(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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21 maio 2008

Vale à pena ler de novo

O post de hoje é um pequeno conto, publicado neste blog em 27 de julho de 2007... Nunca é tarde para ler de novo.

TATO E LINE

em...

:. As melhores surpresas .:

17:30h, no ponto de ônibus. Line sai do trabalho aliviada por não ter ficado nem um minuto a mais, e posta-se a esperar o Circular 01 – Contorno, para voltar para casa. Posta-se de costas pro passeio, de pé, olhando em direção ao outro lado da rua, onde pessoas pedalam bicicletas sem sair do lugar, dentro de uma sala fechada com luzes de boate: spinning in door, na Academia Corpo em Forma. Pensa rapidamente que está cansada demais de tudo pra aguentar uma ginástica destas após o trabalho.

Tato chega com sua mochila. Encabulado e exausto, toca no ombro de Line e sorri com os olhos:
- Oi... – Ele diz, meio sem jeito... Sem saber o que dizer, o “Oi” com voz embargada foi a única coisa que ele conseguiu proferir.

Line se vira assustada, e se espanta mais ainda ao ver Tato bem ali na sua frente. O abraça imediatamente, dando-lhe um beijo estalado no pescoço, próximo à orelha. Sente seu cheiro, escondido atrás dela, próximo do cacho de seus cabelos castanhos: shampoo de camomila, sabonete neutro, cravo, canela, homem. Os mesmos cheiros que ela sentira em seus livros, seu quarto, suas cartas. Ela se lembrava...
- Ahhnn? Como assim? Não acredito que está aqui! – Exclama, deixando transparecer uma alegria incontida em seu tom de voz.

As bochechas rosadas dele não a deixam enganar, corado de timidez e felicidade, tudo ao mesmo tempo. Traz ainda um envelope murcho em sua mão molhada de suor, ansiedade que ele tenta disfarçar.
- Vim te ver... E te entregar... isto. – Estende a mão com o envelope em direção a ela, ainda encabulado, fita o chão.

Line procura seus olhos e toma o envelope. Ele levanta a cabeça e a encara, respirando fundo. Com a outra mão, ela segura a mão livre dele, gelada. O abraça novamente, emocionada. Carinhosamente, ele toca seus lábios num beijo doce e leve. Ela sempre adorou o jeito meio sem jeito que ele a beijava quando não sabia o que fazer.

Agora ela olha para o envelope.
- Está meio vazio isso aqui, heim? – Ela percebe que o envelope amarelo, apesar de aberto, estava endereçado a ela. Dentro, vê um pequeno bilhete e um selo.
- É a resposta de sua carta, Line... – Tato diz, com convicção. Ele sabia que ela reagiria desta forma, já estava acostumado com seu jeito direto de dizer as coisas, sem papas na língua. Ele gostava daquilo, pois sabia que ela era incapaz de mentir.
- Sério? Poxa, eu escrevo 11 páginas procê, e cê me responde com apenas um bilhete e um selo? – Diz ela sorrindo, com um tom de comédia na voz, só pra provocá-lo...

Ele solta sua gargalhada característica, não cai nas provocações dela, apesar de adorar aquele jeitinho meio bravinho e brincalhão que só ela possuía. Ele a entendia e adorava!
– Não, Line: o bilhete, o selo, e EU, né? – Responde ele, apertando-a novamente contra seu peito. Os dois sorriem.

Ela finalmente retira o bilhete de dentro do envelope, dobrado ao meio. Abre e vê a foto dos dois, do último encontro, impressa em branco e preto. Embaixo, a letra dele, cuidadosamente grafada com caneta de tinta preta:

AS MELHORES SURPRESAS SÃO AS QUE VÊM DO CORAÇÃO.

***

Ana.
Photo by: -gadgetgirl-