O desespero tomou conta de mim: não sei o quê escrever, sobre o quê falar, nada, nada, nada. Não quero falar de política, quanto menos redigir um monólogo sobre o dinheiro.
Preciso trabalhar, mas a chatice de todos os assuntos não me permite criar uma interpretação interessante e estimulante. As coisas se tornam monótonas, lentas, paralizadas, sem cores, sem vida, sem nada.
O vazio tomou conta de mim, como o vento chegou e varreu um horizonte belo... No entorno, destruição, queimadas, desabrigo, desatenção, desestímulo. Lágrimas secas que deixam vestígios de sal na fronte modificada, refletindo o brilho solar de um astro em decadência quando o ser clama por ele.
Deixo a cabeça pender para trás e respiro fundo...
Expiro de uma só vez. Abro os olhos e nada mudou.
Preciso de... Inspiração.
"Um encantamento, cuja tensão monstruosa se dissolve numa torrente de lágrimas, no qual o passo ora toma de assalto, ora se torna vagaroso, involuntariamente; um estar-fora-de-si completo, com a consciência mais distintiva de um sem-número de tremores e transbordamentos finíssimos, que são sentidos até os dedos dos pés; uma profundidade venturosa, na qual o mais dolorido e o mais sombrio não têm efeito de antítese, mas sim de condição, de desafio, como se fosse uma cor necessária no interior de uma tal abundância de luz; um instinto de relações rítmicas, que cobre vastos espaços - a longitude, o desejo de um ritmo estendido ao longe é quase a medida para a força da inspiração, uma espécie de equilíbrio contra sua pressão e sua tensão...
Tudo acontece, no mais alto grau, de maneira involuntária, mas como se fosse um tempo de sentimentos de liberdade, de incondicionalidade, de potência, de divindade...
Tudo se oferece como se fosse a expressão mais próxima, a mais correta, a mais simples...
Todas as coisas vêm acariciantes em busca do teu discurso e te adulam... Tudo o que é ser quer se tornar palavra, tudo o que é vir-a-ser quer aprender a falar contigo.
Esta é a minha experiência da inspiração; não duvido que se deva remontar séculos para achar alguém que me possa dizer: é todavia a minha."
(Friedrich Nietzsche - Assim Falou Zaratustra)
Não tenho nada a ensinar, nada a dizer. Tenho muito a aprender...
Ana.
Ps.: Ilustração encontrada em Letras ao Vento, pelo Google Imagens.
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