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06 setembro 2006

Um sorriso de 500 anos

Mona Lisa, a mais famosa e extraordinária obra do pintor renascentista Leonardo da Vinci está fazendo aniversário!

Especula-se que Leonardo começou o retrato em 1503 e levou três anos para terminá-lo. Hoje, a pintura a óleo sobre madeira de álamo encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris, onde foi projetada uma elaborada sala especialmente para abrigá-la, a “Salle des États”.

Quem teve a chance de ver pessoalmente essa pintura com certeza já se perguntou sobre a razão de seu sucesso: de fato, a Mona Lisa, também conhecida como La Gioconda ou, em francês, La Joconde, é uma pintura de dimensões modestas, e os estragos do tempo são perceptíveis a olho nu, nos pigmentos escurecidos e nas pequenas fissuras da madeira.

Acontece que o que torna a Mona Lisa uma obra notável não é percebido apenas com uma análise estética. Nunca uma obra de arte foi tão reproduzida, comentada, estudada, e sobre nenhuma obra de arte existem tantas controvérsias!

A começar pela identidade de seu “sujeito”, pois não se sabe ao certo quem a Mona Lisa retrata. Alguns estudiosos italianos dizem que a mulher de expressão introspectiva e um pouco tímida, para não dizer conservadora, foi a esposa de Francesco del Giocondo, um rico comerciante de seda de Florença e uma figura proeminente no governo florentino na época do renascimento.

Para a cientista Lillian Schwartz, a Mona Lisa nada mais é do que um auto-retrato de Leonardo, porém, travestido (?) de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e dos traços da modelo. Dizem que ao comparar um auto-retrato de Leonardo com a mulher do quadro, ficou evidente que as características dos dois rostos se alinham perfeitamente. Os críticos desta teoria sugerem que as similaridades são devidas ao fato de que ambos os retratos usados para a comparação foram pintados pela mesma pessoa, ou seja, a técnica e o próprio estilo de Leonardo ensejaram a similitude entre as duas figuras. Essa constatação não impediu essa teoria de se tornar famosa, pelo contrário: a afirmação de que Mona Lisa é na verdade um auto-retrato foi citada até por Dan Brown no livro O Código Da Vinci!

Já para o historiador Maike Vogt-Lüerssen, que se dedicou ao estudo da iconografia da Mona Lisa por 17 anos, a mulher por trás do famoso sorriso só pode ser a Duquesa de Milão, Isabel de Aragão, na corte de quem Leonardo da Vinci trabalhou como pintor por 11 anos. O estudioso chegou a essa conclusão ao verificar que o padrão do vestido verde escuro de Mona Lisa indica que a modelo é um membro da casa de Visconti-Sforza, família à qual pertencia a Duquesa. Além disso, alega que ao comparar cerca de 50 retratos de Isabel de Aragão, representada como a Virgem ou Santa Catarina de Alexandria, para o qual ela serviu de modelo, conclui que a semelhança com a Mona Lisa que conhecemos hoje é evidente, o que o leva a concluir que a Mona Lisa é o primeiro retrato oficial da nova Duquesa de Milão.
Como vocês podem ver, não há nenhum estudo conclusivo sobre a identidade da modelo da Mona Lisa, o que sem dúvida contribui para cercá-la de uma aura de mistério e assegurar a sua fama mundial.

Num curso de história da Arte que eu fiz há alguns anos atrás, o professor também apresentou uma teoria para explicar o fascínio que a Mona Lisa exerce sobre quem dela se aproxima. Segundo ele, Leonardo, que além de pintor e desenhista talentoso também foi um exímio inventor e cientista (quando não se entretinha com ocupações menos “nobres” como inventar jogos de salão e roupas extravagantes para a aristocracia), criou, nada mais, nada menos, que um efeito inusitado na pintura, capaz de reter a atenção do apreciador sem, no entanto, chamar a sua atenção especificamente para este fato. Explico: Leonardo da Vinci criou um cenário irreal para a modelo, que posa, descontraída em primeiro plano, enquanto no fundo, não há continuidade na paisagem retratada, onde vemos uma espécie de cachoeira, árvores mirabolantes e vegetação extravagante, estradas tortuosas que não levam a lugar algum. Segundo meu professor, é esse cenário, esse “fundo” da pintura que nos atrai para a contemplação, e não o sorriso da Mona Lisa, e isso não passou de um “artifício” do original Leonardo para atrair a admiração de seu público.

Enfim, apesar das inúmeras lendas que pairam sobre ela (e aqui abordamos apenas algumas), a única conclusão a que podemos chegar é que olhar persistente, o sorriso enigmático da Mona Lisa, apesar de sua idade, continua a seduzir a multidão e a fascinar os mais desprevenidos. Uma pintura inestimável, símbolo do maior museu do mundo e de um grande e talentoso artista.

Parabéns, Leonardo!
Parabéns, Mona Lisa!
Bela