cavalgando por sobre cavalos quase que reais.

Curiosamente, a correria de gente não acaba, e o cruzamento de mundos também não. Mas ao fim do itinerário, o volume de pessoas é menor e também é diferente o perfil. Aparecem mais vestimentas brancas, lembráveis da proximidade com a área hospitalar da cidade e em alguns horários do dia tudo neste trecho lembra um desfile de estilistas. Não é um desfile de modelos. É de estilistas mesmo. Vertência dos eventos artísticos do Palácio das Artes, que fazem de alguns expectadores os “concorrentes do brega”. Vê-se novamente de tudo, só que com requinte e enfeite. A grande maioria longe do convencional.

Somados por metro quadrado, torna-se fácil elaborar uma estatística e perceber que qualquer cidade tem estes mundos, variando proporcionalmente à população, mas o “cafezim” e o “pãozim de queij”... é só em Minas mesmo.

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br






* João escreve neste blog toda sexta-feira. No resto da semana ele discute sobre Atlético e Cruzeiro e caminha pelas 05 quadras da Av. Afonso Pena, apreciando este belo horizonte...

21 novembro 2007

Menininha

Eram apenas alguns poucos quarteirões, mas suas perninhas curtas e grossas, da herança familiar, davam passos tão miúdos que faziam-na cansar, e o tempo se multiplicava, e 15 minutos pareciam 3 horas. O asfalto cinza contrastava com o colorido de sombrinhas, roupas e pessoas. Carros subiam e desciam a avenida, com pressa de chegar a algum lugar.

O mundo lá fora era barulhento. Não tinha vozes de crianças, não se jogava amarelinha, nem se brincava de rouba-bandeira. Ruídos eram os das máquinas de quatro-rodas, das conversas adultas e dos morcegos que rondavam a região.

Engraçado como as árvores frondosas e centenárias, tão ornamentais e úteis para a cidade, no seu papel de refresco e retenção das águas das chuvas, poderiam abrigar seres tão medonhos e horrendos. Morria de medo quando tinha que fazer o percurso a pé, dos tais poucos quarteirões que a levavam da escola à casa, naquele horário de lusco-fusco, começo da noite.

Final de ano era chuva na certa. E às 18h, quando batia o sinal do Colégio e os coleguinhas entravam nos carros dos motoristas dos pais abastados, era sua hora de bater perna morros acima. Coraçãozinho disparado, mochila pesada, não podia correr. Havia uma casa... mal-assombrada. Nunca vira movimento algum lá dentro. Dizem que era habitada por fantasmas, e pelas sombras que rondavam por ali, habitantes das trevas e da enorme árvore, torta e cheia de sulcos e reentrâncias. O tronco negro, só podia ser oco, a casa dos seres das trevas, as raízes expostas eram como braços, querendo abraçá-la e levá-la lá pra dentro.

Passava sempre quase correndo , evitando olhar, com medo do que poderia ver. Jurava ouvir gritos de horror, ranger de dentes, e aquele cheiro de terra molhada de chuva e de musgo, que para ela, àquela hora da noite e naquele local assustador, parecia cheiro de mofo, de gente velha descuidada, de morte.

Mas era só o dia clarear, a luz do sol penetrar por entre as frestas das folhas, traduzindo num translúcido verde, cristalino e cintilante, para sentir o perfume de alecrim e lavanda que habitava os jardins das casas. E as sombras não mais ali estavam, dormiam naquele horário. E o sinal da escola já batia, e ela corria, para não se atrasar. E recreio, e morrinho, e terra, e suor, e bola.

E ela não poderia imaginar que um certo tempo depois, faria parte do mundo preto e branco e cinza dos adultos que circulavam por ali quando era menininha, com suas pastas e sombrinhas sem graça, sem sentir cheiros, sem ver as sombras e nem os morcegos - que se cansaram mudaram pra outro lugar.
E a árvore frondosa da infância da sua vida fora cortada pela nova moradora da casa mal-assombrada, deu até no jornal, virou notícia. E o muro ganhou pintura nova e portão de metal, guarita e interfone. Deve ser pra proteger dos fantasmas, os antigos moradores, expulsos de lá pelo adulto que tomou conta de seu peito, sem saber que a menina de pernas curtas e grossas, ainda estava lá, latente, assustada mas feliz, correndo, correndo, correndo...

Texto e foto: Ana.

19 novembro 2007

Vagalumes e conta-gotas

A quem poderia ser grande, dou o meu anão de jardim.
Àqueles que riram do meu cabelo, dou-lhes um cacho - de bananas - para guardarem de lembrança.
A você que me nunca me viu chorar, dou uma mini-garrafa com água do mar.

Se você nunca passou por aqui, dou-lhe um pedaço de papel para que anote aí:
O oposto de uma grande verdade é outra grande verdade...
E o oposto de uma grande mentira, o que é o que é?
É ladrão de mulher.

E ao palhaço que um dia sorriu pra mim, dou uma lágrima e uma caixa de clear-skin.
E à moça que espera na janela, dou um aceno de mão e uma rosca de canela, rosa alaranjada, cravínea na lapela, dentes brancos e um tapa na pantera.
À banda que me viu passar, dou um chicote e um serrote, fagote, pandeiro e caixote. Microfone sem fio, batuque na cozinha, capoeiristas e um violoncelo, que é pra rimar com amarelo.

Você que nunca me amou, dou um mamão e um espetinho de coração - de galinha - com farofa e milho verde, vinagrete e molho bechamel. Pinga com mel.


Canto uma cantiga antiga e dou uma paleta de cores pra pintar. Te pinto um sorriso na cara, e te encanto numa careta. Vai um café au chocolate? A-dô-lê-tá.

Puxo o rabo de cavalo da menina ao lado. Dou uma meia usada prum pé dum muleque. Vou na gangorra, brinco de masmorra, rio, torturo, faço amor com um sonho. Na pracinha escureceu.
Vagalume de estrelas e perfume de morfeu.
Me deu um beijo e morreu.


"... que sonhos traz o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos
toda a meada mortal: isso nos põe suspensos..."

(W. Shakespeare - "To be or not to be")

Texto e foto: Ana.

16 novembro 2007

João Lenjob: Sabe-Não Sabe

Hoje nosso poeta publicou aqui uma prosa bem interessante... Você sabe do que eu estou falando? Pode até saber, ou não, quer dizer, você é quem sabe. Não sabe?

PPJL

Sabe-Não Sabe

Estamos no tempo do “sabe-não sabe”. No momento triste que não sabemos se ou quando podemos acreditar em quem oferece pifiamente seu interesse puro e inocente de governar, de representar. Chegamos num merecido ponto de não correspondência. O declínio chegou ao limite. Até então faltava ser vítima de esquerdistas.

Há pouco tempo atrás, nossos atuais políticos eram aqueles que fortaleciam e protegiam o lado popular, creditavam nossas esperanças e orientavam nossas cegueiras. Descobriram o buraco celeste brasileiro e omitiram os mensalões dos oposicionistas. Não sabemos ainda por quê, mas hoje temos certeza que houve sobretudo benefício com isso. Ao mudar de plano, literalmente de lado, foram-se as pessoas, nossos políticos, deixando só os seus postos, assim como seus ideais, mentiras, corrupções e promessas. No final, ninguém sabia de nada.

Estes representantes que julgam o caixa dois de empresas pequenas foram os mesmos que o usaram em favores pessoais. Um crime legítimo que, segundo eles mesmos, dá cadeia. É verdade, acontece com pessoas não favorecidas e não protegidas pelas leis que quem domina e faz delas o que quer são os próprios governantes.

Ainda vivemos sob a falta de qualidade de vida. O país passa por um momento delicado, quando o povo começa a desacreditar nas promessas e em tudo o que acontece hoje e está exibido em jornais ou revistas, só de corrupções generalizadas. Nas estradas onde não se é aplicado a necessária estrutura que deveria sair dos pagamentos dos impostos. Na saúde onde não se tem medicamentos e em muitos lugares não tem nem atendimento. Novamente, cadê o dinheiro dos impostos? No saneamento básico medíocre. Nas altas taxas de juros que é uma violência contra o contribuinte, e até no esporte.

Governantes negaram a cassação da oligarquia esportiva brasileira. É vergonha que não cabe mais e ninguém sabia de nada. Hoje talvez, possamos gastar menos tempo numa viagem de ônibus do que de avião, e só por causa de benefícios específicos e trabalhos mal feitos. Isso não acontece só em virtude do tempo parado em sala de espera ou nas filas de “chek-in”. A nossa estrutura aérea inteira é um desastre, o Brasil está um desastre. Isso porque eles não precisam disso. Todos têm aviões especiais, helicópteros, jatos e viajam por nada, por todos os cantos do mundo, com sorrisos estampados que envergonham muito mais seus eleitores, esbanjando uma situação propícia ao fracasso.

O que passamos hoje não começou de pouco tempo pra cá. Estas pessoas negativas estão na frente do país desde o império, aproveitando-se da inocência do povo para garantir de forma esperta seus benefícios. Uma crueldade, imoralidade, com finalidade de “ganhar dinheiro”.

O voto que parecia ser tão precioso, hoje está fardado ao nada. Normal não querer votar, eleger um deputado, presidente. Sabemos em quem estamos votando?
Não, não sabemos de nada.

João Lenjob *
www.lenjob.blogspot.com
joaolenjob@yahoo.com.br
* João escreve neste blog toda sexta-feira, e esta já é a 4ª crônica dele por aqui. Nos outros dias da semana ele filosofa um tiquim sobre a politicagem no país, se irrita com isso, vai ao Mineirão xingar ao juíz, e depois escreve poemas no seu blog pra descarregar...

14 novembro 2007

A Amiga

Falava sempre aos amigos, de uma tal Donária. Nunca ninguém a viu, mas parecia ser uma amiga engraçada, sempre com os casos mais esdrúxulos a contar. Todos perguntavam, em coro:
- Dô-o-quê?
- Do-ná-ria!
- Que nome diferente!
- Pois é...

Donária era sua companhia para as aventuras mais hilárias. Jogar pedra no rio, catar coquinho, fazer guerrinha de mamona, pular o muro de casa, roubar manga do vizinho, beber até cair, dançar no balcão do bar... e por aí vai.
- Mas que doida esta Donária, heim?

Atiçava a curiosidade de todos. Donária já fora loira, já tivera os cabelos lisos, já fizera permanente nos cachos e usara lentes violeta. Donária já fora para a Europa, já lera todas as obras de Graciliano Ramos, já tivera a coleção inteira do Iron Maiden, já fora num show dos Beatles e já beijara o Jim Morrison. Donária era amiga da filha do Cartola!
- Essa Donária é danadinha mesmo, heim?

Aprendera a nadar com a Donária. A sorrir, a brincar, a dançar e a chorar com a Donária. Era ela que lhe ensinava as maldade dos homens, e lhe contava das maravilhas mundo afora. Era ela que falava inglês com sotaque britânico perfeito, e que inventava os apelidos mais engraçados para os outros.
- E que dia vamos conhecer esta Donária?

Certo dia, ligou para a mãe, dizendo que estava no Shopping com a Donária, na loja tal. Mas sua mãe era esperta, pegou o carro e foi pra lá. E qual não foi a sua surpresa quando a mãe ali chegou, perguntando por Donária?

Donária era sua amiga... Imaginária!


Texto e foto: Ana.

Ps.: Este texto é para a Donária, que não é amiga imaginária!

12 novembro 2007

Ao medo

Paraliza, refrigera, condena.

Achei que nem estava ali. Do meu lado não, tenho certeza. E mais um passo meu à frente e você surge, imponente, turrão, a própria Grande Muralha da China, instransponível e monumental. Me empurra de volta, guilhotina de sonhos, catapulta de horrores.

Por que faz isso comigo? Gosta de me irritar?
Não faz a mínima questão, não é mesmo? Brinca com meu brinco, me olha, me joga, me pinta, me acusa. Me chama de querer bem, ignora, me esfrega na cara sua covardia, teimosia.

Diz uma coisa: é chato ser chato? Pois eu penso que até se diverte com isso. Zomba com a cara dos outros. Protege seus erros, recua... Justifica que assim tenta poupar os outros do próprio mal. Balela.

Você se esconde. Vive no crepúsculo, nas metáforas, no chove-não-molha, não chora, sem jogo, sem dor. E não vê que é assim que joga mais... Receio da chuva? Um gole d'água no peito faz até bem. Bebe e aceita um lampejo de cristal nos olhos faiscantes, e um girassol brota em seu ouvido, e sussura sobre moças de vestido de cetim azul e bigodes de gatos e flocos de neve e... A luz se apaga, o cinza te consome... Mais uma vez.

Menino assustado, você não passa disso. Sobressaltos com a própria sombra, vive à margem da grande imagem do que pode vir a se tornar. E assim, não alcança, nunca, a tela do cinema do filme da tua vida.

Eu sei, você sofre com isso. Inventa diversões e casos engraçados, histórias que nunca viverá, foge do assunto, finge que nem é com você. E ainda assim, sofre.

Mas eu sei que você queria ser livre pra atravessar o céu num suspiro, abraçar o mundo com um dedo, e carregar o suor das flores no cheiro da chuva. E você me inveja por isso.

Pois eu sei,
eu faço,
eu sinto,
eu choro,
eu brinco,
eu coro.

Eu sou mais eu. Amora e tangerina, baunilha com orquídeas em flor. Mais um passo e caio do edifício, na difícil tentativa de viver.

Prefiro o salto (alto).


Texto e foto: Ana.

09 novembro 2007

João Lenjob: Sonhar Acordado

Na crônica de hoje, nosso correspondente especial dá uma de expert em sonhos. E num é que o resultado ficou bacana? Ó só:

PPJL

Sonhar Acordado
Um dia aprendi a sonhar e que podia sonhar. Daí, eu percebi que sonhar acordado era muito melhor do que dormir e deixar simplesmente o momento levar ou conduzir os sonhos conforme sua natureza. Prefiro sonhar acordado a escolher o que sonhar. Sentir-me feliz com esperanças criadas, emanadas de cotidianos que a vida produz. Com realidades que talvez jamais sacie, mas que me delicio ao esperá-las, imaginá-las, acreditar nelas e criar então tamanhas e inúmeras expectativas. Projetar, organizar e até oferecer.
O mais interessante é que sonhamos até para os outros, numa generosa forma de crer que isso facilitará a construção, elaboração e conclusão deste foco, e quase sempre por pensamentos de zelo e afeto, acordados. Claro! Quando visamos algo, temos a alegre esperança de que haverá a realização deste e, conseqüentemente, a luta é mera vertência de um sonho. Visamos, sobretudo, algo para o amanhã sempre que concluímos um dia. Interessamos por algo que não aconteceu e sempre existe a tentativa óbvia de querer o melhor, mesmo que a situação esteja de fato “preta”; mesmo que estejamos passando por momentos negativos e mesmo quando somos pessimistas. Nestes momentos somos positivos, sonhamos acordados.

A realidade dificulta expressivamente muitos sonhos, mas sempre sobra espaço para fugir dela. Pensamos em conquistar coisas e alternativas incomuns. Sermos personagens de tevê ou cinema, talvez até conquistá-los, e mais “misses” e “misters”, atletas, modelos, políticos, carros, imóveis, loterias, trabalhos, vestibulares, vitórias, alegrias, curas e enfim, um dia amanhã que seja melhor que o de hoje, de ontem ou sempre de um passado bem próximo.

O sonho acordado é tão bom e tão divertido que nele não há tristeza, não há pranto, não há melancolia e muito menos solidão. Somente o objetivo, a vontade e a torcida que o resultado venha interessante, mesmo quando ele é de fato assim tão complicado e difícil de acontecer. Sonhar acordado não é resultado de pesquisas diversas, e sim o perfil adequado de onde nos espelhamos. Por isso é tão importante ter estes momentos de esperança. O sonho acordado é o maior de ser e fazer feliz. Meio de acreditar e deixar-se lutar. Sonhar acordado é muito bom, muito melhor do que dormindo. É o crer na gente e também na vida.

João Lenjob *
http://www.lenjob.blogspot.com/
joaolenjob@yahoo.com.br


* João escreve neste blog toda sexta-feira, e eu tô adorando isso! :-)

05 novembro 2007

CONGADO

CONGADO
(Para meu primo Haroldo.)

Vem tum-tum
Tum-tum chegou
Passa tum-tum
Que eu tô aqui

Ilê tum-tum
Tum-tum lá vem
Bate tum-tum
Que eu bato também

Tum-tum é rei
Rainha também
Tum-tum é de pedra
De sal e de água
Tum-tum vem da terra
Princesa de África
Tum-tum vem do solo
De mãe, de pai

Tum-tum é de ouro
Minério de ferro
Bate tum-tum
Que eu bato também.


Texto, foto e vídeo: Ana

02 novembro 2007

João Lenjob: Gerundismo

Hoje é sexta-feira, e quem "vai estar falando pra vocês" é nosso colunista semanal...

PPJL

Gerundismo
Tanto se fala hoje deste tal de Gerundismo. Muitos ainda nem conhecem tal termo, mas o importante é que ele está em super alta por diversos meios de comunicação. A expressão, ainda criança na lingüística portuguesa, nasceu nas entrelinhas usadas por operadores de Telemarketing e curiosamente se alastrou. Pensa-se até em mudar as normas da língua, pois perante elas, a expressão é aceitável. Ou seja, não erraria quem usasse o Gerundismo. Mas o que é?
Gerundismo é um tremendo excesso de verbos, cujo último o gerúndio está no presente, para uma ação de cunho futuro, descartando o tão estudado, nos níveis fundamental e médio, “futuro do pretérito”.
- Alô! Por gentileza, qual o preço do produto “xis”?
- Um momento senhor, que eu vou estar olhando.
Assim é a resposta de um atendente, usuário deste incrível molde de utilizar três verbos juntos para um único sujeito, numa única ação. É um desperdício de verbos, concordam? Se usada duplamente, a resposta seria:
- Um momento senhor que vou olhar.
E de maneira mais útil, o mesmo usuário poderia proporcionar ao receptor da mensagem a resposta, em tom simples:
- Um momento senhor que olharei.
Quem conversa neste tão citado método atual do gerundismo tem que ir, depois estar e no final agir, ou melhor, estar agindo. Incrível como foi nascer tão errônea composição! Avaliando o caso de forma técnica, seria extremamente complicada a sua criação. Importante recordar que o gerúndio simples é normal, correto, bem aceito e pertence às normas e regras da ortografia de nossa língua.
- Onde está Fulano?
- Jogando bola.
Existem ainda casos elementares:
- É dando que se recebe.
As frases não poderiam ser outras... Portanto, existe sim um abuso, que não deixa de ser um engasgável estilo de conversar. No dia-a-dia da vida, pode-se relacionar o uso do gerundismo com o uso do cigarro. Um vício. É errado? Sim. É prejudicial? Pode ser. É proibido? Não.
Este termo absurdo virou polêmica depois de ter sido proibido por alguns governos. Seria o mesmo que proibir o uso do cigarro. A causa, entretanto foi que o gerundismo deixou margem à conclusões de algumas solicitações. Ou a pessoa faz, ou estará fazendo. O “estará fazendo” tornou-se inaceitável para os ouvintes. O uso está aí, virou costume e triste, está virando hábito.
E a proibição? Será se esta moda também pega?
João Lenjob *
* João escreve neste blog toda sexta-feira, o nos outros dias da semana se diverte e se estressa tentando ensinar o correto uso do gerúndio para operadores de telemarketing...