A minha mais antiga lembrança de Natal remonta às ceias organizadas em família, na qual eu e meus priminhos disputávamos as asas do Peru a tapas enquanto esperávamos, inquietos, a chegada do Papai Noel à meia noite. Acontece que tudo isso perdeu muito o charme quando descobrimos que o esperado bom velhinho era ninguém menos que o tio Zé, que, apesar de um tanto magrela para a fantasia, só foi descoberto quando sua barba de algodão caiu estatelada em cima do sofá.
Depois disso, o Natal perdeu um pouco de sua alegria. Algumas pessoas queridas se foram, deixando no ar a saudade de suas risadas; o Papai Noel, após perder sua dignidade, nunca mais nos visitou; e, enfim, e eu meus priminhos crescemos, o que culminou numa ceia sem crianças para alegrar o ambiente.
Hoje em dia a ceia de Natal se resume a um jantar caprichado entre adultos prontos para se empanzinar, e um amigo-oculto sem graça de presentes esperados e obsoletos.
Enfim, encontro-me no “limbo” do Natal: grande demais para esperar o Papai Noel, mas ainda não tão “grande” para ser o Papai Noel de alguém.
Por isso não me desespero se ainda não consegui fazer germinar novamente a pequena semente de espírito natalino que teima em permanecer infértil dentro de mim. Eu sei que ela existe e está escondida em algum cantinho por aqui, mesmo que eu ainda não a tenha encontrado...
Bela
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