Decrépitos, feios, sujos, leprosos, carregadores, catadores, maltrapilhos, mendigos, moradores de rua, periféricos, mancos, discriminados, renegados. A caminho da rodoviária, vejo-os todos, em seus trapos, carros de tração nas duas pernas.
Cobertor paraíba e travesseiro de pedra, em seu papelão de abrigo... Do frio, da noite, do mundo. O mesmo que os rejeita, engole, regurgita e cospe, num gozo capital, da capital da mina geral, do ouro das entranhas minerais, de esgotos e galerias pluviais, habitam as ruas junto aos ratos e gatos noturnos. Seres soturnos, calados, impávidos e obsoletos, criaturas de carros limpos e vidros fechados, passam também.
Seguem seus caminhos, ignorando-se mutuamente, todos: decrépitos, feios, sujos, leprosos de mentes, pensamentos e idéias, que atravessam a vida de coquetéis e ternos Armani, (ul-)trajes a rigor e convites formais.
Sem olhar pra trás.
Ana.
(texto e foto)
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