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Ao lado, um mar, ondas de azul, musgo, esmeralda, pra lá, pra cá. Oceano pronto prum mergulho, navegação, pescaria de sonhos, cometas, quem sabe fisgar uma estrela, e fazer dela meu abajur?
A chuva refresca minhas secas retinas geladas, ar preso no peito que aperta e cresce e dói, e se verte em berros mudos de água e sal. Vapor d’água que sobe e acaricia meus pés, brota do chão e faz cócegas nas pernas, brinca em meu corpo cansado, entregue ao calor. O mesmo corpo jogado de lado, esgotado após o encontro com o seu. O mesmo corpo bóia no céu de brigadeiro de colher, e mergulha em busca de faíscas de ouro granulado, pequenas pérolas que você larga no caminho.
Ensaio não é hora, e nem lugar. Merda pra mim, e que se acendam as luzes e se abram as cortinas. Subi no palco e vou dançar. Olhei através do vidro, vou me jogar. Quero o mar todinho pra mim, todas as montanhas, o ar, as estrelas e o infinito é meu também. Me passa um pôr do sol? Me empresta aquela curva e o laranja pra brotar? Uma nuvem pra apagar, e a chuva a descolorir... Ao lado um riacho e uma casinha branca, com árvores e cancela, porta, janela, e caminhozinho de pedras. Vou correndo na frente, com um cesto de flores na mão, e já estou lá, acenando, a te esperar.
Cansei de catar coquinho. Melhor é respirar.
Ana (texto e foto).
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