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18 dezembro 2006

Meu Papai Noel

Eu devia ter uns oito anos quando decidi que o bom velhinho de roupa vermelha e barba branca não existia.

Renato, meu amigo e vizinho da mesma idade, alegava já saber desse segredo desde o ano passado, pois no dia do Natal, seu primo, um verdadeiro e abominável pestinha, ganhou uma linda bicicleta, enquanto ele, que tinha se comportado bem o ano todo, teve de se contentar com uma mísera caixinha de Lego.

"Não que o Lego não seja um presente genial", disse Renato, tentando disfarçar sua decepção, mas, decididamente o carrinho do primo era algo muito mais desejável, o sonho de qualquer garoto dessa idade. “Se Papai Noel existisse de verdade, não daria um carrinho daquele ao meu primo” concluiu (e devia estar certo, pois o menino o quebrou no mesmo dia).
Mas uma determinada hora, cansado de esconder sua decepção, Renato procurou sua mãe, chorando, para saber a razão do descaso do Papai Noel e dela recebeu a notícia de que ele não existia de verdade, que quem comprova os presentes de Natal eram os próprios pais das crianças, e que, por isso estes eram dados de acordo com as possibilidades financeiras de cada um.
A boa notícia é que Renato ficou feliz com esta explicação, pois assim ficou comprovado que ele não tinha sido mal julgado pelo Papai Noel, e curtiu sua caixa de Lego como deveria ter feito desde o início, sem perder sua fama de bom menino.

Mas eu não acreditei nessa versão dos fatos apresentada por Renato, e queria comprovar pessoalmente que o velhinho barbudo e barrigudo não existia. Assim, me preparei para dormir debaixo do pinheiro na noite de Natal, e conferir quem é que deixava os presentes lá.

Minha mãe arrumou minha cama no sofá, naquela noite, e eu me deitei, acreditando que conseguiria me manter acordada até a hora em que os presentes deveriam “aparecer”. Mas o inesperado aconteceu, e eu dormi...
Abri os olhos de mansinho, e eles estavam lá, embrulhados em papel brilhante e fitas coloridas, debaixo das luzinhas pisca-pisca do pinheiro.

Levantei com um pulo e fui tirar minha irmã da cama.

Na maior algazarra, estávamos as duas abrindo os presentes, rasgando furiosamente os embrulhos e espalhando as fitas e os papéis pelo chão, admirando ruidosamente nossas Barbies, walkmans, etc. quando ouvimos um murmúrio vindo do quarto dos nossos pais.
No minuto seguinte, meu pai entrou na sala, de pijama amassado e com uma inconfundível cara de sono, e, com a voz que normalmente era reservada para as broncas, disse:

-“Olhem que horas são!

Me virei para o relógio na parede e constatei, espantada, que eram apenas três horas da manhã.

Papai sorriu e nos abraçou.
E eu descobri que Papai Noel existe sim, mesmo que ele não use roupas e gorro vermelho e não ostente longas barbas brancas.
Bela