Em sua ignorância, fecha a porta. Bate-a com força, e o estampido reverbera com ecos de vazio no coração, como um soar de tambores ante o precipício. Sai pisando forte, sobre folhas secas, crepitando o torrado da vida sob os próprios pés, como se matasse baratas, cobras e escorpiões que estalam vísceras vivas num piscar de olhos, num soar da sola de um All Star branco, como a cegueira de luz.
Vai embora sem nem olhar pra trás. Leva consigo um cobertor apenas (orgulho?), um par de penas de escrita em tinteiro, seu caderno de notas, mais aquele CD do Chico. Com isso, crê que a vida está completa. Mas para onde vai, se não tem janelas? Para onde leva seus pensamentos em nanquim?
Ao observá-lo, faço tempestade de rosas, pinto uma silhueta negra no céu azul. Ao longe, seguindo o caminho de tijolos amarelos trilhado por pequenos homens de paletó escuro, um pote o espera, no final do arco-íris. Não há ouro dentro dele, apenas um líquido quente e vermelho. Sangue? Não sente dor, nem cheiro de carne, não ouve gritos de horror! Nada disso. É apenas o próprio reflexo do amor que jorra de seus pulsos, a cada pulsar de pares, átrios e ventrículos.
E quando, finalmente, olha pra trás, vê que tudo permanece como deixou, em seus mesmos lugares: mamilos pelo chão, confetes pairando no ar, vapor de perfume de rosas, água quente em cachoeira. E então as lágrimas azuis se secam de imediato com as mechas de mel em camadas, que o abraçam ternamente como sempre o fizeram. O mesmo cheiro está lá, inebriante, e até o radinho de pilha AM toca uma melodia simples, a sua favorita desde então.
Decide ir embora mais uma vez, mas agora não estaria sozinho. Carregaria consigo sua casa, carregaria o seu cheiro, suas lembranças, seus livros e discos, em sua mente e seu ser, e, cheio de confiança e suspiros, caminharia por sua própria trilha de tijolos cravados de sua carne, seu suor, seu ser.
Ana.
(Texto e foto.)
Vai embora sem nem olhar pra trás. Leva consigo um cobertor apenas (orgulho?), um par de penas de escrita em tinteiro, seu caderno de notas, mais aquele CD do Chico. Com isso, crê que a vida está completa. Mas para onde vai, se não tem janelas? Para onde leva seus pensamentos em nanquim?
Ao observá-lo, faço tempestade de rosas, pinto uma silhueta negra no céu azul. Ao longe, seguindo o caminho de tijolos amarelos trilhado por pequenos homens de paletó escuro, um pote o espera, no final do arco-íris. Não há ouro dentro dele, apenas um líquido quente e vermelho. Sangue? Não sente dor, nem cheiro de carne, não ouve gritos de horror! Nada disso. É apenas o próprio reflexo do amor que jorra de seus pulsos, a cada pulsar de pares, átrios e ventrículos.
E quando, finalmente, olha pra trás, vê que tudo permanece como deixou, em seus mesmos lugares: mamilos pelo chão, confetes pairando no ar, vapor de perfume de rosas, água quente em cachoeira. E então as lágrimas azuis se secam de imediato com as mechas de mel em camadas, que o abraçam ternamente como sempre o fizeram. O mesmo cheiro está lá, inebriante, e até o radinho de pilha AM toca uma melodia simples, a sua favorita desde então.
Decide ir embora mais uma vez, mas agora não estaria sozinho. Carregaria consigo sua casa, carregaria o seu cheiro, suas lembranças, seus livros e discos, em sua mente e seu ser, e, cheio de confiança e suspiros, caminharia por sua própria trilha de tijolos cravados de sua carne, seu suor, seu ser.
Ana.
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