E se a vida começa agora, o passado foi um ensaio.
Marionetes esquecidas num palco de dor e cor. Vimos brilhos e luzes, vestidos, pétalas de cor. Mas não estávamos vivos: manequins de vitrines sem coração... Não conta.
E se o ano começa agora... um, dois e... já!
(Aguardo acontecer.)
Tudo permanece igual, intocado. Ciscos de poeira pairam sob os raios da lâmpada halógena, acima de nossas cabeças. Nem um pio. Nenhuma alma. Apenas um cachorro molhado me encara, com ar de abandono. Cheira a beirada do vidro, e o focinho molhado encontra só cimento frio. Eu, impassível. O canino faz um muxoxo, franze as orelhas e crocita desesperado. Nada. Olha em torno, olhos de gato rompem o silêncio. E lá vai ele, se distrair com novas aventuras.
Sinto um cheiro doce inebriante. Será este o cheiro do mel? Algo coça meu nariz... Atchim! Pimenta, só pode ser. Um movimento em falso, dispara o alarme. Manequins também querem viver! Não apenas brincamos de faz-de-conta-que-é-assim.
Temperamos o foundue de nossas roupas com a mistura de sonhos e pulsos vibrantes. E a luz que cega a noite tromba em outros pés e outros cheiros. Tropeço por várias vezes, desacostumada a caminhar.
Será que viver é assim?
Cair, levantar?
Ensaiamos o futuro, vivemos no passado.
E o presente, sempre ausente, cai como um raio.
Relâmpago chega e já foi.
E se a vida começa agora...
Ana.
Marionetes esquecidas num palco de dor e cor. Vimos brilhos e luzes, vestidos, pétalas de cor. Mas não estávamos vivos: manequins de vitrines sem coração... Não conta.
E se o ano começa agora... um, dois e... já!
(Aguardo acontecer.)
Tudo permanece igual, intocado. Ciscos de poeira pairam sob os raios da lâmpada halógena, acima de nossas cabeças. Nem um pio. Nenhuma alma. Apenas um cachorro molhado me encara, com ar de abandono. Cheira a beirada do vidro, e o focinho molhado encontra só cimento frio. Eu, impassível. O canino faz um muxoxo, franze as orelhas e crocita desesperado. Nada. Olha em torno, olhos de gato rompem o silêncio. E lá vai ele, se distrair com novas aventuras.
Sinto um cheiro doce inebriante. Será este o cheiro do mel? Algo coça meu nariz... Atchim! Pimenta, só pode ser. Um movimento em falso, dispara o alarme. Manequins também querem viver! Não apenas brincamos de faz-de-conta-que-é-assim.
Temperamos o foundue de nossas roupas com a mistura de sonhos e pulsos vibrantes. E a luz que cega a noite tromba em outros pés e outros cheiros. Tropeço por várias vezes, desacostumada a caminhar.
Será que viver é assim?
Cair, levantar?
Ensaiamos o futuro, vivemos no passado.
E o presente, sempre ausente, cai como um raio.
Relâmpago chega e já foi.
E se a vida começa agora...
Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia.)
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