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17 agosto 2005

Modos de FalaRRR

* Novo endereço do Mineiras, uai! www.mineirasuai.com *

O texto que vou postar hoje, mais uma vez, não é “meu”. Encontrei-o no espetacular Balaio de Minas, um site muito completo sobre coisas que rolam em Minas Gerais,
publicado pelo jornal “Revelação”, do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba, Minas Gerais, Brasil.

O título original do texto é “O linguajar uberabense”, mas não posso deixar de lembrar daqueles nossos vizinhos mineiros não só de ‘BeRaba, mas também de ‘BeRRRRRlândia, ARaguaRi, VaRRRRginha, Nova Era (leia-se Nóvah Érah) além, é claro, dos nossos caríssimos amigos paulistas de AmeRicana, São BeRRRRnardo do Campo, PiRacicaba, LimeiRa... etc e etc... Foi por isto que tomei a liberdade de modificar um pouco o texto, inclusive acrescentando algumas expressões e modos de falar...

Muitos podem até não saber, mas o “idioma” falado em BH é um misto de todos os “dialetos” falados no interior de Minas... Herança de uma capital nova (cento e poucos anos apenas), que se formou com o povo de todo canto que por aqui veio se instalar em busca de mais riqueza, emprego, etc. Sendo assim, muitos dos leitores “belorizontinos” que lêem este blog identificarão de imediato as mais diversas expressões que constam neste texto. Bem como os leitores “estrangeiros” (de outros estados, países) se surpreenderão ao encontrarem, aqui, a explicação para várias expressões que já se alastraram pelo país!

O MINEIRÊS

O idioma falado em Minas, principalmente em “Belzonte”, “Beraba” e “Berlândia”, é um misto de português e dialetos paulistas, goianos, mineiros, baianos e candangos (o nome por que são conhecidos os imigrantes pobres oriundos do Nordeste do Brasil). O turista que precisa iniciar um primeiro contato deve ficar atento às expressões peculiares desta salada linguística, pois corre o risco de não entender nada! Mineiros nativos, habituados a este curioso linguajar, normalmente não percebem as inusitadas e interessantíssimas combinações vocabulares.


Eis, então, algumas dessas curiosas expressões bastante populares usadas por estudantes e habitantes deste estado brasileiro… “atípico" do ponto de vista lingüístico (ou não seria “típico”, tendo em vista que cada estado tem uma maneira peculiar de falar o nosso bom e velho português?):


«De jeito maneira!»


Mais que “de jeito nenhum!” ou “de maneira nenhuma!”, há o superlativo “de jeito maneira!”. Nessa expressão está embutida uma negativa irreversível. De jeito maneira! é pior do que nunca, jamais; é uma hipótese fora de qualquer rascunho de possibilidade; nem em delírios, nem em sonhos é admissível o que foi condenado ao de jeito maneira! É uma negativa do estilo “necas de pitibiribas”.

Exemplo:
- Vem cá chuchuzinho, cê é gatinha demais! Me dá um beijo!

- De jeito maneira!


A expressão “De jeito maneira!” equivale à “Nem que a vaca tussa!”. Como qualquer mineirim sabe, apesar de existirem muitos fenômenos inexplicáveis neste mundo, é muito raro a ocorrência de tosses em vacas. Não podemos dizer que a vaca não tosse “de jeito maneira” (nunca se sabe), mas que é difícil, isso é. Quando se deseja reforçar ainda mais a negativa, é possível dizer, ainda, “Nem que a vaca tussa e o boi espirre!”.


Outra expressão equivalente é “você está é besta!”, normalmente expressada da maneira condensada “Cê tá é besta!”, ou da forma ultra-reduzida “Cê besta!”.


Exemplo:
- Vamos chuchuzinho, só um beijinho!

- Cê besta!


«Aí eu peguei e falei»


A expressão “Aí eu peguei e falei” é uma tentativa de materialização do verbo, busca a tangibilidade do conceito. Indivíduos que têm dificuldade no trato com símbolos abstratos – como a palavra –, tentam concretizá-las para pegá-las com as mãos e, aí sim, ter certa segurança sobre o assunto em questão. A abstração verbal parece insuficiente, o sujeito não é capaz de provar a veracidade da informação através de argumentação lógica, imaterial. Em vista disso, transforma a idéia em objeto – única maneira encontrada para dar consistência à elaboração intelectual.


Exemplo:
- Aí ele me falou que não ia me dar um presente. Aí eu peguei e falei, então tá, eu não queria mesmo!


«Virgem Maria e Nossa Senhora!»


Desde a pregação dos jesuítas, somos um povo que adquiriu muito do linguajar católico. Quando ocorre um infortúnio qualquer, é quase instintivo apelarmos para santos, anjos, o próprio Deus, etc. Uma das santas mais requisitadas é Maria, mãe do Homem, considerada virgem. Daí o apelo à “Virgem Maria!”. Essa invocação é feita há séculos, mas foi se desconstruindo com as corruptelas naturais da língua, até chegar ao ponto em que chegou. Se um sujeito perde um ônibus e diz “xíííí”, ou “ííííííí”, na verdade está clamando por Virgem Maria. Acompanhe as sucessivas desconstruções que levaram à versão mínima da expressão da Santa:

«Virgem Maria!» - «Virgem!» - «Virgi!» - «Vígi!» - «Víxi!» - «Íxi!» - «Xi!» - «Iíííí» - «Chhhh». (Este último trata-se de um ruído bucal, imitando um sal de fruta fervendo num copo d'água)


Exemplos:

- Ai ai ai, meu marido está chegando!

- Íííííííí...


- Acho que esqueci sua cueca na sala!

- Xiiiii...


Construções mistas também são usuais, como «Vixi Maria» ou «Íxi Maria». Curiosamente, não se usa «Íiii Maria», mas é normal o «Íííí Jesus», ou «Íiiii meu Deus do céu». Trata-se de dupla proteção.

(Também são encontradas interjeições com funções análogas, mas que foram tão modificadas que é difícil identificar sua procedência. Ex: «Vapo!» - «Vúti!» - «Vasco!». A expressão «Vaaapo!», assim como a «Hêêêênfo», podem ter origem em palavrões populares.)


*** Eu heim? Nunca ouvi falar nestes dois... Alguém aí que é de ‘Beraba ou ‘Berlândia poderia me explicar?


Da mesma forma, a invocação a «Nossa Senhora!» sofreu suas corruptelas. Acompanhe: «Nossa Senhora» - «Nossa!» - «Nó!» - «Nú!».


Exemplos:
- Você viu? Ele foi pular a cerca e quebrou o braço!

- Nóóó!

- E aí o boi deu uma chifrada nas costas dele!

- Nú!

(Aqui também encontram-se expressões com o sentido similar. Ex: «Nusga!» - «Nííí!»)


Saudações

Há um variadíssimo cardápio de expressões que, curiosamente, podem ser utilizadas como saudações em qualquer contexto social. Contentemo-nos com a descrição de alguns.
Saudações que indicam agradável surpresa:

«Êpa!» - «Ôpa!» - «Ôua» - «Ôp!» - «Ó o cara aí!» - «Ó o cara!» - «Úa!» - «Iôôôu!» - “Ê aê?”

Saudações que indicam cordial preocupação com o bem-estar alheio:


«Bão?» - «Certim?» - «Beleza?» - «Belê?» - «Firme?» - «Firme e forte?» - «Chique?» - «Chique no úrtimo?» - «Que cê conta?» - «Que tá pegando?».


Saudações que indicam satisfação por ver o amigo tranqüilo:


«Só de boa?» - «Ê beleza, hein?» - «Só na maciota?»


Saudações de duplo sentido:


«Pega na minha!» - «Segura e balança!».


(Evidentemente, a maior parte destas expressões não quer dizer nada: cumprem também a função fática da linguagem).


Expressões diversas

Há ainda aquelas expressões utilizadas pelos mineirins que têm a função de economizar palavras, e é claro, o tempo gasto para se falar, como, por exemplo:

“bádacama” = embaixo da cama

“dendapia” = dentro da pia

“oncotô?” = Onde é que eu estou?

“oncêvai?” = Onde é que você vai?

“ondé” – Onde é?


- "Ó pucê vê?"

Bem, por hoje é só! Se alguém tiver alguma sugestão para completar ainda mais esta lista, esteja à vontade em nossos comentários!


Abraços a todos,


Ana Letícia.


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