Se até o espelho tem duas caras, o que dizer do Valete de Ouros? Num pé só, pula do cavalo e oferece bebida ao Rei.
O bispo, horrorizado, assiste a tudo de camarote em sua torre, uma taça de espumante na mão a delirar. Sonha mundos com tapetes voadores, donzelas inocentes e anjinhos a rezar. Os mesmos que hoje em dia trabalham como peões, em tabuleiros e plantações. Erguem tijolos sobre espadas, plantam flores entre os paus. Estacas que escalam copas e servem doce-de-leite ao jantar.
Uma canastra em forma de queijo da serra se posta, meia-cura, em cima d'uma emperiquitada Lua. Derrete-se em gotas puxa-puxa pelo Sol, o mesmo que nos aquece e queima os ralos belos cabelos castanhos da Rainha, envolta em manto azul aveludado com brocais. Nem percebe a fumaça a subir, de tão boba, esnobe a cacarejar empoleirada no seu canto, contando vantagem até a saliva viscosa babar. Mas não passa de dama matreira, donzela faceira que, de tanto pular, de galho em galho, há muito já se esqueceu o que é amar.
E o valete agora, onde está? Com o Coringão, a passear. Sozinhos nada podem fazer, mas se encontrarem uma rapariga num altar de Santo Antônio a rezar, nesta colarão até que alguém os mande soltar.
Parado como um dois de paus, pasta um cavalo com o porte de um ás. Já fora um garanhão, mas hoje nem pode sonhar. Abana o rabo prum mosquito, que pede pra pousar. Um pouco de companhia é de grande valia, minutos antes de cagar a escória do mundo atrás da moita, ou na água do mar.
Ana.
O bispo, horrorizado, assiste a tudo de camarote em sua torre, uma taça de espumante na mão a delirar. Sonha mundos com tapetes voadores, donzelas inocentes e anjinhos a rezar. Os mesmos que hoje em dia trabalham como peões, em tabuleiros e plantações. Erguem tijolos sobre espadas, plantam flores entre os paus. Estacas que escalam copas e servem doce-de-leite ao jantar.
Uma canastra em forma de queijo da serra se posta, meia-cura, em cima d'uma emperiquitada Lua. Derrete-se em gotas puxa-puxa pelo Sol, o mesmo que nos aquece e queima os ralos belos cabelos castanhos da Rainha, envolta em manto azul aveludado com brocais. Nem percebe a fumaça a subir, de tão boba, esnobe a cacarejar empoleirada no seu canto, contando vantagem até a saliva viscosa babar. Mas não passa de dama matreira, donzela faceira que, de tanto pular, de galho em galho, há muito já se esqueceu o que é amar.
E o valete agora, onde está? Com o Coringão, a passear. Sozinhos nada podem fazer, mas se encontrarem uma rapariga num altar de Santo Antônio a rezar, nesta colarão até que alguém os mande soltar.
Parado como um dois de paus, pasta um cavalo com o porte de um ás. Já fora um garanhão, mas hoje nem pode sonhar. Abana o rabo prum mosquito, que pede pra pousar. Um pouco de companhia é de grande valia, minutos antes de cagar a escória do mundo atrás da moita, ou na água do mar.
Ana.
(Texto e foto.)
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