(*) Burning Sky - Belo Horizonte/MG - Photo, Art: Ana.
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10 agosto 2007

Judite e o Toco

Coisas pitorescas ocorrem em todas as famílias... Mas nunca vi uma tão inclinada para essas coisas quanto a minha. Teve o episódio da morte do hamster que não morreu, teve a gafe do “noivo” que meu pai cometeu outro dia num casamento, teve a história dos pintos, teve meu avô que sumiu no meio do mar de Iriri... Ah... São tantas coisas que nem dá pra contar aqui sem escrever um livro, sem exageros.

É claro que ter um irmão veterinário, com vocação para cientista, ajuda muito para que tais acontecimentos esdrúxulos ocorram com mais freqüência. Afinal de contas, quem, além dele, é que teria disposição para passar as noites em claro fazendo experiências com o casal de hamsters (mamíferos de hábitos primariamente noturnos), até descobrir o ciclo reprodutor da fêmea, obviamente fazendo com que a mesma ficasse prenhe?

Pois agora o alvo de maior interesse de meu irmão, na faculdade, no trabalho, e pasmem, em casa, é a piscicultura. Não, meus amigos, não possuímos um tanque aqui em casa com golfinhos, arraias e tubarões, mas sim um pequenino aquário metodicamente cultivado por ele com espécies simples de peixinhos de água doce. Costumavam viver lá até dois camarõezinhos, batizados por minha mãe de Gilberto e Wellington (foto ao lado). No entanto, os mesmos foram devorados por um surubim maldito, denominado Marinho (adivinhem quem deu o nome?).

Outro dia fui entrando no carro e vi um morcego enroscado no banco do passageiro... Quase dei um grito! Encostei com a ponta da chave, e o “bicho” estava duro... Olhei mais de perto e... era um toco, de madeira mesmo, sem maldade gente, por favor. Descobri depois que meu irmão o tinha ganhado de presente de um amigo – veterinário também, óbvio - para ornamentação do aquário. Sendo assim, o dito cujo foi trazido para casa para fazer o “tratamento” do tronco, ou toco, como preferirem, para poder se juntar aos peixes e plantas aquáticas. Peraí... tratamento? Sim, meus amigos, tratamento que inclui: banho no cloro com água por 24 horas, fervuras e mais fervuras, trocas e mais trocas de água, até esta ficar limpa.

O que não sabíamos era que, após o “banho de cloro”, o tronco ficaria... BRANCO! Todos ficamos horrorizados com a feiúra do toco russo... Será que ele teria descorado? Eu heim!? Minha mãe quase morreu do coração, e foi muito aflita falar sobre isso com meu irmão. É que ela é a auxiliar de laboratório preferida dele, segue rigorosamente todas as instruções do cientista para as experiências feitas em casa.

- Calma mãe, se este toco não voltar a ser marrom, meu nome é JUDITE! - Respondeu ele, com convicção.

Sendo assim, durante uma semana o “toco cru pegando fogo” de meu irmão "Judite" foi fervido por horas no enorme balde de alumínio, no fogão daqui de casa... E não é que o tal foi voltando à cor originária? Hoje já está pretim, pretim...

E o toco acabou sendo batizado de Judite, meu irmão continuou se chamando Ângelo, e continuou colocando nomes estranhos em seus bichinhos de estimação... A nova hamster, por exemplo, chama-se "Pristica"!
É... vai entender!?

Ana.

P.s.: Brincadeiras à parte, esta história de piscicultura é coisa séria... O laboratório da UFMG é um dos mais conceituados do Brasil nesta área, meu irmão já tem vários trabalhos publicados e apresentações em congressos pelo país inteiro! É... os surubins e abadejos que se cuidem!

Fotos por Ângelo - meu irmão