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26 fevereiro 2007

Que atire a primeira pedra...

Diz-se que lá pelos idos de 380 anos depois de Cristo o teológo e monge grego Evagrius de Pontus fez uma lista de oito crimes e "paixões" humanas: gula, luxúria, avareza, melancolia, ira, acedia (preguiça espiritual), vaidade e orgulho, os quais acreditava ficavam piores à medida que se tornavam mais egocêntricos.
Após vários papados que discutiram sobre o tema e a atuação de vários teológos como São Tomás de Aquino, os sete pecados capitais hoje são: gula, avareza, orgulho, luxúria, preguiça, ira e inveja.

Mas minha intenção aqui não é discutir teologia, e sim pensar no conceito de "pecado", que me parece desatualizadíssimo, para não dizer obsoleto. Inclusive, hoje em dia parece que ficou mais difícil resistir a eles, e, com certeza, a mídia exerce um papel fundamental quando se trata de exaltar as características tão humanas que deram origem aos denominados “pecados”. De fato, comerciais, propagandas publicitárias, filmes, novelas e até mesmo os livros os mostram como algo aceitável! De acordo com eles, parece até normal ter inveja do carro novo do vizinho, escolher seu par com base única e exclusivamente na beleza física, ter como objetivo de vida a aquisição de bens materiais, por vezes supérfluos e inúteis, apenas a título de ostentação.

Pessoalmente, eu não me apego à definição clássica de “pecado”, incondicionalmente ligada à religiosidade. Acredito sim, que há atitudes condenáveis, mas a gravidade destas deve passar apenas pela nossa consciência, que é a única medida do nosso conhecimento e dos nossos valores. Apenas quando agimos em desacordo às nossas próprias convicções é que poderemos nos sentir culpados e angustiados, e assim já sofremos os efeitos do “pecado”, que nada mais é do que a “consciência pesada”.

Não há como negar que a natureza humana é dúbia, capaz de atos louváveis e outros deploráveis. Por isso mesmo os sentimentos ruins, as atitudes lamentáveis, os erros e os equívocos são comuns no dia a dia, e fazem sim, parte necessária do nosso engrandecimento e maturidade pessoal.

Que atire a primeira pedra quem nunca cometou os seguintes "pecados":

Gula
Comprou o pipoca grande no cinema só porque a diferença de preço entre a média e a grande é mínima... e comeu o pacote inteiro!
Acredita que comer a caixa inteira de bombons de uma vez só é menos prejudicial para o regime do que comer um bombom por dia...
Pegou escondido um pedação do ovo de páscoa do seu irmão só pra não abrir um dos seus.
Avareza
Re-utilizou uma folhinha de faixa azul.
Pagou meia no cinema fingindo ser estudante.
Tentou “raspar” o verso do cartão telefônico porque diziam que ele daria mais crédito (Não sei se todo mundo vai lembrar dessa, mas foi uma lenda urbana que circulou em BH nos anos 90).
Cobiça
Nem achou o carro novo do seu vizinho “tão bonito assim”.
Pensou que ficaria bem melhor do que a sua amiga no vestido novo que ela comprou.
Ira
Esmurrou o computador quando ele travou. Almaldiçoou o seu provedor de Internet pela lentidão da conexão, a TV a cabo por estar fora do ar, a companhia telefônica pela falta de sinal, o Banco pelo seu saldo em vermelho, etc.
Luxúria
Ficou o dia todo deitado(a) com seu amor, com a desculpa de que a vista da janela era linda...
Se encantou com um belo par de olhos verdes.
Orgulho
Tentou colocar a culpa no seu colega ou estagiário pelo prazo que não foi cumprido, pelo trabalho que não foi entregue, pelo serviço que ficou malfeito.
Não deu o braço a torcer quando achou no meio das suas coisas o CD que você acusou sua irmã de não devolver. E escondeu-o no meio das coisas dela.
Preguiça
Jantou danoninho para não ter que lavar louça.
Jogou papel na rua porque não tinha lixo perto.
Ficou pendurado nos programas de mensagens instantâneas(msn, orkut), jogos interativos e eventos de esportes ao vivo no ambiente de trabalho, fugindo das suas obrigações.

E por aí vai...

Mas não são esses "pecados" quase inocentes, ínfimos, no meio das atrocidades que vemos por aí? Podemos ser julgados por eles, que não prejudicaram ninguém(direta e gravemente), quando no máximo, nós mesmos?

Será mesmo a consciência a medida de todas nossas ações? Porque eu também não acredito que a consciência de alguns criminosos deva doer muito... Mas aí estou fugindo um pouco do assunto.

Enfim, prezado leitor, se você não é culpado por nenhum "pecado", não se aflija, pois, como diz um sábio amigo meu: todo Santo tem um grande passado, e todo pecador, um grande futuro.

Afinal, somos humanos, e apenas isso, HUMANOS...

Bela