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10 julho 2006

Era uma vez... (uma história de terror)

Era uma vez um menino que vivia sozinho. Não tinha pai, nem tinha mãe. Mas sua característica principal não era a solidão, era a sujeira. Não cortava os cabelos nem as unhas, que cresciam desgrenhados e imundos, causando repulsa em quem cruzava seu caminho. É óbvio que não conseguia fazer amigos, e nem a compaixão dos próximos ele atraía, pois afastava a todos com sua sujeira e mau cheiro insuportáveis.
Não, minha gente, isso não é o roteiro de uma história de terror.

O personagem acima foi criado em 1844 pelo médico alemão Heinrich Hoffmann para ilustrar o livro que escreveu para presentear seu filho de três aninhos no Natal. No original, o personagem se chamava Struwwelpeter, mas foi traduzido para o português como João Felpudo, e desde a sua criação vem aterrorizando criancinhas em todo o ocidente.

A intenção pedagógica do livro é clara: exaltar a importância da higiene e intimidar as crianças a se manterem sempre limpas e asseadas. O que é questionável, contudo, é a maneira dramática como Hoffmann insere a “moral da história” em seus livros, encenando cenas assombrosas de mutilações e morte como punição por pequenas travessuras. Enfim, os castigos desmesurados sofridos por seus personagens acabam virando humor negro, não dos mais acessíveis às crianças de tenra idade.

Mesmo assim, João Felpudo mereceu diversas traduções, inclusive uma feita por Mark Twain, o que lhe rendeu a oportunidade de chegar às bibliotecas escolares e povoar os pesadelos de inúmeras criancinhas, incluindo-me nessa lista que acredito ser bastante extensa. Até hoje João Felpudo me provoca certo pavor, para não dizer asco, e ainda tenho pesadelos com o cabeludo personagem ilustrado com garras dignas do brasileiríssimo Zé do Caixão.

E ele me dá medo. E ele não é fruto da minha imaginação como alguns tentam me convencer, mas sim da mente maligna de um médico do século XIX, e sobrevive até hoje entre nós... Isso lá é história de criança???

Olha pra ele! Olha só!

Cabelo e mãos de dar dó.
As unhas nunca cortou, cor de carvão, um horror!
Água? Nunca! Ô fedor!
E cada dia é pior!
Qualquer coisa é melhor que esse João Catimbó.
(tradução de Ângela Lago)

Bela.