Suspira. Olha para longe - ignora minha presença. Acaricia o bigode e alguns fios apenas de sua barba, meticulosamente toca em cada um, arrumando-os, reposicionando o que já não é muito organizado. Ajeita na frente de si o caderno, em posição exatamente perpendicular à borda da mesa. Ao lado, uma xícara de café frio repousa, a colher suja pende para um dos lados. Mais à frente, cinzeiro, isqueiro e maço de cigarros espreitam, pacientemente - como eu.
Alisa a folha escrita. Acaricia as palavras ali deixadas, amantes guardadas como um tesouro. No plural. São centenas de folhas e dezenas de cadernos, menores ou iguais a este.
Um brilho no fundo do olhar faísca ideias, que rastreia sobre o papel com a caneta que ganhou de brinde promocional. Gentileza para uns, salvação para outros, dependentes das letras e dos escritos - uma caneta, dez, vinte, nunca é o bastante.
E assim, vez por outra produz maravilhas - outras, nem tanto - em vocábulos fonéticos, frases e orações. Por horas a fio, sob a luz do abajour, sem sair do lugar, viaja pelos séculos, vai e volta a terras longínquas e... continua aqui.
Artesão de palavras. Escritor. Segue seu caminho de pautas, margens e pingos nos is.
Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)
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