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24 janeiro 2007

Das mentiras que contaram para mim


Enganar crianças sempre foi muito fácil, e os adultos sempre se utilizaram desse artifício para evitar responder perguntas embaraçosas, revelar verdades ainda “não apropriadas” à idade de seus rebentos, ou simplesmente para induzí-los a fazer sua vontade sem perder tempo em longas explicações.

Minha avó, por exemplo, me dizia que eu devia comer bastante verduras para que meus olhos ficassem verdes. E tudo isso para não ter que me explicar que as verduras são ricas em vitamina A e C, ferro, potássio, e que isso faria um bem danado para minha saúde... Ela também dizia que dormir de cabelo molhado fazia o nariz apodrecer, mas não me perguntem de onde ela tirou isso, eu só sei que eu acreditava piamente em tudo o que ela dizia.

Meus pais também já me enganaram de uma maneira bem sarcástica: aproveitaram-se da minha ignorância para se livrar de um pequeno problema e ainda rir às minhas costas.

Aos quatro anos de idade eu já manifestava sinais evidentes de hipocondria precoce. Era só me pedir para cantar uma música numa hora em que eu não estava afim que eu logo respondia: “ah, não, tô com febre” e sempre que eu era compelida a fazer algo que eu não queria (como ir à escolinha, por exemplo), eu aparecia com uma misteriosa dor de cabeça.

Então, meus pais me apresentaram ao Placebo, segundo eles, o melhor remédio do mundo. Assim que eu começava a reclamar de dor de cabeça, lá vinha o Placebo: um grande copo de um líquido esbranquiçado, ligeiramente adocicado, e que curava qualquer dor e febre quase que instantaneamente.

Quando tive idade suficiente para descobrir o significado da palavra “placebo”(muito antes de me empolgar com a banda batizada com este nome), meus pais confessaram que o remédio milagroso era apenas água com açúcar. Me vinguei dos anos de enganação apresentando o Placebo à minha irmã, só que para ela era água com sal! Doce vingança...ou melhor, salgada!

Outra enganação na qual eu acreditei foi que meu pai já foi um dos Menudo. Na época da febre dos garotos, ele me contou que já fez parte do grupo de adolescentes, e que teve de sair quando ficou mais velho. E eu, inocentemente, ainda contava essa fábula às minhas amiguinhas!

Hoje, já passei da idade em que posso ser passada pra trás facilmente, e chegou a minha vez de poder enganar as criancinhas. Mas, ao contrário do que eu imaginei quando comprovei empíricamente que comer quilos de alface não tornaria meus olhos verdes, cheguei à conclusão de que os adultos não fazem isso por maldade ou simplesmente para manipular as crianças.

Descobri isso quando meu priminho me perguntou:

Por que é assim: fica de dia, depois fica de noite?

Eu respondi: porque a gente tem que dormir, ué! Imagina se você ia conseguir dormir com o sol na sua cara???

Pode não ser a melhor explicação, mas pelo menos é a mais conveniente...
Bela.